A China comunista intensifica a perseguição contra os católicos clandestinos numa diocese chave

Católicos clandestinos da Diocese de Wenzhou enfrentam nova onda de perseguição pelo Partido Comunista Chinês

Bispo Peter Shao Zhumin

Os católicos clandestinos da Diocese de Wenzhou voltaram a sofrer uma renovada perseguição por parte do Partido Comunista Chinês (PCC) nas últimas semanas, à medida que o regime continua sua ofensiva para impor controle total sobre a Igreja na região.

Para o PCC, a postura firme do bispo Shao Zhumin — e sua fidelidade a Roma, em vez de se submeter à igreja controlada por Pequim — tem sido um incômodo insolúvel há anos.

Como bispo clandestino de Wenzhou, Shao não é reconhecido por Pequim. Por isso, as autoridades locais nomearam o padre Ma Xianshi, da igreja oficial aprovada pelo Estado, como o responsável pela diocese. No entanto, Shao e seus fiéis permanecem leais a Roma e à Santa Sé, recusando-se a jurar fidelidade aos ideais comunistas promovidos pela igreja estatal chinesa.

A China há tempos promove um processo de “sinicização” das religiões presentes no país. Especialistas alertam que a sinicização envolve fazer com que todas as comunidades religiosas sejam lideradas, controladas e subordinadas ao Partido Comunista.

Shao já foi preso diversas vezes por sua fidelidade a Roma. Segundo a AsiaNews, essas prisões ocorrem de forma “quase científica”, sempre às vésperas de períodos importantes para os católicos: Natal, Páscoa, Assunção e, mais recentemente, novembro — o mês de oração pelos mortos (enquanto na tradição chinesa o Qingming, memória dos ancestrais, é celebrado na primavera).

Frequentemente, Shao é levado pelas autoridades sem que ninguém saiba para onde, nem por quanto tempo. O caso mais recente ocorreu em abril.

Mesmo assim, ele continua firme, fiel à Igreja Católica, recusando-se a se curvar diante da ideologia comunista imposta por Pequim.

Agora, parece que nem mesmo membros da igreja oficial estão livres da perseguição.

O padre Ma Xianshi — o próprio representante do regime na diocese — foi preso em novembro passado e ainda aguarda julgamento. O motivo oficial: vender um hinário em outra diocese. Detalhe: o hinário é aprovado pela igreja estatal e usado em várias dioceses.

Mas essa acusação soa obviamente forjada. Ao que tudo indica, Ma foi alvo por não aderir fielmente às diretrizes ideológicas do Partido. Segundo a AsiaNews, o padre não apoiou a tentativa do PCC de impor um adversário de Shao como novo bispo de Wenzhou e, além disso, teria se reunido com autoridades do Vaticano sem o aval de Pequim. Se condenado, pode pegar vários anos de prisão.

Diante da resistência de Shao, o PCC agora tenta novas estratégias. A AsiaNews relata que diversos membros do clero e leigos foram presos nas últimas semanas como forma de pressionar o bispo a aderir à igreja estatal.

Entre os presos estão um padre, duas freiras e dois leigos. A acusação: “migração ilegal”, por terem feito uma peregrinação ao exterior no ano passado — ainda que já tenham retornado há tempos à China.

As autoridades teriam dito claramente: “Se o bispo Shao se converter [à igreja estatal], todos serão libertados.”

Esse episódio é apenas um exemplo de uma ofensiva mais ampla, que a revista Bitter Winter classificou como uma repressão renovada de “proporções alarmantes”.

Uma série de batidas policiais em locais de culto da Igreja Clandestina levou ao fechamento de cerca de 90% desses espaços nesta primavera. A polícia invadiu os locais e prendeu os fiéis que encontrou ali.

A perseguição a Shao está particularmente intensa este ano, com o regime buscando dobrá-lo e forçá-lo a se juntar à igreja controlada por Pequim. Muitos veículos relatam que essa pressão aumentou consideravelmente após a morte do Papa Francisco, momento em que o regime chinês parece ter aproveitado o caos do interregno para instalar dois novos bispos sob sua supervisão.

A fé da Igreja Clandestina de Wenzhou se tornou uma verdadeira pedra no sapato do PCC. O bispo resiste, e a repressão se intensifica. Segundo a AsiaNews, essa igreja não é insignificante: a diocese tem entre 180 mil e 200 mil católicos, com 46 padres na igreja estatal e mais de 20 na Igreja Clandestina, além de mais de 60 freiras associadas à Igreja Clandestina.

Falando à Bitter Winter, um padre da Igreja Clandestina confirmou a fidelidade dos católicos à Santa Sé:

“Sofremos por causa de nossa lealdade inabalável a Roma e à Igreja, e por recusarmos nos submeter a bispos que priorizam a fidelidade ao Partido Comunista em detrimento da fidelidade ao Papa.”

Um sacerdote entrevistado pela AsiaNews fez um apelo ao novo papa, Leão XIV, para que não se cale diante do acordo sino-vaticano nem da situação dos católicos chineses:

“O Vaticano se cala, mas promove oportunistas da Igreja oficial, que ganham visibilidade e reconhecimento nos círculos religiosos e políticos. Os fiéis veem esses ‘sucessos’ e nos perguntam: ‘Ainda faz sentido resistir?’ Mas queremos seguir a nossa consciência. Esperamos que o novo Papa Leão XIV reconheça o valor da nossa fidelidade.”

O polêmico e secreto acordo sino-vaticano aparentemente concede ao Papa poder de veto nas nomeações episcopais, mas na prática é o PCC quem manda. Diz-se também que o acordo permite a remoção de bispos legítimos para substituí-los por nomes aprovados pelo regime.

Assinado pela primeira vez em 2018, para desgosto de diversos especialistas em China e defensores da liberdade religiosa, o acordo foi renovado no ano passado por mais quatro anos.

Até agora, o Papa Leão XIV não se pronunciou claramente sobre o acordo, mas, em um discurso recente, rezou para que os católicos da China estejam “em comunhão com a Igreja universal” — uma declaração que contradiz diretamente os objetivos da sinicização religiosa promovida por Pequim.

Sua posição diante da China é, no momento, um tema altamente aguardado.

Por Michael Haynes
Correspondente Sênior do Vaticano