Portas Abertas, Almas Vazias

Dizem que o diabo anda por aí, mas a verdade é que ele não anda: ele corre. Não precisa mais entrar pelos fundos — as portas estão escancaradas. E não falo de cavernas escondidas nem de rituais de meia-noite. Falo da sala de estar, do feed do celular, do coração deserto onde Deus já não tem cadeira.
O mundo moderno — tão polido, tão progressista — ergueu
altares ao ego, à fama, ao prazer e à opinião própria. E ali, onde antes se
rezava o terço, hoje se recita mantras vazios com vozes arrastadas, esperando
que o “universo” dê aquilo que só Deus pode conceder: sentido.
Cristina, aquela mulher que gritou com a voz de muitos no
exorcismo de Roma, é símbolo de uma geração. Sua dor não era só dela. Era a dor
de um mundo que largou o confessionário e foi buscar alívio no horóscopo. Que
abandonou o altar e se ajoelhou diante de telas. Que acha o demônio um
personagem de série — e não um predador de almas.
Pe. Gabriele Amorth, que enfrentou o mal com o crucifixo
numa mão e o rosário na outra, dizia que o inferno está cheio de “curiosos
espirituais”. Gente que abre o coração ao esoterismo como quem abre janela pra
um furacão. E depois pergunta por que tudo foi destruído.
Santa Teresa d’Ávila já alertava: “o demônio é hábil, e se
disfarça com ares de luz”. O problema é que hoje, até dentro da Igreja, tem
quem já não acredita mais nem no demônio. E se não há inimigo, pra que
combater? Pra que jejuar? Pra que confessar?
Mas a verdade — aquela que não muda com as modas — é dura e
luminosa: quem não vive em estado de graça está em perigo mortal. O mal
não invade à força. Ele seduz. Ele se aproxima de mansinho, como serpente entre
folhas secas, e quando percebe que ali não há oração, nem penitência, nem fé...
entra. E se instala.
O diabo não precisa de rituais satânicos quando já tem
corações mornos, paróquias silenciosas, altares sem sacrifício. Ele não precisa
se esconder: estamos é cegos demais pra ver.
Mas nem tudo está perdido.
Ainda há santos de joelhos. Ainda há quem jejua nas sextas,
quem reza o rosário no silêncio da madrugada, quem crê com a força de um
mártir. Ainda há confessionários abertos, velas acesas, velhinhas que carregam
a Igreja nas costas com sua fé miúda — e poderosa.
Cristo venceu. A cruz é a bandeira. Mas cada geração precisa
levantar essa bandeira de novo — com sangue, com verdade, com coragem.
A pergunta é simples e urgente: No combate que se
trava entre céu e inferno, de que lado você está?
Por seu Irmão Carmelita Secular da Antiga Observância B.