O dia em que a Igreja se olhou no espelho do Mundo
Há sessenta e três anos, uma cerimônia revestida de pompa e
esperança inaugurou o que muitos chamaram de “a primavera da Igreja”. No
entanto, para quem enxerga com os olhos da fé antiga — aquela que sabe que a
cruz vem antes da glória —, foi o início de um inverno espiritual disfarçado de
luz.
O Concílio Vaticano II não apenas abriu as janelas da
Igreja: abriu também as portas — e, com elas, a vulnerabilidade do altar ao
vento do mundo. Sob o pretexto de dialogar, o sagrado começou a pedir desculpas
por ser sagrado. O “ecumenismo” virou senha de entrada para o relativismo; a
“liberdade religiosa”, bandeira para o desmantelamento da verdade objetiva.
Não se tratou de reconciliação, mas de rendição. A Igreja
que sempre buscara converter o mundo passou, sutilmente, a ser convertida por
ele. Os altares se tornaram mesas, os sacerdotes, animadores. E o templo —
outrora casa de oração — virou assembleia de consenso.
O Vaticano II quis se apresentar como continuidade, mas soou
mais como ruptura com a perenidade. A “Igreja conciliar”, nascida de suas
entranhas, acabou por preparar o ventre da “Igreja sinodal”, que já não se guia
pela hierarquia instituída por Cristo, mas por um espírito democrático que
confunde inspiração com opinião.
E assim chegamos a hoje: um corpo que já não sabe quem é,
porque tenta agradar o mundo que sempre o odiou. Um corpo que esquece que o
mesmo mundo que aplaude a “inclusão” crucificou o próprio Deus quando Ele ousou
dizer: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida.”
Talvez o verdadeiro aggiornamento não fosse “abrir-se
ao mundo”, mas recordar quem somos. Talvez o Espírito que pedimos em
Pentecostes não seja o mesmo “espírito do mundo” que hoje sopra dentro de
certas sacristias.
O Concílio quis modernizar a Esposa de Cristo, mas acabou
trocando o véu da pureza pelo cosmético da relevância. No fim, resta-nos a
promessa: as portas do inferno não prevalecerão.
Mas as portas do Vaticano… essas, às vezes, parecem
escancaradas demais.
Por seu Irmão Carmelita Secular da Antiga Observância B.