Mãe do Carmelo: entre o Monte e o Mundo

Mãe do Carmelo, pra onde vais?
A pergunta ressoa como eco antigo entre os vales do Monte
Carmelo. Não é só verso de hino. É clamor de quem caminha em meio ao deserto
deste mundo seco, sedento de sentido. A Virgem do Carmo, Senhora do Silêncio e
da Escuta, parece sempre estar em movimento — indo, indo adiante, indo ao
encontro. A pergunta “pra onde vais?” não busca uma resposta geográfica, mas
espiritual. Queremos saber onde Deus está hoje — e, como sempre, Ele caminha
com Maria.
O Carmelo nunca foi fuga. Foi caverna, sim. Mas caverna de
escuta. Lugar onde Elias ouviu o sussurro de Deus. Lugar onde Maria guardava
todas as coisas no coração. O Carmelo é alto, mas não nos separa do mundo —
apenas o eleva.
Evangelizar com o Escapulário nos ombros
“Na Ordem Terceira do Carmo, vamos juntos evangelizar” — diz
o hino. Evangelizar, hoje, é resistir. Não com pedras ou gritos, mas com
ternura firme, com santidade encarnada no ordinário. O escapulário que a Mãe
nos oferece não é amuleto, é armadura leve de quem foi confiado à batalha do
dia a dia.
É símbolo de aliança: “Eis tua Mãe”. O escapulário é a veste
dos que decidiram seguir o Cordeiro, com Maria, mesmo quando o mundo diz que a
fé é atraso, que a pureza é tolice e que a cruz é loucura.
Evangelizar com Maria é evangelizar com estilo carmelita:
com profundidade, com poesia, com fogo. O fogo de Elias. O fogo do Espírito.
Julho é tempo de florir o coração
O hino nos leva ao “mês da Flor do Carmelo”, aquele em que
os sinos dobram e o povo reza novenas. Julho é o mês onde a espiritualidade
carmelitana desabrocha, e não por acaso. É quando o mundo está gelado de
indiferença que a flor da fé precisa perfumar as ruas.
Maria, Flor do Carmelo, não é enfeite. É raiz. É caule. É
fruto. Nela, a beleza tem função: apontar para o Cristo. Toda flor nasce para
algo além de si.
Santos que foram estrelas na noite do mundo
Santa Teresa de Ávila com seu humor espirituoso e sua alma
ardente. São João da Cruz, com sua noite escura mais luminosa que o dia. São Tito
Brandsma, jornalista mártir, que enfrentou a mentira com a luz da verdade. Santa
Madalena de Pazzi, louca de amor por Deus.
Esses santos, tão diversos, têm algo em comum: todos olharam
para Maria e disseram “Eis-me aqui”. Subiram o Monte, mas desceram dele para
servir. Não ficaram presos em êxtases, mas se entregaram ao mundo com coração
inteiro.
O Carmelo é como uma montanha: quanto mais alto se sobe,
mais se vê o mundo com clareza. E é por isso que se volta. Ninguém sobe o Monte
Carmelo pra fugir — sobe pra descer transformado.
Não me fale em devoção sem compaixão
E aí vem a pancada. “Não me fale em devoção e para os pobres
os olhos fechar”. Essa linha vale uma pregação inteira.
O Carmelo não é alienação. Não é castelo de vidro. Não é só
incenso e silêncio. É também pão partilhado, lágrima enxugada, dignidade
restaurada. Santa Teresa dizia: “Deus também anda entre as panelas”. E o Cristo
do Carmelo anda também pelas ruas esburacadas, pelas vilas esquecidas, pelas
favelas onde falta tudo — menos fé.
Se tua oração te faz esquecer os pobres, tua oração está
errada. Se teu jejum não incomoda o conforto, é só dieta espiritual. O Carmelo
de verdade é revolução silenciosa. Não grita, mas incomoda.
Pra onde vais, Mãe do Carmelo?
Ela vai adiante. Vai onde há dor. Vai onde há silêncio. Vai
onde ninguém mais vai. Vai ao Calvário. Vai à casa de Isabel. Vai ao cenáculo.
Vai a cada um de nós.
E nos ensina, como canta o refrão, a seguir Jesus. A
encontrar a paz — não a paz de comercial de margarina, mas a paz do alto preço,
conquistada com cruz e amor.
E você? Vai com Ela? Vai evangelizar ou só observar? Vai
rezar a novena ou ser a resposta dela? Vai subir o Monte ou continuar na
planície rasa da fé morna?
Pra onde você vai, carmelita?
A Mãe já foi na frente.
🎵 Mãe do Carmelo
Música e Letra: Frei José Petrônio de Miranda, O.Carm.
Por seu Irmão Carmelita Secular da Antiga Observância B.