A Verdade Que Clama dos Altares
A revelação trazida pela vaticanista Diane Montagna não é apenas um dado histórico interessante — é um verdadeiro sinal dos tempos. Segundo seu acesso aos resultados da consulta feita aos bispos em 2020 sobre o Summorum Pontificum, a maioria não só via com bons olhos a aplicação do motu proprio de Bento XVI, como também considerava que mudanças legislativas causariam mais mal do que bem.
O que dizer, então, do Traditiones Custodes, que foi promulgado com a justificativa de que os bispos estavam amplamente insatisfeitos com o Rito Romano Tradicional?
Se essa revelação se confirmar — e tudo indica que é digna de crédito —, estamos diante de uma crise de confiança muito séria dentro da Igreja. Não apenas porque se impôs uma legislação com base em uma narrativa questionável, mas porque isso afetou diretamente a vida espiritual de milhares de fiéis e sacerdotes que encontraram, na liturgia tradicional, uma fonte legítima de santidade e fidelidade à Tradição da Igreja.
A Missa Tradicional não é um “movimento alternativo” ou um capricho estético. Ela é parte viva da memória litúrgica da Igreja, cultivada durante séculos e celebrada por incontáveis santos — inclusive muitos que estão nos altares hoje. Tentar reduzi-la, marginalizá-la ou eliminá-la com base em justificativas frágeis (ou, pior, distorcidas) é ferir a própria continuidade da fé católica.
É preciso dizer com clareza: uma unidade construída à custa da verdade não é unidade cristã, mas uniformidade imposta. A verdadeira comunhão nasce da caridade e da verdade. Não se apaga o passado da Igreja como se fosse um erro a ser corrigido. Muito menos quando esse passado foi o berço de gerações inteiras de santos, mártires, doutores e fiéis humildes.
Hoje, na festa do Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor — Sangue que escorre também dos altares onde a Missa de Sempre ainda é celebrada — peçamos a graça de uma verdadeira reconciliação litúrgica: não feita de decretos e restrições, mas de reconhecimento, liberdade e amor pela herança recebida.
Que os pastores da Igreja escutem o clamor dos fiéis e se deixem guiar não por estratégias eclesiásticas, mas pela voz da Tradição viva, que nunca contradiz o Espírito Santo.
Ir. Alan Lucas de Lima, OTC
Carmelita Secular da Antiga Observância