Maria, Mãe da Esperança, mensagem de Frei Míceál O’Neill, O. Carm. Prior Geral


A todos os membros da Família Carmelita
Prot. 214/2025
MARIA, MÃE DA ESPERANÇA
Mensagem do Prior Geral por ocasião da
Festa de Nossa Senhora do Carmo no Ano Jubilar de 2025
Queridos irmãos
e irmãs da Família Carmelita,
Mais uma vez temos
a imensa alegria de celebrar a solenidade de Nossa Senhora do Monte Carmelo
como celebração da Igreja e de toda a Família Carmelita.
Neste ano, fazemos
isso como parte das celebrações jubilares, o que dá um significado especial às
nossas novenas, procissões e celebrações litúrgicas, pois o sempre lembrado
Papa Francisco nos pediu que olhássemos para a esperança presente em nossas
vidas e os fundamentos dessa esperança: Jesus Cristo, o Salvador, e Maria, sua
Mãe. Graças a eles e ao que representam, podemos viver com uma esperança que
não decepciona. Jesus é o Verbo Encarnado de Deus. Maria é a serva do Senhor,
sempre obediente à sua Palavra.
Jesus, pregado na
cruz, é a promessa da ressurreição, a vitória sobre tudo o que poderia nos
paralisar e nos deixar nas trevas. Maria permaneceu de pé, e seu coração
compreendeu — e, sem saber o que exatamente estava acontecendo, manteve a
esperança e não se afastou ao ver seu Filho morrer crucificado.
Neste Ano Jubilar,
que nos encontra como peregrinos da esperança, nossa fé e nossa
esperança são colocadas à prova. Todos os dias ouvimos notícias de guerra. As
notícias de Gaza falam diariamente de dezenas de mortos — homens, mulheres e
crianças — em um único ataque. Cada ofensiva é cuidadosamente planejada e se
utiliza do melhor talento humano para acontecer.
Penso em como deve
ser começar o dia em Gaza ou em Kiev. É difícil imaginar que alguém tenha
dormido, mas mesmo assim o novo dia deve começar. O que trará esse novo dia?
Mais mortes? Mais destruição? Mais escombros? Mais uma vez, ouvimos o grito: "Quando
e como isso vai acabar?" O que se faz quando se está cercado de
ruínas? Quando a casa de ontem virou pó e o sangue da família mancha as pedras?
Quantas vezes o
povo sente: "Estamos perdidos, sem esperança, sem ninguém para nos
salvar."
As tragédias da
guerra nos entristecem. E também os desastres chamados "naturais" —
muitos dos quais poderiam ser evitados ou, ao menos, mitigados, com os avanços
científicos. Sabemos que é possível fazer mais.
Mesmo com o
coração sofrendo, ainda temos esperança — e essa esperança não decepciona.
O Jubileu é ocasião para agradecer a Deus, escutar atentamente Sua Palavra e
reordenar nossa relação com Deus, com os outros e com a terra — nossa casa
comum, feita para cada filho de Deus e filho de Maria.
Temos motivos para
esperar. Toda vez que recorremos ao Evangelho, redescobrimos o fundamento da
nossa esperança. O Evangelho revela Jesus como expressão do amor e da
misericórdia do Pai. Mostra Maria acolhendo essa Palavra e a colocando em
prática. Mostra um modo de viver baseado no amor e na fraternidade.
Esse mundo
apresentado pelo Evangelho não é utopia. Ele é possível, já foi vivido
por muitos — como Maria — que confiaram em Jesus Cristo e viveram com
simplicidade e amor ao próximo. Mas algo falhou. Uma parte da sociedade deixou
de ver o outro como irmão e passou a enxergá-lo como rival ou servo de sua
ganância.
Esse “evangelho”
falso do poder, da exclusão e da cobiça corrompeu líderes e leis. Eles criaram
sistemas que beneficiam poucos e punem os muitos — e as massas começam a
acreditar que resistir é inútil. Então se rendem: “Se não pode vencê-los,
junte-se a eles.”
No tempo dos
profetas, a situação era parecida. Profetas verdadeiros se levantavam contra os
maus pastores. Elias se ergueu como fogo, indignado com a idolatria que
destruía a identidade do povo e o deixava sem pão.
Maria viu essas
verdades em sua época. Viu Deus exaltar os humildes e derrubar os poderosos.
Viu Deus alimentar os famintos e mandar embora os ricos de mãos vazias. Viu que
Deus cumpre Suas promessas. Acolheu em seu coração as palavras de Jesus —
especialmente as que Ele disse da cruz: “Mulher, eis aí o teu filho.”
Jesus falava
verdades de salvação: sobre os pobres, os pacificadores, os que têm fome de
justiça. Sobre construir a vida sobre a rocha. Sobre servir, não ser servido.
Sobre amar a Deus e ao próximo. Essas palavras são verdadeiras porque são
palavras de salvação.
Hoje somos
bombardeados com palavras que distorcem a dignidade humana. Mas o salmista nos
lembra: “Minha alma espera no Senhor, confio em sua palavra. Minha alma
anseia pelo Senhor mais do que o vigia pela aurora” (Salmo 130). Temos essa
confiança?
Nossa esperança
segura está em Jesus Cristo, o Verbo Encarnado, e em Maria, sua Mãe, obediente
à Palavra. Está também nos irmãos e irmãs que creram nessa Palavra. Não estamos
sós. Quando oramos por paz, nos unimos a milhares ao redor do mundo.
Elias achou que
estava sozinho, mas Deus lhe revelou que havia mais sete mil profetas fiéis.
Hoje, nesse Jubileu, olhemos ao redor e vejamos a multidão de pessoas que
querem paz, dignidade e justiça.
Como é não ter
casa? Ter crianças pequenas que você não pode proteger? Ouvir o som do inimigo
no céu e segundos depois ver tudo em ruínas? Que tipo de pensamento têm aqueles
que ordenam e executam esses horrores?
O Ano Jubilar é
momento de dar graças e construir novas relações baseadas na
fraternidade. Não há limite para o número de filhos e filhas que Maria acolhe.
Todos que escutam a Palavra de Deus e a colocam em prática são sua família — e
de Jesus.
Essas pessoas
aprendem a filtrar e rejeitar as palavras de ódio, ganância e dominação. São os
pacificadores. Os mansos. Os que buscam justiça.
Hoje ouvimos
líderes dizerem que temos que nos preparar para a guerra — como se fosse
sabedoria. Repetem: “Se quer paz, prepare-se para a guerra.” Mas a paz
verdadeira exige força espiritual, não bélica. Nossa força está na
confiança na Palavra de Deus.
Devemos nos
perguntar: O que a esperança pode fazer por nós hoje? Nossa esperança
está em Jesus, e ela não decepciona. Mas... é certo perder a esperança
na humanidade?
O Salmo 117 diz: “Não
confiem nos príncipes, confiem no Senhor.” Mas não devemos perder a
esperança nos irmãos. Se fizermos isso, aceitamos o jogo dos que querem apagar
nossa visão de Deus e nossa dignidade.
Deus colocou tanto
de Si em nós que é possível vermos uns aos outros como verdadeiros filhos e
filhas de Deus.
Nossa visão de
humanidade é moldada pelo Evangelho, pelo amor, pela fé dos profetas, de Maria
e dos santos. Ela se expressa no “obsequio de Cristo”.
Quem compartilhará
essa visão com o mundo? Quem convencerá os poderosos a usar o poder para servir
e não ser servidos? Quem despertará os que nada têm para que se deem
mutuamente o que Deus oferece?
“Mulher, eis aí
teu filho; filho, eis aí tua mãe.”
Essas palavras —
ditas da cruz — nos ensinam a confiar em Deus e no próximo. Elas revelam o que
Deus já fez por nós — e o que ainda fará, por quem se aproxima Dele com
mansidão e humildade.
“Bem-aventurados
os pacificadores, os que buscam a justiça, os mansos...”
Invoco a Deus e à
Virgem para que, neste Ano Jubilar, nossas celebrações da Solenidade de Nossa
Senhora do Carmo renovem nossa esperança, aumentem nossa alegria e levem muitos
a encontrar essa mesma esperança e alegria em Jesus, o Verbo Encarnado; em Maria,
a Mãe de Jesus, sempre obediente à Palavra; e nas pessoas que enfeitam nossas
vidas como irmãos e irmãs, peregrinos da esperança.
Roma, 7 de julho de 2025
