A Verdade ou a Diplomacia?

 

Houve um tempo em que a voz dos Papas ressoava como trombeta contra o erro. Gregório XVI, em Mirari Vos (1832), denunciava com clareza o indiferentismo religioso como “delírio perniciosíssimo”. Pio IX, no Syllabus Errorum (1864), não hesitou em enumerar os principais enganos do liberalismo e do racionalismo, chamando-os pelo nome. São Pio X, em Pascendi Dominici Gregis (1907), ergueu-se contra o modernismo, “síntese de todas as heresias”, alertando os fiéis para não se deixarem seduzir por sua aparência de novidade.

Esses Papas, herdeiros de uma longa tradição, não tinham receio de serem impopulares. A verdade, para eles, era mais preciosa que qualquer prestígio terreno. Sabiam que a missão da Igreja não é negociar com o mundo, mas iluminar o mundo com a luz de Cristo. E, como todo fiel discípulo do Senhor crucificado, estavam dispostos a suportar o ódio e a incompreensão para não trair a Fé.

Contudo, com o passar das décadas e sobretudo após o Concílio Vaticano II, a linguagem oficial da Igreja mudou. Já não se ouvem anátemas ou condenações explícitas. Fala-se em “diálogo”, em “respeito mútuo”, em “colaboração ecumênica”. A palavra pecado raramente aparece; a palavra condenação quase desapareceu. A prioridade, ao que parece, não é mais proclamar a Verdade revelada, mas encontrar um ponto de convergência que evite conflitos.

É claro: o Evangelho nos pede mansidão, caridade e paciência. Mas nunca nos pede que relativizemos a Verdade. Jesus não disse: “dialogai com todas as ideias”, mas sim: “Ide e ensinai todas as nações... ensinando-as a observar tudo o que vos mandei” (Mt 28,19-20). A missão da Igreja não é harmonizar o Evangelho com o mundo moderno, mas converter o mundo à Cruz de Cristo.

Aqui está o dilema que hoje enfrentamos: a Igreja, chamada a ser luz, parece esconder sua lâmpada debaixo do alqueire da diplomacia. Muitos pastores temem mais escandalizar o mundo do que escandalizar os fiéis. Mas o preço desse silêncio é altíssimo: a fé se esfria, os erros triunfam, os católicos se confundem.

A história da Igreja mostra que cada vez que a Verdade foi abafada em nome do consenso humano, a fé do povo foi dilacerada. Mas cada vez que a Verdade foi proclamada com coragem — ainda que em meio a perseguições — a Igreja floresceu em santidade.

Hoje, portanto, é necessário recuperar a consciência de que a Verdade não pertence ao Papa, nem aos concílios, nem a nenhum teólogo: ela pertence a Cristo, que é a própria Verdade (Jo 14,6). A Igreja não é dona da Verdade, é sua serva. Se o sal perder o sabor, para nada mais serve senão para ser lançado fora e pisado pelos homens (Mt 5,13).

Não se trata de nostalgia de um passado idealizado, mas de fidelidade ao depósito da fé. O amor verdadeiro não mascara o erro: denuncia-o para salvar as almas. O amor autêntico não se cala diante do pecado: chama à conversão. A caridade sem Verdade não é caridade, mas conivência.

É hora, pois, de despertarmos. O católico que ama a Cristo deve preferir ser odiado pelo mundo do que ser cúmplice de sua mentira. Devemos recordar as palavras de São Paulo: “Se ainda agradasse aos homens, não seria servo de Cristo” (Gl 1,10).

A Igreja não precisa de diplomatas do Evangelho, mas de testemunhas corajosas que proclamem com os antigos Papas: A Verdade acima de tudo! Pois somente a Verdade liberta, e somente a Verdade conduz à vida eterna.

Por seu Irmão Carmelita Secular da Antiga Observância B.