Carmelo: onde o silêncio grita Deus

Na soleira do Carmelo não se entra correndo. Ali se pisa calçado,
de mansinho, com o coração queimando e a alma em alerta. Porque o Carmelo não é
um lugar – é um jeito de existir. E, neste existir, três dimensões sustentam o
teto sagrado do nosso caminhar: o fogo do profeta, o silêncio da Mãe e o abraço
da família.
O Profeta Elias: o fogo que nos precede
No alto do Carmelo, onde o céu toca a terra e o vento sopra
mistério, Elias se escondeu para ouvir a Voz. Mas antes disso, ele enfrentou os
profetas de Baal, clamou pelo fogo do céu e deixou claro que a aliança com Deus
não se negocia.
O carmelita da Antiga Observância carrega esse espírito de
Elias no íntimo, não como espetáculo, mas como fidelidade radical.
Enquanto o mundo adora o barulho, nós buscamos o sopro suave. Enquanto o
mundo clama por relevância, buscamos a presença de Deus no escondido.
Nos tempos atuais, ser Elias é guardar o fogo da
ortodoxia quando a brisa morna do relativismo quer apagar as chamas. É
permanecer firme na Tradição, não como um saudosista, mas como um sentinela
da Aliança, que sabe que Deus não muda — e isso é boa notícia.
Somos a Ordem de Maria: do silêncio fecundo ao serviço discreto
Ah, Maria... Ela não fala muito nas Escrituras, mas quando
fala, é definitivo. E é isso que o carmelita aprende dela: falar com a vida,
meditar com o coração, sair ao encontro com humildade.
Ser da Ordem de Maria é viver como filho e irmão. Não é só
uma devoção, é identidade. É olhar o mundo com os olhos dela, que
guardava tudo e confiava em Deus mesmo quando tudo parecia perdido. É
cultivar um coração que escuta mais do que fala, que ora mais do que aparece.
Na Antiga Observância, essa espiritualidade é o próprio ar
que se respira: a liturgia, o silêncio, o trabalho manual, a lectio divina...
Tudo forma um mosaico mariano, onde cada gesto é oração. Como Maria, não
fugimos do mundo, mas o oferecemos ao Pai no altar do coração.
E quanto à vida fraterna? Se Santa Teresa reformou, o que sobrou pra nós?
Boa pergunta — e a resposta é simples: tudo!
Porque a vida fraterna não foi invenção da Reforma
Teresiana. Teresa apenas deu novo vigor àquilo que já existia. A Antiga
Observância já vivia em comunidade, com a Regra de Santo Alberto como guia —
uma regra breve, mas profunda, centrada em Cristo e na vida comum, em oração
constante e trabalho humilde.
A diferença está no ritmo e no estilo. Na Teresiana,
as fundações são pequenas, austeras, um pouco mais “apostólicas” em certo
sentido. Já na Antiga Observância, temos o gosto pela estabilidade, pela
vida mais monástica e contemplativa. Mas em ambas pulsa o mesmo coração: ninguém
se salva sozinho.
No Carmelo — reformado ou não — a fraternidade não é
estratégia de convivência, mas sacramento do Reino. É escola de
amor. É purgatório da língua. É academia de paciência. É espelho da Trindade.
Concluindo: O Carmelo é um só — e arde em todos que nele
vivem
Pode ser Teresa com sua pena de fogo ou Elias com sua capa
no alto do monte. Pode ser Maria em silêncio ou o irmão que racha lenha no frio
da manhã. O Carmelo é um só. E você, Irmão B., como carmelita da Antiga
Observância, ou desejoso de ser, é guardião das origens, sentinela do
silêncio, vigilante do fogo que não se apaga.
Não precisa “atualizar” nada. Precisa só perseverar —
como quem guarda um tesouro enquanto o mundo corre atrás de fumaça. A
verdadeira revolução é ser fiel ao que é eterno.
Por seu Irmão Carmelita Secular da Antiga Observância B.