Entre Selfies e Requiems Perdidos

 

Diário de um Católico na Contrarrevolução — Parte 31

Hoje escrevo com aquele peso que só quem ainda ama a Igreja de verdade conhece — o peso de ver, de um lado, sorrisos fotogênicos iluminando sacramentos esvaziados, e do outro, caixões sem missa, almas sem sufrágio, e a velha fé tratada como encalhe de museu. Mas, sim, sigo firme. Sigo porque os santos não correram. Porque a Missa de sempre ainda respira. Porque Nosso Senhor ainda reina, mesmo quando as manchetes tentam maquiar o contrário.

Essa semana foi um desses capítulos que parecem pedir análise fria, mas acabam exigindo um lamento lírico, meio irônico, meio indignado, meio esperançoso — aquele tipo de mistura que só um católico na contrarrevolução entende.

Sacramento virou palco

Começou com a confirmação-paraiso-instagram: um apresentador famoso, vida pública em contradição com a moral católica, sendo crismado com seu “marido” ao lado, diante de olhares cúmplices e câmeras prontas. Não vou fingir que não doeu. É claro que todo ser humano merece cura, misericórdia, acolhida; isso nunca esteve em questão. O que pesa é ver o sacramento virar palco — e o palco virar catequese silenciosa de que conversão virou acessório opcional.

A sabedoria antiga — aquela que moldou séculos — dizia que a porta da graça sempre está aberta, mas pede que a pessoa entre descalça, deixando para trás o que precisa ser transformado. Agora parece que tudo se resolve com legenda inspiracional.

Em seguida veio o encontro papal com o casal civil do mesmo sexo. Mais uma vez, o gesto — sempre o gesto — embalado na retórica do “bem-vindos”. Mas faltou a continuidade, aquela parte que sempre fez da Igreja não uma ONG emocional, mas campo de batalha espiritual: o chamado ao arrependimento, o convite à vida nova, a lembrança de que amor sem verdade vira afago vazio. Os santos que enfrentaram impérios não teriam reconhecido esse silêncio confortável.

E, como se o roteiro estivesse montado, tivemos o almoço do Jubileu. Antes, lugar dos pobres. Agora, palco identitário. Os mesmos símbolos, a mesma sinalização implícita: “vocês não precisam mudar; é a Igreja que precisa se ajustar”. E enquanto isso, a doutrina não muda no papel, mas sofre erosão na prática — erosão de sinais, de prioridades, de coragem.

No outro extremo da escala simbólica — o lado que ninguém aplaude — a Missa Tridentina segue num eterno período probatório. Dois anos aqui, dois ali, sempre numa sala lateral, sempre com aquela sensação de que você está pedindo demais por querer aquilo que formou santos, reis, mártires e séculos de fé. Se é tão perigosa, por que foi o pulmão espiritual da Igreja por tanto tempo? Se é tão boa, por que precisa ser tratada como animal exótico em zoológico litúrgico?

E, para fechar a moldura, vem o dado que ninguém quer olhar de frente: funerais católicos em declínio vertiginoso. Gerações morrendo sem Missa de réquiem, cinzas espalhadas, famílias preferindo “celebrações da vida” a sufrágios pela alma.

Isso não é estatística sociológica — é diagnóstico espiritual.

Uma Igreja que não fala mais do juízo produz fiéis que não enxergam urgência na morte.

Uma Igreja que trata pecado como “complexidade psicológica” forma pessoas que tratam sacramentos como “opções decorativas”.

E o resultado é esse: o povo morre sem missa, porque ninguém ensinou que ela é necessária.

Exemplos concretos — porque a realidade não mente

• Crisma instagramável sem convite à mudança de vida.
• Encontros papais calorosos sem menção a conversão.
• Ativistas identitários ocupando o lugar que antes pertencia a pobres esquecidos.
• Ajoelhar-se permitido, mas genuflexórios proibidos — como se a postura do corpo fosse propaganda política e não expressão milenar de adoração.
• Missa antiga tratada como suspeita.
• Mortos enterrados sem Missa.

É tudo parte de uma mesma narrativa: substituir reverência por acolhimento emocional, apagar a fronteira entre cura e confirmação do status quo, trocar o combate espiritual por performance simpática.

Concluindo

Mas, sim, ainda espero.

Não aquela esperança ingênua que vive de slogans — mas a esperança dos santos que sabiam que a barca pode balançar, mas não afunda. A esperança daqueles que entenderam que, quando a fumaça entra, a resposta não é pânico, mas fidelidade; não é desistência, mas resistência; não é capitular, mas manter acesa a chama da Tradição.

No meio de sacramentos instagramados e funerais inexistentes, a Missa Tridentina continua a ecoar como única coisa realmente sólida — um lembrete de que a Igreja não começou ontem e não depende de curtidas para sobreviver.

Por isso escrevo: para que alguém, do outro lado, lembre-se que não está sozinho. Que ainda existe um remanescente que ajoelha mesmo sem genuflexório, que reza pelo morto mesmo quando não há Missa, que busca conversão quando todos querem só acolhimento confortável.

A contrarrevolução continua — silenciosa, fiel, ajoelhada, teimosa como sempre.

E, se Deus quiser, ainda veremos a poeira baixar e a verdade retomar seu lugar.

Até a próxima entrada.

Por um Católico consciente e atento ao cenário eclesial do Brasil e do Mundo.