Quando o “Ainda Não” Vira Ferramenta de Demolição
Diário de um Católico na Contrarrevolução — Parte 33
Introdução: O Sussurro da Ambiguidade
Hoje acordei com aquela sensação incômoda que só quem ama a
Igreja de verdade conhece: o estômago parece pesado, o coração meio entalado, e
a mente tentando achar uma fresta de luz no meio da névoa institucional. Não é
dúvida sobre a fé — essa permanece firme, como sempre foi. O que me corrói é a
sensação de caminhar numa casa antiga que foi construída por santos, mártires e
doutores, mas que agora vive sendo “reformada” por arquitetos que não sabem
diferenciar uma coluna de sustentação de uma parede de gesso.
Li mais uma vez a síntese da tal comissão romana sobre o
diaconato feminino. E, meu irmão, aquilo ali tem mais neblina que madrugada na
serra. Um “não” que é “por enquanto”, uma porta fechada com uma chave deixada
discretamente embaixo do capacho, uma recusa que soa mais como pausa
estratégica do que como resposta enraizada na Tradição.
E aí comecei este novo capítulo. Não por raiva — mas por
amor. Porque amar a Igreja, às vezes, é ter coragem de gritar quando acendem
velas demais perto das cortinas.
Quando Roma Aprende a Falar em Cinza
Há um fenômeno novo no ar. Ou talvez não seja novo, mas
agora está tão evidente que dói não notar.
A Igreja sempre falou com a clareza da luz do meio-dia quando tratava dos sacramentos.
“Sacramentum tantum…”, “forma et materia…”, “ordo…”, “sujeito
apto…”.
Ninguém precisava de comissões para repetir o que havia sido
dito doze séculos antes.
Mas a era pós-conciliar descobriu a alquimia da ambiguidade:
aquela fala suave, cheia de adjetivos, que nunca fecha a porta — apenas a deixa
encostada, como quem diz “vamos ver mais tarde”.
E assim:
- Inter Insigniores falou claramente.
- Ordinatio Sacerdotalis falou mais claro ainda.
- O Catecismo reafirma.
- O Direito Canônico confirma.
Mas Roma, pós-2013 e agora sob Leão XIV, responde: “não
por enquanto”.
É um “não” tão flexível que parece feito de borracha. Um
“não” que, se caísse no chão, quicaria.
E isso, convenhamos, não é neutralidade. É estratégia.
É a tática perfeita para não mudar a doutrina nem
defendê-la, deixando-a apenas… em coma induzido.
Exemplo Concreto: A Fábrica Pós-Conciliar de Processos Infinitos
Se alguém hoje resolvesse questionar a gravidade — sim, a
gravidade literal, aquela força que faz cair o pão da sacristia — o Vaticano
criaria uma comissão para “aprofundar a questão”.
E o documento final diria: “À luz dos dados atuais, não
vemos fundamento para negar a gravidade, mas a questão permanece aberta a novos
estudos, especialmente em perspectiva interdisciplinar.”
É sempre assim:
- Criam a comissão.
- A
comissão não chega a consenso (e nunca chega).
- Publicam
um ‘não por enquanto’.
- Abrem
espaço para novas abordagens pastorais.
- Os
modernistas celebram como vitória moral.
- Os
conservadores fingem que é derrota do inimigo.
- E
o processo continua indefinidamente.
No fim, ninguém mexe no dogma — mexem apenas no terreno ao
redor, como quem cava em silêncio até a base ruir sozinha.
E a mídia católica? Aí é que dói.
Aqueles que antes gritavam contra cada nuance ambígua agora
viraram terapeutas do regime:
“Calma, gente, é só um relatório, nada vai mudar.”
Dizem isso enquanto Roma deixa uma frestinha aberta
suficiente para passar um caminhão de modernismo calibrado.
A Tradição: A Coluna que Não Cede
E aqui entra a parte que faz o coração respirar de novo.
A Tradição não é um museu.
É uma árvore viva.
E árvore viva não muda de espécie porque alguém decidiu
fazer uma pintura abstrata sobre o tronco.
Durante dois milênios, a Igreja falou com voz de trovão
sobre o sujeito da Ordem.
Homens — não por machismo, não por sociologia, não por
patriarcado — mas por Cristo Esposo, por tipologia sacramental, por economia
divina, por realidade ontológica.
A tradição oriental, sempre tão cautelosa com novidades,
nunca sonhou com diaconisas sacramentais.
Os latinos, ainda mais vigilantes, jamais abriram brecha.
E os santos — aqueles gigantes que viviam ajoelhados — não
deixaram uma linha sequer de ambiguidade.
Só Roma moderna insiste em viver de “talvez”.
Conclusão: Esperança, mas sem Ilusão
Hoje escrevo com uma sensação dupla: um realismo duro e uma
esperança que não morre.
Realismo, porque é evidente que a estratégia da ambiguidade
continua.
Roma aprendeu a nunca dizer “sim” nem “não”, apenas a ficar
ecoando “discernimento” até o último fiel esquecer o que era certeza.
Mas esperança, porque a verdade não envelhece.
E a Missa Tridentina — essa fortaleza teológica que, por si
só, desmascara metade do modernismo — permanece viva, respirando como brasa de
forja sagrada.
Enquanto houver um fiel segurando um rosário, um seminarista
que ainda lê São Tomás sem ironia, um padre que celebra voltado para Deus, uma
família que ensina o Credo como se ensina um tesouro… a revolução nunca vence
totalmente.
O modernismo vive de fumaça. A Tradição vive de rocha.
E rocha, meu amigo, não dissolve com estudo nem com
comissão.
Se eles dizem “ainda não”, respondamos com aquilo que a
Igreja sempre disse:
Sem Tradição, não há Igreja.
Sem clareza, não há doutrina.
Sem fidelidade, não há contrarrevolução.
E seguimos.
Mesmo que seja pela sombra, mas sempre na direção da luz.
Por um Católico consciente e atento ao cenário eclesial do Brasil e do Mundo.