Missa Verde, Missa Nova?
Nesta quinta-feira, dia 3, uma nova fórmula de Missa será
apresentada ao mundo: “pela custódia da criação” — ou, em latim, pro
custodia creationis. E aí, caro leitor de olhos atentos e coração
tradicional, a pergunta não tarda: isso é o florescer da fé ou o brotar de
um modismo eclesiástico?
Porque, vamos ser francos — Missas votivas não são novidade.
A Igreja, sempre sábia, reservou espaço no Missal Romano para intenções
específicas: por vocações, pela paz, pela chuva... até pelos defuntos mais
esquecidos da paróquia. Mas agora é a vez da criação. E cá estamos, com uma Missa
verde chegando à sacristia, vestida de poesia ecológica e laudatosiana
litúrgica.
É claro que a criação importa — São Francisco que o
diga, com seu “irmão sol” e “irmã lua”. E o Gênesis começa justamente por aí: Deus
viu que era bom. Cuidar da criação é, sim, uma obra de caridade e
reverência. Mas quando a Liturgia — que é céu tocando a terra — começa a ganhar
tons de assembleia da ONU, vale levantar a sobrancelha e perguntar: isso é
culto ou é campanha?
Os responsáveis pela apresentação? Dois nomes de peso:
Cardeal Czerny, da ala que lê a encíclica Laudato Si’ como novo
catecismo, e o Arcebispo Viola, escudeiro de Roche, que por sua vez tem sido
figura central na centralização litúrgica. Coincidência? Não na Igreja. Nada é
por acaso.
O que está em jogo aqui é o lugar da criação na economia
da salvação. O risco não é orar por rios limpos e florestas vivas — isso é
justo. O risco é horizontalizar a Liturgia, trocando o Cordeiro que tira
o pecado do mundo por uma celebração da biodiversidade, onde o altar vira
palanque e o incenso serve mais ao ativismo que ao culto.
Mas talvez — e aqui entra a visão profética — essa nova
Missa seja também um convite ao reequilíbrio. Se for bem feita, pode recordar
ao homem moderno, perdido no concreto e no algoritmo, que a criação é dom, não
produto. Que a Terra não é um parque de diversões, mas um templo.
Afinal, como diz o Salmo: “Os céus proclamam a glória de
Deus; o firmamento anuncia a obra de suas mãos.” Se a nova Missa nos levar
de volta a esse assombro primordial — ótimo. Mas se nos fizer trocar a
transcendência pelo terreno, aí, meu caro, nem compostagem litúrgica salva.
Resta-nos assistir, ouvir, e — como bons católicos de fé testada e alma crítica — discernir os sinais dos tempos sem engolir tudo de olhos fechados.
Por seu Irmão Carmelita Secular da Antiga Observância B.
Nota aos comentadores de redes sociais
Antes de lançar o veredito nos comentários — seja com emojis
de aplausos ou tochas digitais — é preciso lembrar que a Liturgia é coisa
séria. Ela não é campo de batalha ideológica nem palco para guerras
culturais travestidas de fé. É o coração pulsante da Igreja, onde o
tempo toca a eternidade e o Verbo se faz carne.
Por isso, ao se deparar com uma nova Missa — como esta “pela
custódia da criação” — o dever primeiro não é atacar nem aplaudir, mas escutar,
compreender e discernir.
Quem grita antes de ouvir, tropeça na própria pressa. Quem
zombar por puro reflexo, arrisca cair na superficialidade que tanto critica. E
quem aplaude por militância, sem avaliar o que está em jogo, pode estar
celebrando fumaça onde deveria haver incenso.
A Liturgia merece mais que memes e ironias: ela exige
oração, estudo, e sim, um olhar teológico que não tenha medo de levantar
dúvidas — mas que as levante com reverência.
Então, a quem comenta: leia o texto completo da Missa
quando for publicado. Compare com o Missal Romano. Reze com ela, se possível.
Pergunte o que ela revela sobre Deus, sobre o homem, sobre o mundo criado e
redimido.
Só assim se poderá julgar, não com a régua do mundo, mas com
a balança da Tradição.
E lembre-se: no fim das contas, cada Missa é celebração do Sacrifício de Cristo. Se isso for esquecido, pouco importa se a Missa é verde, roxa ou arco-íris — ela terá perdido sua alma.