Liberdade Religiosa: A última fronteira da consciência humana
Introdução
A liberdade religiosa é o oxigênio da alma humana. Quando
falta, o espírito adoece, as culturas se degradam e as civilizações se tornam
máquinas frias. O artigo 18º da Declaração Universal dos Direitos Humanos não
nasceu por acaso: foi o grito de uma humanidade traumatizada pela guerra, pela
perseguição e pelos totalitarismos que tentaram apagar Deus da história. No
entanto, o que o Relatório de Liberdade Religiosa no Mundo (2025) nos mostra é
um cenário de retrocesso: mais da metade da população mundial vive sob
restrições severas à sua fé.
Vivemos tempos paradoxais. Fala-se muito em “tolerância”,
mas há pouca disposição real para tolerar o transcendente. Em sociedades cada
vez mais polarizadas, crer se tornou um ato político e a religião um campo de
batalha ideológica. Os regimes autoritários temem a fé porque ela liberta. E as
democracias frágeis a desprezam porque ela incomoda. De um lado, o fanatismo
destrói templos; de outro, o secularismo constrói prisões invisíveis.
Essa realidade não é apenas política: é espiritual. O mundo
contemporâneo sofre de uma profunda orfandade de sentido. Ao expulsar Deus do
debate público, abriu espaço para novas idolatrias: o Estado, o consumo, a
ideologia. E quando o homem deixa de adorar o Criador, começa a adorar as
criaturas. É a velha tentação do Éden, reciclada com linguagem moderna.
A perseguição hoje é multifacetada. Pode vir com armas ou
com decretos; com bombas ou com hashtags; com prisões ou com o silêncio social.
O novo martírio muitas vezes não tem sangue, mas tem solidão. A fé cristã, que
moldou continentes e civilizações, agora é vista como obstáculo por muitos dos
mesmos povos que dela se nutriram.
Por isso, refletir sobre a liberdade religiosa em 2025 é
mais do que um exercício político: é uma tarefa teológica. É compreender que a
batalha pela liberdade de crer é, na verdade, a batalha pela alma do homem. Sem
liberdade de adorar, o homem esquece quem é — e a sociedade esquece o que é
humano.
A Liberdade Religiosa nos Cinco Continentes
África: A fé sob o fogo cruzado
A África é hoje o continente do martírio silencioso. No
Sahel, os grupos jihadistas espalham terror sob a bandeira do extremismo
religioso. Em Burkina Faso, Mali, Nigéria e Níger, igrejas são incendiadas,
padres sequestrados e aldeias inteiras forçadas a renunciar à fé cristã. O
cristianismo africano — vibrante, comunitário e jovem — é atacado justamente
por ser esperança.
Mas a perseguição não vem só do extremismo islâmico: também
há conflitos étnicos e políticos que instrumentalizam a religião. No Sudão, na
Eritreia e na Etiópia, ser cristão pode significar ser subversivo. Ainda assim,
a Igreja africana resiste. Ela cresce, canta e chora. Entre o pó e o sangue, os
católicos africanos mostram ao mundo que a fé ainda pode florescer mesmo entre
as cinzas da violência.
Ásia: O império do controle e a resistência dos crentes
A Ásia é o continente onde o autoritarismo mais
explicitamente tenta controlar a alma. Na China, o Estado busca “sinicizar” a
fé, forçando igrejas a colocar retratos do Partido no lugar dos santos. A
Coreia do Norte proíbe completamente qualquer expressão religiosa, enquanto no
Vietnã e no Laos cristãos indígenas são forçados a renunciar à fé sob tortura e
ameaça.
Na Índia, o nacionalismo hindu transformou o cristianismo em
alvo político. Ser católico é, para muitos, sinônimo de traição à pátria.
Igrejas são atacadas, missionários vigiados e comunidades inteiras
marginalizadas. No Paquistão, a lei da blasfêmia continua sendo um instrumento
de terror — especialmente contra mulheres e crianças cristãs.
Contudo, é também na Ásia que encontramos os mártires mais
discretos e heroicos. Na China, comunidades subterrâneas celebram a Eucaristia
em segredo. No Afeganistão e no Irã, convertidos arriscam a vida por Cristo.
São testemunhos de uma fé indomável — fé que não se dobra diante de nenhum
imperador terreno.
Europa: A fé no exílio cultural
A Europa, outrora berço do cristianismo ocidental, hoje
experimenta uma forma sutil de perseguição: a exclusão simbólica. Igrejas
vazias, procissões ridicularizadas e símbolos cristãos banidos do espaço
público revelam uma civilização que renega suas próprias raízes. A liberdade
religiosa é teoricamente garantida, mas culturalmente desprezada.
O secularismo europeu, ao tentar banir a fé da vida pública,
criou um vácuo espiritual. Em países como França, Bélgica e Espanha, padres são
alvos de processos por pregarem verdades morais; cruzes são retiradas de
espaços públicos sob o pretexto de neutralidade. A indiferença substituiu o
ódio, mas o resultado é o mesmo: a fé relegada ao gueto.
No entanto, há sinais de resistência. Mosteiros renascem,
movimentos jovens se multiplicam, e peregrinações antigas voltam a atrair
multidões. A Europa poderá reencontrar-se com a sua alma — mas só se voltar a
olhar para o Crucificado, aquele que moldou sua história e deu sentido à sua
cultura.
Américas: Entre o populismo e o martírio silencioso
As Américas vivem uma dupla crise: de fé e de liberdade. Na
América Latina, o controle estatal e o crime organizado se tornaram novas
formas de opressão religiosa. No México e no Haiti, padres e freiras são
sequestrados, igrejas são saqueadas e comunidades cristãs vivem sob o jugo de
gangues. Na Nicarágua, o regime persegue abertamente a Igreja Católica,
expulsando ordens religiosas e prendendo bispos.
Na América do Norte, o cenário é diferente, mas igualmente
preocupante. Nos Estados Unidos e no Canadá, a liberdade religiosa é corroída
por dentro — não pela violência física, mas pela pressão ideológica. Ser
católico fiel aos ensinamentos da Igreja tornou-se um ato de resistência
cultural. As instituições tentam redefinir o que é moralmente aceitável, e quem
se opõe é rotulado como intolerante.
A América, que já foi símbolo da liberdade religiosa, começa
a tratar a fé como ameaça à ordem. No entanto, também ali, pequenas luzes
brilham: escolas católicas, mosteiros urbanos, movimentos pró-vida e jovens
missionários que redescobrem o valor da fé pública. O martírio das Américas é o
martírio da coerência: viver o Evangelho num mundo que o considera obsoleto.
Oceania: O laboratório da conformidade ideológica
A Oceania raramente aparece nos relatórios de perseguição,
mas a liberdade religiosa também está sob ataque sutil por lá. Na Austrália e
na Nova Zelândia, as pressões legislativas e culturais criam um ambiente hostil
à fé tradicional. Padres e professores católicos são processados por se
recusarem a contradizer a doutrina moral da Igreja; escolas católicas enfrentam
sanções por manterem identidade confessional.
A liberdade de consciência é ameaçada pela ditadura do
politicamente correto. Não há prisões nem torturas, mas há coerção social. A fé
é tolerada desde que se conforme ao discurso dominante. É o martírio branco —
aquele que mata a fé não com violência, mas com indiferença e ridicularização.
A Igreja na Oceania, pequena mas fiel, continua a ser uma
voz profética. Sua resistência é intelectual e pastoral. Enquanto o mundo se
curva à ideologia, ela recorda que o Evangelho não se negocia.
Considerações finais
A liberdade religiosa é o espelho da liberdade interior.
Onde o homem não pode crer, também não pode amar plenamente. O relatório de
2025 revela não apenas uma crise política, mas uma crise de alma. A perseguição
à fé é sempre, no fundo, uma perseguição à verdade — e o mundo moderno, em seu
orgulho, não suporta a verdade que o transcende.
O Catolicismo, neste cenário, continua sendo o farol da
dignidade humana. A Igreja, espalhada pelos cinco continentes, é o testemunho
vivo de que a fé não é privilégio, mas direito. E mais: é necessidade vital.
Ela não se cala diante do poder, porque serve a um Rei que não é deste mundo.
A defesa da liberdade religiosa, para nós, não é mero
ativismo. É uma forma de evangelização. É proclamar que o homem tem uma alma —
e que essa alma não pertence ao Estado, à ideologia nem ao mercado. Pertence a
Deus.
Precisamos redescobrir a coragem dos antigos — dos mártires,
dos confessores, dos monges que salvaram a civilização quando tudo parecia
perdido. A nossa geração, cercada de confortos, esqueceu que a fé custa. Mas a
liberdade verdadeira sempre tem um preço.
E, por fim, é preciso lembrar: cada vez que um cristão é
impedido de rezar, toda a humanidade perde um pouco de si mesma. A liberdade
religiosa é o último bastião da esperança. Defendê-la é defender o coração
mesmo da civilização. Sem fé, o homem se torna apenas matéria; sem liberdade,
torna-se escravo. Mas onde há fé livre, há ainda humanidade — e há futuro.
Caro leitor, com o propósito de aprofundar-se nesse tema, disponibilizo o link para que possa fazer o download do Relatório de 2025, elaborado pela Fundação Pontifícia ACN (Ajuda à Igreja que Sofre).