O Silêncio das Catedrais e o Grito da Tradição

Diário de um Católico na Contrarrevolução — Parte 23

Introdução: qando o incenso se mistura à fumaça do mundo

Há dias em que entro na igreja e sinto que algo falta. Não é o incenso, nem o som dos sinos — é a alma. O templo está de pé, mas o espírito parece ausente. As palavras soam católicas, mas o conteúdo já foi negociado na feira das ideias modernas. Tudo é tão “inclusivo”, tão “aberto”, tão “dialogal”, que o único interdito que resta é o da ortodoxia.

Vejo homilias que mais parecem palestras de autoajuda com pitadas de sociologia. E, quando alguém menciona pecado, inferno ou sacrifício, o ambiente se contrai, como se um palavrão tivesse sido dito. A Missa, que antes era o Calvário tornado presente, virou uma assembleia horizontal de “celebrantes” sorridentes. É o mistério trocado por entretenimento.

Mas o católico da Contrarrevolução não é um romântico nostálgico. Ele não quer reviver o passado como peça de museu — quer, antes, manter viva a chama que santificou gerações.

Entre o altar voltado ao homem e o coração voltado a Deus

O modernismo e suas filiais contemporâneas têm um talento invejável: conseguem vestir o erro com a roupagem da virtude. Dizem que defendem a “abertura ao mundo”, mas o que realmente abrem são as comportas da confusão. Citam o “Espírito do Concílio” como se fosse o Espírito Santo encarnado em powerpoints pastorais.

O resultado é visível: igrejas vazias, vocações em queda, confissões raras e uma geração inteira que não sabe mais o que é o Santíssimo Sacramento. Substituímos o latim — língua sagrada e universal — pelo improviso sentimental de cada comunidade. Trocamos o silêncio adorador pelo falatório incessante.

E no meio desse pandemônio litúrgico, ergue-se o fiel que redescobre a Missa de sempre — o Santo Sacrifício na forma como sempre foi, onde cada gesto, cada inclinação, cada palavra, aponta para o Mistério. A Missa Tridentina é a resposta silenciosa ao ruído do século. Não é nostalgia: é sobrevivência.

Os santos não precisavam de microfones, comissões litúrgicas ou slogans sinodais para converter o mundo. Tinham joelhos no chão, rosário nas mãos e o altar voltado para o Oriente — para Deus. Santo Atanásio, São Pio X, Santa Teresa d’Ávila, São João da Cruz, todos viveram em tempos de crise e heresia, mas nenhum confundiu fidelidade com covardia.

O católico da Contrarrevolução, portanto, não é um rebelde: é um soldado que se recusa a abandonar o estandarte da fé.

Exemplos concretos: as ruínas que falam e o pequeno resto

É nas paróquias desfiguradas, nas homilias diluídas e nos altares despedaçados que o contraste grita. O modernismo é como uma infestação silenciosa: entra pelos tapetes coloridos da “renovação pastoral” e termina corroendo a estrutura da fé.

Há padres que, sem perceber, pregam a misericórdia sem arrependimento, a comunhão sem confissão e o amor sem cruz. É um cristianismo de superfície, que fala de Cristo, mas teme o Cristo crucificado.

E, no entanto, há sinais de esperança — pequenos, mas luminosos. Jovens que aprendem o latim para rezar melhor. Famílias que redescobrem o jejum e a confissão frequente. Paróquias que restauram o canto gregoriano, o altar-mor e o silêncio. É o pequeno resto de Israel, o grão de mostarda que o mundo despreza, mas que Deus guarda com ciúme.

Concluindo: a contrarrevolução começa no altar

A contrarrevolução católica não se faz com panfletos, mas com genuflexões. Não é grito de guerra, é súplica diante do Santíssimo. É a reconquista do sagrado, o retorno à verticalidade perdida.

Porque o problema central não é estético, é teológico: ou a Missa é o Sacrifício do Calvário, ou é um jantar simbólico. Se for o primeiro, ajoelhamo-nos; se for o segundo, levantamo-nos para aplaudir.

O católico fiel sabe que não pode servir a dois altares: o de Cristo ou o do espírito do mundo. E entre a fumaça de incenso e a fumaça de enxofre, escolhe a que sobe ao Céu.

O silêncio das catedrais pode ser ensurdecedor, mas o grito da Tradição ainda ecoa — nas catacumbas, nos corações fiéis, nas pequenas capelas onde a Missa de sempre continua sendo celebrada.

E ali, diante do altar voltado a Deus, o católico da Contrarrevolução reza, combate e espera.

Porque sabe que a vitória final não será das estratégias, mas da fidelidade.

Por um Católico consciente e atento ao cenário eclesial do Brasil e do Mundo.