Quando começo a rezar, não me dirijo ao Deus dos filósofos, nem mesmo, em certo sentido, ao Deus dos teólogos. Dirijo-me ao meu Pai, ou melhor, ao nosso Pai. Ainda mais exatamente, dirijo-me a quem Jesus em plena intimidade chamou: Aba. Quando os discípulos pediram ao Senhor que os ensinassem a orar, ele simplesmente lhes disse: "Quando orarem, digam: Aba" (Lc 11, 2 ss).
Chamar a Deus assim significa ter a certeza de que ele nos ama. Uma certeza que não faz parte de ideias muito sábias, mas de uma convicção muito íntima. Temos a impressão de ter chegado a esta certeza, à fé, ao final de uma série de reflexões, meditações e vozes interiores mas, afinal, esta certeza é uma dádiva. Acreditamos no amor em nossos corações porque é o próprio Pai que enviou seu Espírito e desde então seu Filho é glorificado.
Porque o Pai me ama, posso recorrer a ele com total segurança e confiança. Não me apresento apoiado por meus méritos ou razões, mas confio na infinita ternura do Aba de Jesus por seu Filho que também é meu Aba.
Ele é o pai. O que significa isto? O que dá vida, mas ele não a dá como um objeto diferente de si mesmo. Ele a dá dando a si mesmo. O único dom que ele pode dar é a sua própria pessoa e o resultado desse dom é o seu Filho, um filho que ele ama infinitamente, por quem sente ternura e a quem o Filho, em resposta, também sente o mesmo por seu pai.
Esse é o Aba a quem me dirijo. O único que pode me dar uma vida que é uma cópia exata da dele; ele exige que eu seja sua própria imagem e semelhança neste momento e não por causa de alguma aparência externa a mim mesmo, mas porque ele me gerou de sua própria subsistência.
É isso que quero dizer quando digo: "Santificado seja o seu nome, Aba". Que você seja você mesmo, Aba, dentro de mim. Que seu nome como Pai seja cumprido com perfeição na relação estabelecida entre nós. Aba, peço-te que sejas meu Pai, que me geres à tua imagem e semelhança por puro amor, para que em resposta eu possa tornar-me, por tua pura gratuidade, ternura para contigo.
A oração do coração consiste simplesmente em encontrar o caminho que me permite ter uma atitude para com o Pai, graças à qual Ele mesmo pode santificar o seu nome em mim. Em mim e em todos os seus filhos. Em seu único filho composto por ele e todos os seus irmãos.
Rezar é acolher o Pai, é participar desta vida que ele nos dá pela graça. Acolher o Pai é permitir que ele gere o Filho e faça nascer o seu reino no meu coração. Desta forma, o Espírito poderá estabelecer entre mim e o Pai laços que não podem ser destruídos, relações de unidade que se estenderão a todos os meus irmãos.
Por um Monge Cartuxo
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