Quando o Silêncio Toma o Altar

Houve um tempo em que o som dos sinos bastava para convocar toda uma aldeia. O povo largava a enxada, a costura, o pão no forno, e acorria à igreja como quem corre à fonte no meio do deserto. Domingo era o dia da alma. E a Missa? A Missa era o coração pulsando no centro da vila.

Hoje, em tantos lugares, os sinos ainda tocam, mas ninguém mais os ouve. E agora, na República Tcheca, o silêncio começa a invadir também o altar.

O arcebispo de Olomouc — homem de Deus, com o coração apertado — não teve escolha senão permitir que, por um tempo, os fiéis substituam a Missa dominical por orações em casa, transmissão ao vivo, um terço murmurado com devoção. Não por rebeldia, mas por escassez. Faltam padres. Faltam operários para a messe.

E aqui está o ponto que nos atinge direto no peito: não é apenas a Europa que está doente. É a Igreja toda. Estamos colhendo o que não semeamos. Falta-nos oração. Falta-nos clamor. Falta-nos fé.

Rezamos por tudo — sucesso, saúde, dinheiro, paz mundial — mas… quem ainda reza de verdade por vocações sacerdotais?

Talvez tenhamos esquecido que os padres não nascem prontos. Eles não brotam do chão como relva, nem descem do céu embalados por anjos. Um padre é o fruto maduro da oração de um povo. É a resposta de Deus à súplica da Igreja. Um padre é sempre filho da intercessão.

Cada missa celebrada é um milagre escondido, um céu que toca a terra. E cada altar vazio grita por nós: “Onde estão os filhos de Israel que choram diante do Tabernáculo fechado?”

Cristo prometeu que não deixaria Sua Igreja órfã. Mas essa promessa pede uma colaboração da nossa parte. O Senhor chama — sempre chama. Mas o mundo grita mais alto. E, às vezes, a única voz que pode vencer esse barulho é a da mãe que reza, do velho que clama, da criança que oferece seu jejum. É o terço na mão e o joelho no chão que, em silêncio, move as montanhas da graça.

Rezemos, sim. Mas rezemos como quem precisa de ar. Como quem sabe que, sem padres, não há Missa. E sem Missa, não há Eucaristia. E sem Eucaristia... a Igreja murcha, seca, desaparece.

Que não deixemos nossos altares emudecerem. Que não acostumemos os ouvidos ao silêncio onde antes havia o Dominus vobiscum. Que sejamos aquele remanescente que clama noite e dia:

“Senhor, dai-nos santos sacerdotes. Dai-nos muitos sacerdotes. Dai-nos vocações.”

Porque se o altar for abandonado, o mundo será devorado.

E enquanto o silêncio ainda ronda algumas igrejas, que de nossas casas, suba um clamor que o céu não possa ignorar.

Por seu Irmão Carmelita Secular da Antiga Observância B., que esta crônica seja também uma oração — e um estandarte levantado onde a esperança ainda arde.