Mensagem de Natal do Prior Geral

Estimados irmãos e irmãs da Família Carmelita: desejo-vos um
Feliz Natal e um Próspero Ano Novo de 2026! Que o Menino Deus vos cumule de
suas bênçãos e vos conceda a paz.
1. O Papa emérito, Bento XVI, há alguns anos,
ilustrava esta Noite Santa, que vamos celebrar, recordando-nos que quem
pretende entrar na igreja da Natividade de Jesus, em Belém, descobre que o
portão de entrada foi em grande parte emparedado. Restou apenas uma pequena
abertura de um metro e meio. Como ele apontava, “a intenção foi provavelmente
proteger melhor a igreja contra eventuais assaltos, mas, sobretudo, evitar que
se entrasse a cavalo na casa de Deus”. É providencial, pois “quem deseja entrar
no lugar do nascimento de Jesus tem de se inclinar… se quisermos encontrar o
Deus que apareceu como Menino, devemos descer do cavalo da nossa razão
‘ilustrada’. Devemos depor as nossas falsas certezas, a nossa soberba
intelectual, que às vezes nos impede de perceber a proximidade de Deus”. O que
é a humildade senão abaixar-se para poder entrar pela porta da fé e encontrar
Deus? Que o Menino-Deus nos ensine a inclinar-nos diante do mistério de Deus.
Peçamos também, neste Natal, por quantos têm de viver na pobreza, na dor, na
doença e no abandono, para que chegue também a eles, através de nossas mãos, a
bondade que Deus, com o nascimento de seu Filho, quis trazer ao mundo.
2. A música do silêncio. Entrar no espaço sagrado,
de David Steindl-Rast e Sharon Lebell, é um livro que uma amiga me presenteou.
Os autores deste livro recordam-nos que os relatos bíblicos do Natal estão
cheios de ‘anjos’. De fato, eles são onipresentes em nossas vidas. Voltaire,
bastante incrédulo, chegou a escrever, zombando, que ‘não se sabia com precisão
onde viviam os anjos’. A nossa época, felizmente libertada de entender a
realidade ao pé da letra, já não se preocupa com a envergadura das asas dos
anjos, com o seu sexo ou com quantos cabem na cabeça de um alfinete. Nós nos
concentramos no sentido do seu nome: anjo, que, originalmente, significa, como
bem sabemos, ‘mensageiro, arauto’. ‘Seres de luz’, dedicados ‘totalmente ao
serviço de Deus’, e definidos, sobretudo, pela missão que desempenham. Maria e
José, por meio de um anjo, puderam encontrar-se com o Senhor. Em nossas
comunidades há muitos ‘anjos’. Para descobri-los é preciso parar, conectar-se
com Deus e contemplar ao nosso redor. Aqueles que acompanham nossos irmãos
doentes ao médico; aqueles que silenciosamente fecham ou abrem as portas todos
os dias; aqueles que tiram o lixo para que seja recolhido; aqueles que trazem o
correio…; aqueles que amavelmente sorriem todas as manhãs… Todos eles estão
inspirados por um anjo. Talvez o que Voltaire ignorava é que o domicílio dos
anjos está na comunidade. É ali que eles vivem!
Que o Menino Jesus nos abençoe, sustente as nossas famílias
e a quantos foram obrigados a estar longe de sua gente, de seus amigos e de sua
terra. Que fortaleça os nossos governantes em seu compromisso de defender a
vida e os mais vulneráveis. Que as nossas comunidades sejam o novo domicílio
dos anjos.
Fraternalmente no Carmelo.