Frei Mariano e o ladrão de galinhas
Uma história real que parece piada... mas aconteceu num
convento.
Quem foi Frei Mariano?
Frei Ambrósio Mariano de São Bento — no mundo, chamado
Mariano Azzaro — era um carmelita bem fora da curva. Nasceu no sul da Itália,
estudou em Nápoles, foi amigo de reis, engenheiro de canais, teólogo... e,
vamos ser sinceros, meio complicado também.
Santa Teresa de Jesus gostava muito dele, mas às vezes
soltava: “Ai, esse homem fala demais e às vezes nem dá pra entender!”
Era inteligentíssimo, divertido, e como bom napolitano, cheio de bom humor. Mas o que ele mais curtia era escrever cartas engraçadas contando os causos dos conventos. E foi assim que essa história chegou até nós.
O roubo no convento
Certa noite, no convento de Los Remedios em Sevilha, onde
Frei Mariano era mestre de noviços, aconteceu uma daquelas cenas dignas de
novela.
Enquanto todos dormiam, um ladrão pulou o muro da horta. Mas
não foi atrás de livros ou cálices de prata… foi direto pro galinheiro!
Frei Mariano contou o caso com muita graça numa carta:
“Naquela noite, movido por devoção às nossas galinhas, o
senhor ladrão entrou na horta. Primeiro foi ver os galos — dois — e sem
cerimônia... degolou os dois! Depois partiu pras pobres galinhas.”
Mas antes que terminasse a matança, os cães começaram a
latir. Um frade que ainda estava acordado gritou alarme, e o ladrão foi pego
com as mãos nas penas.
O julgamento mais maluco do século
O que os frades fizeram? Entregaram o ladrão à justiça?
Mas aí vem o mais surpreendente: os frades, em vez de bater
no ladrão, repartiram os tapas entre si! Depois o abraçaram, beijaram seus pés…
e ainda deram jantar pra ele!
Antes de ir embora, o ladrão se confessou com o próprio Frei
Mariano. E assim terminou tudo: com galinhas mortas, mas corações em paz.
O que essa história nos ensina
Frei Mariano era um homem muito sábio, mas também sabia rir
da vida — até no meio do caos.
Graças a ele, essa história chegou até nós, contada com
carinho e um senso de humor afiado.
Porque sim: nos conventos do século XVI também rolavam coisas estranhas... e eles sabiam rir delas.
Extraído do Livro: Silverio de Santa Teresa, História do Carmelo Descalço na Espanha, Portugal e América, Tomo VII.