Coração que Bate
Na festa do Sagrado Coração de Jesus, à luz de Santa Teresa
A certa altura da caminhada espiritual, a alma corre o risco de se tornar vaidosamente abstrata. Foge do suor de Deus. Despreza os detalhes. Quer encontrar o Eterno sem passar pelo chão. Foi o que aconteceu com Teresa — santa, doutora, mística, mulher. Tentou buscar Deus só com a cabeça nas nuvens, desprezando a carne de Cristo, Seu corpo, Seu rosto, Suas chagas.
Mas Deus, com sua pedagogia desarmante, a corrigiu com doçura e dor. Não era por aí. Teresa entendeu, como quem acorda de um sonho seco: não se chega ao Deus vivo ignorando o Coração que pulsa. E voltou. Voltou aos pés de Cristo. Voltou ao Seu lado aberto, à Sua humanidade tão concreta, tão próxima, tão encarnada.
Porque — e isso é essencial — o Coração de Jesus não é uma metáfora. É músculo. É sangue. É entranha divina que se deixou abrir. Amar esse Coração é amar um Deus com veias e lágrimas. Um Deus que não nos salva por decreto, mas por presença. Que não aponta o céu lá longe, mas o semeia aqui, entre panelas, dores de cabeça, e irmãos difíceis.
Teresa nos grita com sua vida: "Não desprezeis a humanidade de Cristo!". É por ela que entraremos. Por essa porta de carne e cruz. O amor verdadeiro, o que sustenta, tem sempre forma de coração que se gasta.
E hoje, na festa do Sagrado Coração, a gente faz silêncio e olha de novo. Não com olhos apressados, mas com sede. A sede de quem já andou demais tentando encontrar Deus no vago, e descobriu que Ele está no meio. No meio da oração seca, no meio do sacrário, no meio da rotina, no meio do irmão que pede atenção quando menos queremos dar.
Santa Teresa voltou. Nós também precisamos voltar. Voltar ao Coração. Voltar à fonte. Voltar ao Cristo inteiro — Deus e Homem. Voltar ao lugar onde tudo começa e tudo sara: o peito aberto do Crucificado que vive.
Sagrado Coração de Jesus, ensinai-nos a amar com entranhas, sem medo da dor, sem medo da entrega.
Por seu Irmão Carmelita Secular da Antiga Observância B.