A liturgia como campo de batalha: entre a memória dos santos e o teatro do modernismo

Diário de um Católico na Contrarrevolução – Parte 14
Vivemos tempos em que a guerra pela alma da Igreja não se
trava apenas nos livros de teologia ou nos discursos episcopais: ela se
desenrola diante dos nossos olhos, no altar, no incenso ou na sua ausência, no
silêncio sacral ou no microfone ruidoso. A liturgia, outrora coração pulsante
da vida católica, tornou-se o palco da maior disputa do nosso tempo. Não é
exagero dizer que, quem dominar a liturgia, dominará o destino da Igreja. Pois
onde está a Missa, ali está a fé. E onde a Missa é deturpada, a fé se dissolve
como neve ao sol.
Quando entramos em uma igreja tradicional, sentimos algo que
não depende de opinião: as pedras falam, os vitrais pregam, o silêncio
evangeliza. É como se a história inteira da Igreja respirasse naquele espaço. O
Santo Cura d’Ars dizia que uma paróquia sem a Missa é um corpo sem alma. Pois
bem, a Missa de sempre é a alma da Igreja: ela formou santos, alimentou
mártires, sustentou mosteiros, converteu povos.
E, no entanto, em muitas paróquias modernas, vemos outra
cena: um altar transformado em mesa de assembleia, um coro que mais parece
banda de casamento, ministros improvisados em trajes civis, e homilias
reduzidas a slogans sociais. É como se a liturgia tivesse sido sequestrada pelo
espírito do mundo. O altar do sacrifício converteu-se em palco de espetáculo. O
sacerdote, outrora pontífice que sobe ao Calvário, tornou-se animador
comunitário.
O modernismo litúrgico, filho dileto da Revolução, não se
contenta em reformar: ele destrói para reconstruir à sua imagem e semelhança.
Onde antes se falava em sacrifício propiciatório, hoje se fala apenas em
banquete. Onde havia temor e reverência, hoje se repete a palavra “participação
ativa” como um mantra. Mas participar da Missa não é bater palmas, nem carregar
cartazes, nem dar opiniões: é unir-se, em silêncio e devoção, ao sacrifício de
Cristo.
Tomemos os santos como exemplo. São Pio de Pietrelcina
passava horas em lágrimas diante do altar, consumido pela mesma Cruz que se
renovava no Santo Sacrifício. Santa Teresinha, no Carmelo de Lisieux, oferecia
suas pequenas dores unindo-as à Hóstia consagrada. São Tomás de Aquino afirmava
que a Missa vale mais que todas as orações e obras dos homens juntos, porque é
Cristo que age nela. Nenhum deles precisou de microfone ou coreografia para
“participar ativamente”.
O que se chama hoje de “inculturação” é, na verdade, um
empobrecimento. Não se trata de traduzir o Evangelho às culturas, mas de
dissolver o Evangelho dentro delas. Como se a Missa tivesse que se adaptar ao
homem moderno, e não o homem moderno se converter ao mistério eterno. É a
inversão típica da Revolução: não mais Deus no centro, mas o homem.
Enquanto isso, vemos fiéis simples, famílias inteiras,
viajando dezenas de quilômetros para encontrar uma Missa Tridentina. Jovens,
cansados do vazio, descobrem no canto gregoriano e no latim uma beleza que
jamais haviam experimentado. Não são “nostálgicos”, como se acusa, mas filhos
da Igreja que redescobrem a fonte da vida espiritual. A Missa tradicional não é
um museu: é um farol. Ela não pertence ao passado, mas ao Céu, porque o
Sacrifício do Calvário é eterno.
E, de outro lado, vemos o drama de dioceses que perseguem
tais fiéis, tratando-os como suspeitos ou sectários, como se amar a Tradição
fosse um crime. Padres jovens são advertidos, comunidades inteiras
marginalizadas. Tudo porque ousam celebrar como a Igreja sempre celebrou. É a
ironia dolorosa: o rito que sustentou santos e mártires por séculos agora
precisa de “permissão especial” para existir.
O campo de batalha está diante de nós. Não é apenas uma
questão estética ou de gosto: é uma questão de fé. Defender a Missa de sempre é
defender a própria identidade católica contra o esquecimento modernista. Não se
trata de nostalgia, mas de esperança. Não de revolta, mas de fidelidade.
A contrarrevolução, hoje, começa de joelhos diante do altar,
voltados para Deus e não para nós mesmos. Se quisermos resistir ao turbilhão
que arrasta a Igreja, precisamos beber da mesma fonte que sustentou os santos:
a liturgia sagrada, perene, imutável em sua essência.
Pois, no fim, a Igreja não será salva pelos aplausos de
assembleias nem pelos discursos do mundo, mas pelo mesmo Sacrifício oferecido
em silêncio: o da Cruz, renovado no altar. É lá, e só lá, que a verdadeira
vitória será conquistada.
Por um Católico consciente e atento ao cenário eclesial
do Brasil e do Mundo.