Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo, vivo e ressuscitado!
É com grande alegria que celebramos este mistério, o mistério da Páscoa, o mistério da Ressurreição de nosso Redentor.
Veja, a Igreja recorda semanalmente esse evento: em cada domingo nós fazemos memória da Ressurreição de Jesus. Mas, é claro, nós vivemos isso de forma ainda mais intensa agora, na solenidade da Páscoa, o domingo dos domingos, o dia festivo por excelência, o centro do ano litúrgico e de toda a liturgia católica.
Mas por que esse acontecimento é mesmo tão importante?
Em primeiríssimo lugar, Alan, porque Jesus que ressuscita está nos introduzindo nessa vida nova que Ele veio trazer.
Algumas pessoas olham para a Ressurreição de Cristo como se Ele tivesse simplesmente morrido e voltado atrás, para a vida humana normal que já tinha, mas isso não é verdade. Jesus, ao ressuscitar dos mortos, deixa sua condição de servo para entrar num estado glorioso.
Sim, é verdade: primeiro, pela Encarnação — como diz São Paulo em sua Carta aos Filipenses (2, 7ss), Jesus “aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens e sendo reconhecido, por condição, como homem”.
Depois, por sua Paixão — continua o Apóstolo —, Ele “humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte da cruz”.
Por fim, no entanto, “Deus o exaltou”... É a Ressurreição. É o que estamos celebrando! E Jesus, ao ressuscitar, eleva à glória de Deus a nossa humanidade, que passa a participar plenamente da vida divina — da vida eterna.
Sim, nós católicos cremos na vida eterna. Quando dizemos — e muitas pessoas gostam de dizer — que “nosso Deus é o Deus da vida”, nós não estamos falando desta vida biológica. O que Jesus veio trazer para nós é muito maior do que isso.
Para que possamos compreender a fundo, no entanto, o que celebramos com a Ressurreição de Cristo, nós precisamos voltar o olhar para a sua Páscoa como um todo, ou seja, precisamos olhar para a “passagem” de Jesus, para o outro lado da ponte: sua morte na Sexta-feira Santa.
Veja, o relato mais antigo da Ressurreição de Cristo não está nos Evangelhos, mas na Primeira Carta aos Coríntios, de São Paulo. Esta epístola, o Apóstolo a escreveu mais ou menos uns 20 anos depois dos acontecimentos da nossa Redenção (ou seja, por volta do ano 53 d.C.). No capítulo 15 desse livro, São Paulo diz uma frase que é a chave de leitura de tudo isso que estamos tentando refletir:
Se Cristo não ressuscitou, a vossa fé não tem nenhum valor e ainda estais nos vossos pecados.
“Ainda estais nos vossos pecados”: vamos começar refletindo sobre essa última parte da frase.
Primeiro, o que é a morte? A morte é uma punição pelo pecado. Vamos nos lembrar que o projeto original de Deus, quando criou Adão e Eva no paraíso, era que seus organismos perecessem de um modo pacífico e tranquilo, e não através da morte. Deus havia dado aos nossos primeiros pais os chamados dons preternaturais. Eles não estavam destinados a morrer!
Ao pecar, no entanto, o egoísmo, a maldade e o próprio demônio se introduziram na humanidade. De fato, a Igreja prega há muitos séculos que, pelo pecado, nós nos tornamos escravos de Satanás. (E pelo sacramento do Batismo nós somos libertados dessa escravidão.)
Ora, convenhamos que, se Adão e Eva continuassem a ser imortais, mesmo depois do pecado, isso seria antes uma maldição que uma bênção. Imagine só uma vida eterna, sem morrer, estando na desgraça do pecado e da inimizade com Deus!
Justamente por isso Deus nos dá o castigo da morte física: a fim de que, temendo a corrupção biológica, nós temamos a morte eterna.
Aqui podemos ver o quanto Deus é bondoso conosco! É como um pai que, por exemplo, dá uma mesada para um filho, mas, vendo que ele começa a usá-la para comprar drogas, castiga-o e retira-lhe a mesada.
Deus deu a Adão e Eva o dom da imortalidade, mas, vendo que eles começaram a se fazer mal, vendo que eles se tornaram maus, Ele os pune e, providencialmente, permite que experimentem a morte.
Este é o primeiro dado, então, que precisamos ter diante dos olhos: a morte é um castigo de Deus pelo pecado do homem.
Por isso, quando Jesus ressuscita na noite santa de Páscoa, temos um sinal claro e reluzente de que o pecado foi vencido — pois foi vencida a morte, que é a punição pelo pecado.
Veja como é grande a sabedoria de Deus nesse ponto! Para que enxergássemos o mal do pecado, que é uma coisa invisível, Ele permite a morte, que é uma coisa palpável e que todos podemos enxergar. Também por isso, para mostrar a vitória de Cristo sobre o pecado, Ele ressuscita o seu Filho dos mortos.
Não nos enganemos: a vitória aconteceu antes. Lá na Sexta-feira Santa, quando Jesus morre na Cruz e diz: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”, ali já está a vitória dele sobre o pecado. Já na liturgia da Paixão a Igreja canta: “Vitória, tu reinarás! Ó Cruz, tu nos salvarás!”. A morte obediente de Cristo já destrói a nossa morte. Como diz um texto da liturgia bizantina, “com a morte de Cristo, Ele pisa na morte” — pisa na cabeça da serpente.
Era conveniente, no entanto, que ficasse ainda mais clara a vitória de Jesus. Por isso a sua Ressurreição. Por isso — repitamos a frase de São Paulo, agora já a compreendendo mais perfeitamente:
Se Cristo não ressuscitou, a vossa fé não tem nenhum valor e ainda estais nos vossos pecados.
Ou seja (vamos inverter a frase): se Cristo ressuscitou, é sinal de que já não estamos em nossos pecados, pois Ele venceu a morte, que é a consequência do pecado.
O que precisamos fazer agora, então? Bom, agora precisamos aplicar os frutos dessa vitória em nossa vida! Não basta cantar Aleluia, dizer que Jesus ressuscitou e acabou. A graça que jorrou do lado aberto de Cristo no Calvário precisa ser vivenciada, recebida em nossa vida; e isso acontece através da fé.
Sim, é a fé que nos introduz nessa nova relação com Cristo, é o que abre as portas para que possamos receber as graças dos sacramentos. Por isso, toda a liturgia pascal é voltada para a fé. Todas as aparições de Jesus ressuscitado sobre as quais iremos meditar nos próximos dias — a Maria Madalena, aos discípulos de Emaús, a Pedro, aos Apóstolos etc. — têm uma única finalidade: ressuscitar no coração dos seus discípulos a virtude sobrenatural da fé.
Na Sexta-feira da Paixão, de fato, quando a pedra rolou sobre o túmulo de Cristo, não estava sendo sepultado apenas o corpo morto do Senhor; fôra sepultada também a fé dos seus seguidores. O único coração que creu, e permaneceu crendo, foi o da Virgem Santíssima. Ante a provação da Cruz, todos os outros discípulos sucumbiram.
É por isso que Nossa Senhora não foi com as outras mulheres embalsamar o corpo do seu Filho: porque ela sabia, pela fé, que Ele tinha ressuscitado. (E, convenhamos, não há sentido em embalsamar um corpo vivo!)
Quando as mulheres anunciam, esbaforidas, o túmulo vazio do Senhor, por que São Pedro e São João saem correndo? Porque eles acreditavam que o corpo de Cristo havia sido roubado. Ou seja, eles não tinham mais fé! (Mesmo João, o discípulo amado, que permaneceu com Maria aos pés da Cruz… mesmo ele tinha perdido essa virtude sobrenatural.)
Maria, no entanto, mesmo sem ver o seu Filho, tinha-o presente virtualmente consigo. (Virtualmente não como na internet; a palavra virtus, do latim, significa “poder”, “força”.) E como ela tinha consigo essa força? Justamente através da fé. Pelo ato de fé, a Santíssima Virgem tinha o seu Filho vivo e ressuscitado tocando-a continuamente. Por isso, ela não precisava vê-lo e, ainda que Cristo (segundo tradições piedosas) tenha aparecido a sua Mãe, ela não precisava que Ele a visitasse. Pela fé, ela já o tinha consigo.
Também os Apóstolos, quando estão já com a fé bem viva já, depois de muitas aparições do Ressuscitado, são “privados” do Redentor. Como sabemos, depois de 40 dias com seus discípulos, Jesus sobe aos céus e os deixa aqui para propagar a fé com a pregação e os sacramentos.
Por que Nosso Senhor faz isso? Porque, pela fé, Ele realmente está conosco.
Alan, Cristo está ressuscitado e vivo agora em nosso meio. Você pode não enxergá-lo, mas Ele é a própria vida, é Ele que sustenta tudo o que vemos ao nosso redor.
Quando a Igreja canta Aleluia na noite santa da Vigília Pascal, exultante de alegria, ela o faz porque, pela fé, nós podemos ter a mesma experiência que tiveram a Virgem Maria e os Apóstolos dois mil anos atrás: a experiência de Jesus ressuscitado, que habita em nosso coração com toda a força da sua divina humanidade.
Neste dia feliz, neste dia em que Cristo ressurgiu dentre os mortos, renove sua fé nesta verdade. Lembre-se:
Se Cristo não ressuscitou, a vossa fé não tem nenhum valor e ainda estais nos vossos pecados.
Melhor, vamos tornar esta sentença bíblica positiva: Se Cristo ressuscitou, então a nossa fé é o lugar do encontro.
Saiba: quando você realiza um ato de fé, o Ressuscitado toca você com virtus, com a força dele. E aí podemos compreender o que São Paulo diz na Carta aos Romanos: “O Evangelho é força de Deus para aquele que crê” (1, 16). A palavra grega para “força” é dinamis, “dinamite”. Quem crê, quem tem fé, carrega consigo uma grande força, uma dinamite poderosa.
Por isso, vamos erguer nossas cabeças: Jesus ressuscitou e, bem aí, em seu coração, no interior da sua alma, no mais íntimo do seu íntimo, Ele quer tocar você através da fé.
Que Ele nos abençoe a todos e que esse Tempo da Páscoa seja um período de graças abundantes para você e sua família!
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