No Ardor de um Manto Branco

Crônica para o dia de Santo Alberto de Trapani (7 de agosto)

Um dia, o manto branco caiu sobre seus ombros.

Simples frase. Mas que abismo de sentido! Na história dos santos, os gestos mais silenciosos escondem os terremotos da graça. Esse “cair de um manto” não foi mero ato cerimonial. Foi o símbolo visível de uma escolha invisível: Alberto entregava sua vida à Senhora do Monte Carmelo, e ela, por sua vez, entregava a ele uma missão. A missão dos que ardem — mas não consomem. Dos que curam — mas sangram. Dos que pregam — mas vivem primeiro o que anunciam.

E ali começou tudo.

Naquele instante, o céu se curvou para tocar a terra. As graças se derramaram como óleo perfumado sobre o jovem siciliano. Mas o que ele pediu? Fama? Honras? Revelações místicas? Não.

Seu único desejo foi crescer em virtude

Isso é heroísmo. Isso é revolução. Num mundo que idolatra poder, Santo Alberto buscou pureza. Num tempo em que a palavra “êxito” se escrevia com moedas, ele preferiu que sua vida soasse como um cântico escondido nas celas do convento ou nos becos da pobreza. Sua alma queria uma só coisa: refletir em sua vida a luz de Jesus.

E esse é o ponto que nos atravessa o peito como flecha fina e certeira: Quantos de nós ainda desejamos isso?

Não a luz dos holofotes. Não a luz do reconhecimento digital. Mas a luz d’Aquele que brilha no silêncio do Sacrário. A luz que desce quando a alma se dobra em adoração. A luz que purifica, incomoda, incompreende, mas salva.

Santo Alberto de Trapani viveu isso com ardor. Viveu tão perto da Cruz, que dela recebeu o dom dos milagres — não como espetáculo, mas como serviço. A sua santidade era tão real que curava febres. Libertava possessos. Tocava os miseráveis com compaixão. E tudo isso com humildade e pobreza, como quem sabe que é apenas instrumento, e que a música vem de Deus.

Há um trecho da oração litúrgica que o invoca assim:

“Senhor Deus, que concedeste a Santo Alberto de Trapani um espírito de oração ardente, um amor puro e uma fé viva…”

Pois é isso que falta ao nosso século: Oração ardente. Amor puro. Fé viva.

Não um catolicismo de aparência, mas de substância. Não um ativismo estéril, mas um recolhimento fecundo. Não uma piedade emocionalista, mas uma entrega radical, que respira evangelho até no silêncio.

E por isso, no dia 7 de agosto, quando ressoam os sinos do Carmelo, quando se benze a água milagrosa em seu nome, quando a alma do povo simples se curva em súplica, não celebramos apenas um santo. Celebramos um modelo. Celebramos uma chama. Celebramos um amigo de Deus que nos mostra, com a vida, que a verdadeira glória não está em ser visto, mas em refletir Jesus.

Que Santo Alberto de Trapani rogue por nós.

Que desperte em nossos corações o desejo de uma fé viva, humilde e fiel.

E que a Senhora do Carmo nos revista, a nós também, com aquele manto branco... Para que sejamos, como ele, reflexos da luz que não se apaga.

Amém.

Por seu Irmão Carmelita Secular da Antiga Observância B.