A janela de Santa Teresa

Na calada da noite, quando todos dormem e o mundo parece suspirar por um instante, há corações que continuam despertos. Não por insônia, nem por ansiedade. Mas por amor. Daquele tipo raro — amor que vela, que vigia, que não se acomoda. Amor que não ronca nem relaxa. Um amor que se levanta.

Santa Teresa, essa mulher que enfrentava mais demônios do que os livros nos contam, fundava conventos como quem planta árvores em meio ao deserto: com esperança teimosa e mãos cheias de fé. Em Medina del Campo, ela mal tinha paredes decentes. O lugar era mais ruína do que convento. E mesmo assim, ali — ali mesmo — ela quis que Jesus ficasse. No altar pobre, com pão e vinho e pouca segurança. Mas isso nunca a impediu. Ela sabia: onde está o Santíssimo, aí está o coração da casa.

Só que Teresa não era mística de abstrações doces. Não era dessas que dizem “confia em Deus” e vão dormir despreocupadas. Ela confiava — mas com os olhos bem abertos. Por isso, colocava homens de guarda, sim. Mas o que mexe com a gente — e aqui está o escândalo da santidade — é que ela mesma se levantava de noite, mais de uma vez, para espiar pela janelinha e ver se estavam acordados.

Quem ama não terceiriza. Quem ama cuida — com o próprio corpo, com o tempo, com o sono perdido. Teresa era dessas. Tinha o coração como a tal janelinha: sempre aberto. Sempre olhando pra fora de si, vigiando o Amado. Era uma mulher apaixonada. Não no sentido romântico bobo, mas com aquele fogo que consome o ego, que derrete a alma e transforma vigília em oração silenciosa.

Pensa bem: quem hoje se levanta no meio da noite por amor a Cristo escondido num tabernáculo? Quem hoje perde o sono por zelo? A maioria de nós se contenta com a ideia de que “alguém deve estar cuidando”. Mas Teresa não deixava esse “alguém” solto no ar. Ela conferia. E se preciso fosse, ela mesma ficava ali, vigiando o Deus escondido, feito mãe ao lado do berço.

A cena dela espiando pela janela, iluminada pela lua, é uma poesia que prega. Uma dessas imagens que deveriam estar estampadas na alma de cada cristão. Porque no fundo, todos nós temos uma janelinha assim. E todos temos algo sagrado dentro da nossa casa interior que precisa ser vigiado, protegido, amado com atenção.

A espiritualidade, no estilo de Teresa, não é para gente sonolenta. É para quem ama a ponto de levantar-se. É para quem entende que Deus merece mais do que palavras bonitas — Ele merece olhos abertos no meio da noite.

Por seu Irmão Carmelita Secular da Antiga Observância B.