Grandeza e vocação da alma segundo Santa Teresa
Para Santa Teresa, a grandeza e a dignidade da alma estão enraizadas no fato de ter sido criada à imagem e semelhança de Deus — e é isso que a constitui como pessoa:
“Não encontro com o que comparar a grande beleza de uma alma e sua imensa capacidade;... pois Ele mesmo diz que nos criou à sua imagem e semelhança;... Ora, se isso é assim — como de fato é —, não precisamos nos cansar tentando compreender a beleza deste castelo;... basta que Sua Majestade diga que é feito à sua imagem para que mal possamos entender a grande dignidade e beleza da alma”. (Moradas I, 1,1)
A grandeza do ser humano reside no fato de que Deus habita
nele — e é, por participação, de natureza divina. Esta é a razão mais sólida
para o desejo de Deus e para a possibilidade de viver uma relação de amizade
com Ele. Deus está sempre presente, mesmo nas situações que nos pareceriam mais
adversas:
“É de se considerar aqui que a fonte e aquele sol resplandecente que está no centro da alma não perde seu brilho e beleza; ele está sempre dentro dela, e nada pode tirar-lhe sua formosura”. (Moradas I, 2,3)
Somos habitados por Deus. Tornar-se consciente disso
é chave para Teresa — é seu maior bem, sua alegria e seu júbilo. Ela fala a
partir dessa experiência viva da presença divina. Essa consciência é também
fundamental, pastoralmente falando, para hoje crermos na possibilidade real de
viver essa experiência de Deus, mesmo quando as circunstâncias parecem gritar o
contrário.
O fato de termos sido criados à imagem e semelhança de Deus
e de sermos habitados por Ele revela a grandeza da pessoa humana:
“Se considerarmos bem, irmãs, a alma do justo não é outra coisa senão um paraíso onde Ele diz que tem seus deleites... Que tal vos parece será o aposento onde se deleita um Rei tão poderoso, tão sábio, tão puro, tão cheio de todos os bens?” (Moradas I, 1,1)
Por isso, a vocação da alma humana é extraordinária: unir-se
a Deus e viver em relação consciente com Ele. O ser humano, por sua
própria identidade, tem vocação para o eterno: “ter sua conversação nada
menos que com Deus” (Moradas I, 1,6). A alma é capax Dei —
capacidade para Deus, inclinação para Deus:
“Sendo tão capaz de gozar Sua Majestade como o cristal é capaz de refletir o sol”. (Moradas I, 2,1)
Santa Teresa vive cheia de assombro e encantamento
diante da grandeza e da felicidade que é ser consciente dessa presença — e quer
compartilhar isso, para que os outros também despertem para este dom imenso:
“Dar-vos a entender algo das mercês que Deus se digna fazer às almas... é possível, mesmo neste desterro, comunicar-se um Deus tão grande... e amar uma bondade tão boa e uma misericórdia tão sem medida”. (Moradas I, 1,3)