O Silêncio dos Altares

Diário de um Católico na Contrarrevolução — Parte 21
A Igreja de Vidro
Vivemos numa Igreja que se olha no espelho e já não se
reconhece.
As paredes de pedra deram lugar ao vidro — tudo é
transparência, tudo é diálogo, tudo é “acesso”. Mas o vidro, quando exposto ao
tempo, não resiste: ele racha. E é exatamente isso que estamos vendo — uma fé
rachada, um altar que tenta agradar o mundo enquanto o Céu observa em silêncio.
O modernismo não chega como um trovão; ele se infiltra como
um perfume falso. Trocou-se o incenso pela fumaça do “espírito do tempo”, e
muitos, inebriados, chamaram isso de Pentecostes. Os novos apóstolos são
gestores, os mártires viraram moderadores, e a ortodoxia foi substituída por
uma eterna assembleia de opiniões.
Mas há uma coisa que o modernismo nunca compreendeu: a
Tradição não é um museu — é uma herança viva. É o sangue que corre de Cristo
até nossos dias, passando pelos santos, pelos monges que copiavam manuscritos à
luz de velas, pelos mártires que não fizeram “diálogo inter-religioso” com seus
algozes.
A Missa de sempre, a Tridentina, não é nostalgia — é
continuidade. É o coração pulsante da fé que sobreviveu a séculos, impérios, e
até papas confusos.
O Novo Evangelho: o de “não ofender ninguém”
Padres citam psicólogos em vez de Padres da Igreja. Bispos
publicam tweets sobre “sustentabilidade”, mas silenciam diante do aborto. E
teólogos, com ternura acadêmica, explicam que “a Ressurreição talvez não tenha
sido literal”.
Como disse São Pio X — o último grande profeta
antimodernista —:
“O modernista está dentro da Igreja para destruí-la de
dentro.”
Eis o plano: mudar a linguagem, mudar a liturgia, mudar a
doutrina — mas sempre dizendo que “nada mudou”.
O resultado? Gerações inteiras incapazes de reconhecer o
sagrado, que acham que a Missa é um evento comunitário e não o Sacrifício do
Calvário.
A Missa como Resistência
A Missa Tridentina não é apenas um rito antigo — é um ato de
contrarrevolução.
Ela não agrada as massas, não se molda à plateia, não busca
aplausos. É vertical, não horizontal. Ela aponta para o Céu, não para a
assembleia.
E é justamente por isso que a odeiam.
Porque a Missa antiga recorda o que muitos prefeririam
esquecer: que a Igreja não pertence aos homens, mas a Deus.
Nos cantos gregorianos ecoa algo que o mundo moderno não
suporta ouvir — a ordem.
Uma ordem que vem do Alto, e não de comissões episcopais.
Cada palavra, cada gesto, cada silêncio é uma recusa à
banalidade litúrgica. É como se os fiéis, ajoelhados, dissessem em uníssono:
“Podem mudar tudo lá fora. Aqui, o Céu ainda é o mesmo.”
As Ruínas e os Restauradores
Sim, estamos nas ruínas. A hierarquia muitas vezes parece
uma sombra de si mesma; os santos são esquecidos, e os que os invocam são
chamados de “retrógrados”. Mas até nas ruínas floresce o lírio.
Há mosteiros que resistem, paróquias pequenas que guardam o
latim como se fosse o último tesouro, jovens que descobrem o Rosário como quem
encontra uma espada.
Esses são os verdadeiros restauradores: silenciosos, firmes,
invisíveis ao mundo — mas visíveis ao Céu.
A contrarrevolução não é uma guerra de slogans. É fidelidade
diária, ajoelhada, confiante. É rezar o terço enquanto Roma brinca de política.
É continuar o Ofício enquanto os teólogos discutem “inclusividade”. É crer
quando até os pastores duvidam.
Conclusão: O Fogo Sob as Cinzas
A Missa antiga é o facho desse fogo — discreto, mas
indestrutível.
O modernismo passará. O latim permanecerá.
Os “sábios” que riem da Tradição terão seus nomes
esquecidos; mas o nome de Cristo continuará sussurrado em altares escondidos,
no mundo todo, em silêncio.
E o silêncio dos altares — esse sim — será o rugido da
verdadeira renovação.
Por um Católico consciente e atento ao cenário eclesial
do Brasil e do Mundo.