De indulgência a escárnio: a profanação de Roma


No início de setembro, em plena basílica de São Pedro, um espetáculo triste se apresentou diante dos olhos de Deus e dos homens. Chamaram de “peregrinação”, mas o nome verdadeiro seria profanação. Pois não é possível dar a Deus o nome do que se ergue contra Ele.

A Porta Santa e o engano

Atravessar a Porta Santa, em qualquer Jubileu, sempre foi sinal de conversão, de arrependimento sincero, de coração contrito que busca a indulgência da Igreja. Mas o que se viu foi o oposto: não houve arrependimento, mas ostentação; não houve confissão, mas militância; não houve lágrimas de contrição, mas aplausos a um “estilo de vida” que a fé chama de pecado. A Porta, que é Cristo, foi transformada em cenário para ideologia.

A Missa e a cumplicidade

No coração da cristandade, o altar do sacrifício de Cristo foi usado como palco para legitimar uma narrativa que rasga o Evangelho. Dom Francesco Savino, vice-presidente da Conferência Episcopal Italiana, presidiu a celebração e pediu paciência, como quem diz: “a Igreja vai mudar, esperem só mais um pouco”. Mas desde quando a verdade de Cristo é sujeita ao calendário humano? Desde quando a santidade se mede pela aprovação do mundo? Esse é o perigo: quando os pastores se tornam cúmplices, o lobo veste batina e as ovelhas aplaudem a própria ruína.

Histórias de amor ou histórias de ilusão?

Na vigília, um casal de lésbicas deu seu testemunho, chamado de “história de amor”. Mas amor sem Deus, sem a cruz, sem renúncia ao pecado, é apenas ilusão dourada. Amor que desafia o plano do Criador não salva, não edifica, não santifica. É afeto humano, sim, mas deformado pela desordem. A Igreja, que deveria ser voz clara, tornou-se cúmplice do engano ao dar espaço a tal testemunho em sua casa-mãe.

Os símbolos misturados

Ver símbolos da fé católica entrelaçados com bandeiras e ícones de uma militância que se opõe à moral cristã é o retrato da confusão que estamos vivendo. É como se quisessem costurar a luz com as trevas, o altar com os ídolos, Cristo com Belial. Essa fusão não é catolicismo, é sincretismo ideológico. É a tentativa de criar uma nova religião: a do homem que se autocelebra, em vez da do Deus que salva.

A denúncia dos profetas

Não é sem razão que Dom Athanasius Schneider chama esses clérigos de “criminosos espirituais e assassinos de almas”. Pois quem entrega o rebanho ao inimigo, quem troca a verdade pela aprovação pública, quem silencia a doutrina para agradar a militância, mata. Mata espiritualmente. E o sangue das almas perdidas clama a Deus.

O que aconteceu em São Pedro não foi só um evento isolado. Foi um sinal. Um recado: querem uma Igreja domesticada, serva da agenda do mundo, incapaz de denunciar o pecado e proclamar a salvação.

Mas nós, católicos, precisamos olhar esse episódio não como quem se desespera, mas como quem vigia. É hora de discernir, de criticar, de resistir. Pois a Igreja não é nossa: é de Cristo. E mesmo que bispos e cardeais vacilem, a verdade permanece. O pecado nunca será virtude, e a cruz nunca será substituída pela bandeira de qualquer militância.

O que resta a nós é permanecer firmes, lembrar que “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre” (Hb 13,8) e que nem basílicas, nem portas santas, nem altares podem ser transformados em palco de mentira sem que Deus, no tempo certo, julgue com justiça.

Por seu Irmão Carmelita Secular da Antiga Observância B.