O eco do abismo: quando a Fé se desfigura em paródia

Diário de um Católico na Contrarrevolução – Parte 16

Há ruídos que vêm do abismo. Às vezes soam como aplausos. Outras vezes, como cânticos “inclusivos”. E o mais triste é que muitos, ao ouvi-los, pensam que são vozes do Céu. Recentemente, o mundo aplaudiu a nomeação da senhora Sarah Mullally — a primeira mulher a ocupar o título de “Arcebispo de Cantuária”, chefe espiritual do anglicanismo mundial. Uma “bispa”, casada e mãe de dois filhos, entusiasta do aborto e militante da agenda LGBT. Um símbolo perfeito do colapso teológico e moral daquilo que um dia foi a “Igreja da Inglaterra”.

Mas essa notícia, por mais absurda que pareça, é apenas um espelho — um espelho que nos mostra o rosto desfigurado de uma cristandade que, há séculos, abandonou a Barca de Pedro e agora navega alegremente rumo ao naufrágio final.

Tudo começou com uma palavra doce e venenosa: autonomia. Henrique VIII quis autonomia para seu matrimônio; depois, o clero quis autonomia para suas doutrinas; e agora, as “bispas” e “pastoras” querem autonomia até sobre a própria Revelação. O resultado? Um cristianismo amputado da graça, um moralismo sentimental e um altar vazio — onde o homem adora o próprio homem.

A Igreja de Inglaterra ordena mulheres desde 1994. O Papa Leão XIII, com lucidez profética, já havia declarado, em 1896, que essas “ordenações” são absolutamente nulas e de nenhum valor (Apostolicæ Curæ). Não por preconceito, mas por fidelidade à Ordem Sacramental instituída por Cristo. É simples: não se brinca com o que é divino. Mas o homem moderno, convencido de que é mais sábio que Deus, decidiu brincar — e agora se espanta com o fogo que ele mesmo acendeu.

E, ironicamente, é justamente esse caminho que certos modernistas dentro da Igreja Católica tentam copiar. Querem um “catolicismo atualizado”, onde o altar vire palco e o confessionário vire divã. Querem “sacerdotisas”, “diaconisas” e “inclusão”, esquecendo que a Igreja não é laboratório de sociologia, mas corpo místico de Cristo.

Os mesmos que hoje aplaudem a “bispa” de Londres são os que amanhã baterão palmas para o “padre inclusivo” e a “missa sustentável”. Chamam isso de progresso. Eu chamo de apostasia polida — heresia com verniz de compaixão.

Mas nós, filhos da Tradição, olhamos e reconhecemos o velho inimigo disfarçado: o mesmo que sussurrou a Eva “sereis como deuses”. É a serpente do orgulho, vestida agora com a batina colorida do relativismo.

Exemplos Concretos

Olhem o que aconteceu ao anglicanismo: templos vazios, fiéis confusos, moral derretida. As paróquias viraram centros de ativismo político, e os púlpitos, palanques. Em algumas dioceses, já se “abençoam” uniões homossexuais e se discutem “ritos de transição de gênero”. É a liturgia da autodestruição.

E, enquanto isso, as Catedrais Católicas da Europa se transformam em salas de concerto, e bispos se preocupam mais com a temperatura do planeta do que com a temperatura das almas no inferno.

Mas há um remanescente fiel. Há padres que ainda celebram a Missa de Sempre, bons padres que também celebram a dita “Missa Nova”, há jovens que descobrem o latim como se reencontrassem a própria alma, há famílias que rezam o Rosário enquanto o mundo gira desvairado. É o pequeno exército de Nossa Senhora — o mesmo que o demônio teme, porque sabe que a humildade de uma Ave-Maria vale mais que mil sínodos confusos.

A ascensão da “arcebispa” de Cantuária não é apenas um fato curioso — é um sinal dos tempos. Um lembrete de que, longe de Roma, tudo se desfigura. Quando o homem corta a raiz, o fruto apodrece. Quando se apaga o altar, o mundo mergulha nas trevas.

Mas há esperança. Porque o Cristo que dorme na barca nunca deixa de ser o Senhor do mar. A tempestade ruge, os ventos sopram, mas Ele continua ali — silencioso, esperando que o despertemos com a fé dos santos.

Enquanto os modernistas sonham com reformas, nós sonhamos com restauração. Enquanto eles falam de “mudança”, nós falamos de conversão. Porque a Igreja não precisa ser reinventada — precisa ser redescoberta.

E no fim, quando tudo o que é falso ruir, restará apenas o que sempre foi verdadeiro: o Coração Imaculado de Maria, a Missa Tridentina, o Evangelho eterno e o grito vitorioso da Tradição: “Non prævalebunt.”

Por um Católico consciente e atento ao cenário atual eclesial do Brasil e do Mundo.

Nota aos comentadores de plantão

Antes que algum iluminado dos tempos modernos venha nos acusar de “falta de caridade”, “intolerância” ou “rigidez farisaica”, deixemos algo bem claro: amar a verdade é o primeiro ato de caridade.

Aqueles que confundem caridade com conivência e misericórdia com moleza espiritual, deveriam revisar o Evangelho — se é que ainda o leem e não o substituíram por manuais de autoajuda com capa de cruz.

Não, não odiamos ninguém. Mas também não idolatramos a mentira. Chamamos pecado de pecado, heresia de heresia e apostasia de apostasia. Isso não é “ódio”, é coerência com o Cristo que disse “Sim, sim; não, não.”

Quando dizemos que o protestantismo é uma aberração, não é ofensa — é diagnóstico teológico. E se alguém se sente ofendido, talvez seja porque reconhece, lá no fundo, que trocou o altar pelo espelho e o sacrifício pela opinião pessoal.

Aos que se escandalizam com nossa linguagem firme: saibam que os Santos também falaram assim. Santa Catarina de Sena chamava os prelados frouxos de “demônios encarnados”; São Pio X dizia que o modernismo era a “síntese de todas as heresias”. E nenhum deles pediu desculpas no fim da homilia.

Portanto, comentadores de plantão, respirem fundo. Este diário não é uma catedral do “diálogo inter-religioso”. É uma trincheira. Aqui se defende o que o mundo despreza: a Cruz, a Missa, a Verdade, a Tradição.

Se quiserem comentar, comentem — mas tragam argumentos, não hashtags.
Se quiserem debater, debatam — mas com o Catecismo na mão, não com slogans de TikTok.

E se não gostarem… bem, ninguém é obrigado a ficar.

Afinal, como dizia Chesterton:

“A Igreja nos pede para que acreditemos em algumas coisas definidas e rejeitemos outras definidas — justamente para que possamos pensar livremente sobre tudo o resto.”

— Um católico em contrarrevolução.