Feridas da Alma — e os Remédios de Cristo: Inveja
Inveja: O Veneno que Nos Corrói Quando o Outro Floresce
Introdução
A inveja é aquela dor amarga que aperta o peito quando vemos
alguém sendo abençoado. É ridícula, mas real: o coração se ressente porque o
outro recebeu algo bom. O pecado fica ainda mais doido porque ele não quer o
bem do próximo. Quer é que o próximo caia.
Santo Agostinho dizia que a inveja é “o pecado diabólico por
excelência”. Por quê? Porque o demônio não suporta a felicidade dos filhos de
Deus. Ele vê o bem e odeia. Ele contempla a graça e rosna. Quando a inveja toma
o coração, fazemos um pacto com essa lógica: o bem do irmão vira ameaça ao meu
orgulho.
São Gregório Magno chama a inveja de “catarata espiritual”:
ela nos deixa cegos às próprias graças. Em vez de agradecer, comparamos. Em vez
de celebrar, competimos. Em vez de aplaudir a vitória do outro, somos
derrotados por dentro.
E olha, sejamos sinceros: ninguém posta inveja no currículo
espiritual. É um pecado silencioso, disfarçado de “opinião”, “ciumezinho”,
“comentário inocente”. Ela se infiltra naquele pensar: “Por que não eu,
Senhor?”. A inveja é a soberba ferida, engolindo lágrimas com gosto de fel.
Mas Cristo não nos deixa estufar de veneno. Ele vem
transformar essa ferida em compaixão, gratidão e caridade. Ele quer arrancar a
raiz amarga que nos separa dos irmãos e de Deus. Ele quer nos ensinar a amar
sem fazer conta.
Quando o outro se torna inimigo
A inveja surge como filha direta da soberba. O
orgulhoso precisa sempre ser o melhor. Se alguém brilhar mais, pronto: vira
ameaça. O coração soberbo se alimenta de palco; a inveja sofre quando o foco
muda de direção.
Ela turbina a ira, porque o invejoso se revolta
contra quem, na verdade, deveria admirar. Quantas fofocas venenosas nascem
assim? “Quem ela pensa que é?” — pergunta o invejoso que nunca se perguntou
quem ele mesmo é diante de Deus.
A inveja puxa a acídia, o desânimo espiritual. Quando
o outro cresce e eu fico parado, bate aquela preguiça de lutar: “De que adianta
tentar ser santo se tem gente mais santa?”. A inveja quer desistência, quer que
o bem pare de acontecer.
Ela conversa com a avareza, porque o coração invejoso
acha que a graça é uma pizza pequena: “Se ele ganhou, eu perdi”. Como se Deus
fosse limitado. Como se a misericórdia tivesse estoque. São Tomás dá risada: as
graças de Deus se multiplicam quando compartilhadas.
E sim, a inveja flerta com a luxúria e a gula, porque
o invejoso busca anestesias: se não posso ser feliz por dentro, tento preencher
por fora. O tédio com a própria vida pede compensações imediatas. Tudo por não
ousar reconhecer: “Eu poderia ser melhor, com a graça de Deus.”
O remédio é amar o bem do outro
A inveja morre quando o amor nasce de verdade. E amor não é
“sentir fofura”: é querer o bem do outro como se fosse o meu — porque, em
Cristo, é o meu mesmo. A caridade é o soro antiofídico desse veneno.
A oração do invejoso que quer se curar é simples e
revolucionária: “Senhor, faz brilhar o meu irmão. E cura em mim a dor por
isso.”
Esse é o exorcismo do ego.
A confissão quebra o ciclo: quando revelo essa sombra, a luz
entra. O demônio da comparação odeia quando um cristão se ajoelha para pedir
cura do coração. Ele sabe que o humilde agradecido se torna imparável.
Olhar para a cruz ajuda: Jesus se alegrou em nos salvar. Ele
derramou o Sangue para que nós fôssemos glorificados no Pai. Ele vibra
com a tua vitória eterna. A inveja não combina com quem já é amado até o
extremo.
Então, bora ousar amar a conquista do outro. Bora louvar
quando o irmão se aproxima de Deus. Bora virar torcedores da santidade alheia —
porque o céu não é pódio, é comunhão. E ninguém será santo sozinho.
E Jesus está aqui para te conduzir a ela.