Campanha da Fraternidade: Quando a Fé Vira Panfleto

Introdução
A Campanha da Fraternidade nasceu em 1964, com o objetivo de despertar a solidariedade e a justiça social dentro da Igreja Católica no Brasil. Inspirada pelo Concílio Vaticano II, a campanha propôs que os fiéis se unissem em ações concretas para transformar a sociedade, levando em conta temas como pobreza, educação e direitos humanos. A cada ano, um novo tema é escolhido para focar em questões sociais urgentes do país.
No entanto, apesar da boa intenção de promover mudanças, a Campanha da Fraternidade tem enfrentado algumas críticas. A principal delas é a politização dos temas abordados, o que faz com que muitos fiéis vejam as campanhas como uma imposição ideológica. Além disso, em alguns casos, a campanha não traz soluções claras ou resultados concretos, o que gera uma sensação de desconexão entre as pessoas e o movimento.
Outro problema é a falta de relevância para as novas gerações. Com o perfil dos fiéis mudando, especialmente entre os jovens, que são na maioria conservadores e tradicionais. A Igreja tem dificuldade de se comunicar de forma eficiente, o que faz com que muitos se distanciem da campanha. A ascensão das igrejas evangélicas, com sua abordagem mais pragmática e direta, também tem contribuído para o declínio do engajamento nas campanhas católicas.
Em resumo, a Campanha da Fraternidade enfrenta desafios para manter sua relevância. Ela continua a ser uma importante ação da Igreja, mas precisa se adaptar ao novo cenário social e político para continuar engajando os fiéis de maneira eficaz.
Um pouco de sua história
A Campanha da Fraternidade (CF) surgiu no Brasil nos anos 1960, como uma iniciativa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A primeira edição foi em 1964, em Natal (RN), inspirada por padres e leigos ligados ao movimento de renovação pastoral do Concílio Vaticano II. O objetivo era simples e direto: despertar os fiéis para a responsabilidade social e promover a caridade concreta durante a Quaresma. Ela nasceu num tempo em que o Brasil enfrentava miséria gritante e desigualdade social absurda — o Evangelho precisava sair das paredes da igreja e pôr o pé na lama.
Com o tempo, a campanha foi crescendo, ganhando força e
temas anuais: educação, saúde, moradia, meio ambiente, economia, violência...
Tudo isso sob o lema clássico: “Ver, Julgar e Agir” — uma adaptação da
metodologia de ação católica. A ideia era analisar a realidade (ver),
confrontá-la com o Evangelho (julgar) e propor ações concretas (agir).
Tá, mas... onde o caldo entornou?
Nos últimos anos, uma parte significativa dos fiéis
começou a torcer o nariz pra CF, e não é à toa. Aqui vão os principais
pontos de rejeição:
- Politização ideológica: Muitos acusam a campanha de ter se tornado uma vitrine para pautas ligadas à esquerda política. Em vez de um chamado à conversão e à caridade, parece um manifesto do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) em alguns anos. Isso gera um baita ruído, especialmente entre católicos mais conservadores ou tradicionais.
- Temas polêmicos: Algumas edições trouxeram temas que fogem do consenso moral da Igreja. Em 2021, por exemplo, a CF foi ecumênica (feita com outras denominações cristãs), e o texto-base tinha passagens que pareciam endossar ideologia de gênero e pautas progressistas, segundo críticos. O caos foi tanto que bispos, padres e leigos se recusaram a apoiar, um fato inédito.
- Perda do foco espiritual: Há quem diga que a CF se afastou do seu núcleo original — que era ajudar os fiéis a viver a Quaresma com mais intensidade — para virar quase um projeto de ONG. Menos oração, mais sociologia. Resultado? A galera não se sente espiritualmente alimentada.
- Confusão doutrinal: Quando a CF começa a parecer mais um panfleto de movimento social do que um chamado ao Evangelho, o fiel comum fica perdido. “Isso ainda é católico ou já é militância disfarçada?”, muitos perguntam.
- Rejeição ao ecumenismo forçado: Muita gente se sentiu traída quando viu documentos da CF citando líderes ou ideias de religiões não católicas, sem uma firme reafirmação da doutrina católica. Parece que o “tudo é igual” dominou, o que fere a Tradição da Igreja.
Em resumo:
A intenção original da Campanha da Fraternidade era
linda: evangelizar, sacudir a consciência dos católicos, fazer a fé virar ação.
Mas o rumo que ela tomou em certos anos deixou de lado a clareza doutrinal e
espiritual, apostando alto em discursos sociais e políticos. Isso fez com
que muitos católicos — especialmente os mais apegados à Tradição — se
sentissem traídos ou deslocados.
E, convenhamos, quando a Igreja perde sua voz profética para
virar apenas uma repetidora do discurso de moda… algo muito valioso se perde.
📜 ALGUNS TEMAS DA CF (seleção dos últimos anos)
2015 – “Fraternidade: Igreja e Sociedade”
Lema: “Eu vim para servir”
🔥 Começaram críticas mais abertas, pois muitos viram no texto uma aproximação exagerada com pautas políticas e sociais, com menos foco na evangelização direta.
2018 – “Fraternidade e superação da violência”
Lema: “Vós sois todos irmãos”
→ Embora bem-intencionada, teve críticas por usar termos muito parecidos com os de movimentos progressistas, além de fugir da raiz espiritual da Quaresma.
2020 – “Fraternidade e vida: dom e compromisso”
Lema: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele”
🌿 Mais suave, teve menos polêmica. Um retorno a algo mais humano e menos ideológico.
💣 2021 – O ANO DO ESTOURO
Tema: “Fraternidade
e Diálogo: compromisso de amor”
Lema: “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade”.
(Ef 2,14)
- Foi organizada em parceria com o CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs), que inclui grupos protestantes, alguns deles abertamente contrários à doutrina católica.
- O texto-base continha linguagem e conceitos associados à ideologia de gênero, à militância LGBTQIA+ e ao discurso antidiscriminação sem uma clara defesa da moral cristã tradicional.
- Havia críticas veladas à Igreja, à “estrutura patriarcal” e outros jargões que soaram mais como sociologia militante do que teologia.
- Bispos e padres se manifestaram contra. Fiéis boicotaram a coleta da CF. Teve até carta pública de clérigos pedindo à CNBB para que o texto fosse retirado.
Esse foi, sem sombra de dúvida, o tema mais polêmico e
rejeitado da história da CF. Por quê?

👉 Foi nesse ano que muitos se perguntaram: “Ainda é a Campanha da Fraternidade ou virou a Campanha da Fragmentação?”
🧭 Resumo da ópera
A CF-2021 virou símbolo de tudo que muitos fiéis tradicionais criticam: ecumenismo mal conduzido, relativismo doutrinal, militância travestida de caridade. Foi o ponto de ruptura para muitos, que decidiram não apoiar mais a CF nos anos seguintes, por receio de colaborar com algo que parecia estar desviando da fé católica tradicional.
Referência do artigo
Campanhas - CNBB: Cronologia e história da Campanha da Fraternidade.
ACI Digital: Relata críticas ao texto-base da campanha por conter referências à ideologia de gênero, com comentários de bispos como Dom Odilo Pedro Scherer e Dom Adair José Guimarães.
CNBB: Publicou uma nota de esclarecimento reafirmando a doutrina da Igreja sobre questões de gênero e explicando o conteúdo da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021. (Idem)
A12.com: Apresenta a perspectiva de Dom Odilo Scherer sobre a polêmica, destacando a importância do ecumenismo e defendendo a campanha contra críticas infundadas.
Schoenstatt.org: Discute o papel do Núcleo Ecumênico e Inter-religioso da PUCPR na promoção do diálogo inter-religioso, em meio às controvérsias da campanha.
Ir. Alan Lucas de Lima, OTC
Carmelita Secular da Antiga Observância