O Tempo em que a Fé Era a Mesma

Houve um tempo em que o mundo parecia girar mais devagar — e, talvez por isso, o homem ainda ouvia o som dos sinos e o sussurro de Deus. Era um tempo em que as coisas tinham lugar, sentido e hierarquia; um tempo em que o Céu não era metáfora, mas destino.

O Homem — o guardião que se esqueceu de guardar

Havia homens que sabiam quem eram.

Não precisavam de discursos sobre masculinidade, pois sua vida era testemunho.

Trabalhavam, lutavam, protegiam. Tinham calos nas mãos e paz na consciência.

A virilidade era vocação, não aparência; serviço, não poder.

Mas o tempo passou, e com ele veio a confusão.

O homem moderno se perdeu entre espelhos e distrações, buscando em ideologias o que perdeu no altar.

Esqueceu-se de que o joelho dobrado diante de Deus é o gesto mais masculino que existe.

Pois o verdadeiro homem não é o que impõe sua vontade, mas o que se submete à Vontade divina.

A Mulher — o coração que esqueceu o altar

Havia mulheres que compreendiam o mistério do lar.

Sabiam que o amor floresce na obediência a Deus e que o serviço ao marido e aos filhos é sacerdócio silencioso.

Viviam com modéstia, rezavam com ternura, e sua força era revestida de doçura.

Hoje, muitas se cansam tentando provar o que nunca precisaram provar: o próprio valor.

Mas quem perde o sentido do sacrifício, acaba achando a maternidade um fardo.

O mundo disse que a mulher precisava “ser livre”; e ela acreditou — mas, ao libertar-se do lar, acabou prisioneira do cansaço.

A mulher renasce quando reencontra o altar em seu coração — e entende que cada gesto de cuidado é uma oração viva.

O Padre — o altar e o espelho

Houve um tempo em que o padre era o centro espiritual de sua aldeia.

Era homem do altar e do confessionário, do breviário e do sacrifício.

Celebrava a mesma Missa de seus antepassados e, nela, o Céu tocava a terra.

Hoje, muitos foram arrastados por ventos de novidade, tentando “atualizar” o que nunca envelhece.

Mas a alma do sacerdote não está na inovação, e sim na imolação.

Quando o padre deixa de ser vítima, o altar vira palco; e o povo, plateia.

O sacerdote autêntico é aquele que desaparece para que Cristo apareça.

Enquanto houver padres que rezam de joelhos, o inferno ainda treme.

A Criança — o eco da inocência perdida

Houve um tempo em que as crianças obedeciam, rezavam e respeitavam.

Sabiam que os pais representavam a autoridade de Deus, e que o “não” fazia parte do amor.

Brincavam no quintal, aprendiam no catecismo e dormiam sob a bênção da cruz.

Hoje, são formadas por telas, criadas pelo algoritmo e confundidas por um mundo que lhes rouba a pureza.

Sabem de tudo, menos de Deus.

Os pais, cansados e culpados, desistem de educar — e chamam isso de “liberdade”.

Mas educar é conduzir ao Céu.

E o primeiro catecismo é o exemplo: o pai que reza, a mãe que ensina, o lar que vive a fé.

Ainda há tempo de salvar uma geração — basta que as famílias voltem a rezar juntas.

O Brasil — quando o sagrado se tornou lembrança

Foi assim que o Brasil nasceu católico: aos pés da Cruz.

Durante séculos, a fé moldou o povo, as festas, as palavras e os costumes.

As Missas uniam os corações, e as procissões uniam as ruas.

O país era pobre, mas tinha alma; sofrido, mas cheio de esperança.

Então vieram os anos das mudanças: uma nova liturgia, uma nova catequese, uma nova mentalidade.

E o que era comum se fragmentou.

A Missa tornou-se debate, a fé virou opinião.

O sagrado perdeu o brilho, e o povo, o rumo.

Hoje, menos da metade dos brasileiros se dizem católicos.

Mas a culpa não é apenas do mundo: é também dos que trocaram o incenso pelo aplauso, o latim pelo improviso, o sacrifício pela festa.

E assim, aos domingos, muitos já não vão à Missa — e, quando vão, já não encontram a mesma fé.

Mas Deus não muda.

E enquanto houver um terço entre os dedos, uma vela acesa diante do altar, uma alma que se confesse e creia, a chama não se apaga.

Porque a fé que construiu o Brasil ainda vive — talvez escondida, talvez ferida — mas viva, esperando os que ousarem voltar.

Que o tempo em que a fé era a mesma não fique apenas na saudade — mas renasça na fidelidade.

Por seu Irmão Carmelita Secular da Antiga Observância, B.