Socos enquanto a tradição queima

Diário de um Católico na Contrarrevolução – Parte 11
Prólogo: Quando a “prudência” se torna uma mordaça
É curioso como a palavra prudência se tornou um
mantra de contenção. Não mais virtude aristotélica ou conselho de santos, mas
muleta retórica para frear a indignação legítima do povo fiel. “Seja prudente”,
dizem — mas o que querem mesmo é que você cale a boca, sorria e aceite
migalhas, enquanto a fogueira do modernismo consome os altares, os cantos
gregorianos e até a memória do sagrado.
Essa semana foi um retrato perfeito. No noticiário,
celebração de um “jubileu inclusivo”, bandeiras coloridas onde antes só
tremulavam estandartes marianos. Nos blogs oficiais, apelos à calma: não
julguem, esperem, confiem no processo. Processo de quê? Processo de
liquefação. Processo de reengenharia de consciências. Processo de transformar a
liturgia de sempre em peça de museu, apresentada uma vez ao ano, como um fóssil
cuidadosamente controlado.
E nós, filhos da Igreja, ouvimos o refrão: baixem a voz,
a Igreja já passou por crises piores. Talvez. Mas quando foi que a
prudência significou acovardamento? Quando foi que a paciência virou
cumplicidade?
Entre a passividade e o incêndio
Os porta-vozes do establishment repetem como um salmo
secularizado: esperem, confiem, sejam dóceis. O laicato que ousa
levantar a voz é logo tachado de “amargo”, “polarizador”, “sem espírito de
comunhão”. Enquanto isso, os mesmos que pedem silêncio aplaudem procissões com
slogans ideológicos que seriam anátemas em qualquer concílio antes do último.
Eis a ironia: aqueles que se dizem defensores da unidade são
justamente os que alimentam a divisão. Porque a unidade verdadeira nunca se fez
pela ambiguidade. Não foi Santo Atanásio que silenciou quando o arianismo
dominava o episcopado. Não foram Catarina de Siena ou Teresa d’Ávila que
pediram mais tempo para o “processo”. Foram vozes que feriram o ar, que
incomodaram, que chamaram o mal pelo nome.
Tomemos o exemplo recente: a autorização para uma única
Missa Tridentina em São Pedro, tratada como grande “gesto de abertura”. O mesmo
rito que fez santos por séculos é rebaixado a exibição turística, espetáculo
controlado pela mesma mão que, dias depois, reafirma o veto geral. Isso não é
concessão. É zombaria. É como oferecer um cálice de ouro para depois encher de
vinagre.
E quando críticos lembram que a fé não é negociável, ouvem: tenham
esperança, as atitudes são o primeiro passo, a doutrina vem depois. Pois é
exatamente esse o problema. É a pedagogia da ambiguidade, ensinando gerações a
acreditar que dogma é fluido, que a moral é um rascunho em eterna edição. Não
se altera o catecismo de uma vez; altera-se o instinto das ovelhas.
Exemplos concretos: A pedagogia da confusão
- Na
liturgia: padres que ensaiam “experimentações criativas” com a missa
nova, mas chamam de “rigidez” qualquer tentativa de restaurar o canto
gregoriano ou o silêncio adorante.
- Na
catequese: jovens que sabem de cor slogans de inclusão, mas não
conseguem recitar o Credo sem tropeçar.
- Na
pastoral: bispos que se dizem incapazes de definir pecado mortal, mas
capazes de abençoar uniões contrárias ao Evangelho.
Não precisamos de estatísticas sofisticadas. A simples
observação mostra: onde se cultiva o modernismo, cresce a confusão. Onde se
mantém a Tradição, floresce a fé, mesmo em catacumbas improvisadas, mesmo sem
recursos.
Conclusão: O soco que desperta
O establishment quer que a gente jogue o jogo longo. Quer
que a gente aceite a coleira em troca de migalhas. Quer que a gente transforme
a contrarrevolução em etiqueta vaticana. Mas a fé não se mantém com sorrisos
diplomáticos. Mantém-se com santos. E santos nunca foram domesticados pelo
“processo”.
Portanto, não. Não vamos baixar a voz. Não vamos tratar a
Missa dos séculos como relíquia museológica. Não vamos nos deixar catequizar
pela pedagogia da ambiguidade.
O modernismo avança pela atitude. Nós também. Cada Rosário rezado, cada Missa Tridentina assistida, cada Catequese clara dada a nossos
filhos é um soco contra a revolução que queima a Tradição.
E quando a fumaça baixar, não serão os que silenciaram que
terão preservado a Igreja. Serão os que, mesmo à margem, guardaram a chama
intacta.
Porque a história é clara: o mundo pode queimar altares, mas a tradição não é cinza. É brasa. E brasa, quando guardada, acende de novo. Sempre.
Por um Católico consciente e atento ao cenário eclesial atual do Brasil e do mundo.