Capa Vermelha, Sangue Real


Dizem que esse é o ano do Superman.

Vai voltar aos cinemas, vai salvar o mundo (de novo), vai olhar com aquele queixo esculpido pelos deuses e prometer justiça com olhos de laser. Mais uma vez, o mundo aplaude, esquece do que importa, e mergulha fundo na fantasia de que alguém lá de cima vai resolver tudo com um soco bem dado.

Mas eu fico pensando... e se o mundo estiver esperando o salvador errado?

Superman cai do céu. Nosso Senhor também. Mas um vem numa nave com design intergaláctico. O outro? Num estábulo com cheiro de feno.
Um levanta caminhões e derruba edifícios com os punhos. O outro deixa que pregos perfurem Suas mãos.
Um salva o dia. O outro salva a eternidade.

Superman não tem igreja. Jesus tem o Calvário.
Superman não sangra. Jesus sangra até a última gota.
Superman não chora. Jesus chora por Jerusalém.

Na tela grande, o herói voa. Nas Escrituras, o Salvador cai de joelhos no Getsêmani.

O problema não é o Superman em si. É o que ele representa: a fantasia de que podemos ser salvos sem sermos confrontados. De que o mal é sempre externo — um vilão com capa roxa ou um meteoro vindo em nossa direção — e não o orgulho escondido dentro do nosso peito.

Superman exige espectadores. Cristo exige conversão.
Superman salva o mundo. Cristo salva a alma.
E pra isso, Ele não precisou de capa. Precisou de Cruz.

E eu sei — o mundo prefere entretenimento à redenção. Porque é mais fácil fugir num filme do que dobrar o joelho diante de um altar.

Mas chega uma hora em que a ilusão não basta. A alma grita. A dor aperta. E a gente percebe que não é de superpoderes que estamos precisando, mas de perdão.

O herói de aço pode até voar mais alto. Mas o Cordeiro, ah… o Cordeiro desce mais fundo. Até o pó da nossa vergonha, até o abismo da nossa miséria.

E ali, sem trilha sonora, sem aplausos, sem CGI… Ele nos salva.

Por seu Irmão Carmelita Secular da Antiga Observância B.

Nota aos comentadores

Esta crônica foi escrita por ocasião do lançamento do novo filme do Superman (2025), não como crítica cinematográfica, mas como provocação teológica.

Vivemos numa era saturada de imagens de salvação fictícia, onde a cultura pop constrói mitos modernos e, sem perceber, imita arquétipos antigos. O Superman — criado por autores judeus no contexto de perseguição — encarna uma figura messiânica laica: enviado do céu, salvador da humanidade, símbolo de esperança. E no entanto, ele permanece uma sombra, um simulacro do verdadeiro Salvador.

A intenção desta crônica não é demonizar o entretenimento, mas convidar à reflexão: o que revela sobre nossa alma o fato de esperarmos por heróis com capa, enquanto ignoramos o Rei coroado com espinhos? O Superman pode ser um símbolo, mas Cristo é a Verdade. Um voa pelos céus; o outro desceu até os infernos para nos erguer.

Entre o aplauso do cinema e o silêncio do Calvário, esta crônica escolhe o segundo.