Grandeza da dádiva que Jesus Cristo nos fez na Santíssima Eucaristia
In omnibus divites facti estis in illo – “Em
todas as coisas fostes enriquecidos n’Ele” (1Cor 1, 5)
Sumário. É tão grande a dádiva que
Jesus Cristo nos fez na santíssima Eucaristia, que, apesar de ser
poderosíssimo, sapientíssimo e riquíssimo, não pode, nem sabe, nem tem para
dar-nos outra mais excelente. Como é, pois, possível que os homens, tão
sensíveis a qualquer delicadeza, fiquem insensíveis a tão grande dom e paguem o
seu benfeitor com ingratidão… se nós também fomos no passado tão ingratos,
peçamos de todo o coração que Jesus nos perdoe.
I. Santo Agostinho, considerando a grandeza do
dom que Jesus Cristo nos oferece na santíssima Eucaristia, ficou tão enlevado,
que escreveu esta celebre sentença, que com tal dádiva Jesus esgotou, por assim
dizer, os seus atributos infinitos. — Deus, assim diz o santo Doutor, é
poderosíssimo, e se quisesse, poderia, a um só sinal seu, criar mil mundos cada
qual mais bonito. Contudo, apesar de ser todo poderoso, não nos pode oferecer
outro dom mais precioso do que este: Cum esset omnipotens, plus dare
non potuit. — Deus é sapientíssimo, e a sua sabedoria, como diz o Real
Profeta, não tem limites (1). Mas com toda a sua sabedoria, não sabe achar um
dom mais excelente do que a santíssima Eucaristia: Cum esset
sapientissimus, plus dare nescivit. — Deus afinal é riquíssimo e os seus
tesouros são inesgotáveis. Todavia, com toda a sua riqueza não tem jóia mais
preciosa ou mais estimável do que esta para nos presentear: Cum esset
ditissimus, plus dare nescivit. — E a razão é óbvia: Na santíssima Eucaristia
Jesus Cristo nos dá não somente a sua humanidade, senão também a sua divindade.
Para nos oferecer, pois, outro dom mais excelente do que este, mister seria que
nos desse um Deus maior do que Ele mesmo; o que é impossível.
Tinha razão Isaias em exclamar: Notas facite
adinventiones eius (2) — “Publicai, ó homens, as invenções amorosas de nosso
bom Deus”. Se o Redentor nos não tivesse feito espontaneamente este
donativo quem é que Lho ousaria pedir? Quem é que se atrevera a dizer-Lhe:
Senhor, se quereis fazer-nos conhecer o vosso amor, escondei-Vos sob as
espécies de pão e vinho e consenti que Vos tomemos como nosso alimento? Mas o
que nunca poderiam imaginar os homens, concebeu-o e cumpriu-o o grande amor de
Jesus Cristo. Ó prodígio de amor!
II. Santa Maria Magdalena de Pazzi costumava
dizer que depois da comunhão a alma pode repetir a palavra de Jesus: Consummatum
est — “Está consumado”. Visto que o meu Deus se me deu a si mesmo nesta
comunhão, ele fez um último esforço de seu amor para comigo, e não tem mais
nada para me dar. — Mas como é, pois, possível que os homens, de ordinário tão
sensíveis a qualquer cortesia que se lhes faz, ficam tão insensíveis ao dom
inapreciável do Santíssimo Sacramento e pagam a Jesus Cristo com a mais negra
ingratidão? — Ah! Meu irmão, se no passado tu também foste um daqueles
ingratos, pede sinceramente perdão e resolve-te a sacrificar de hoje em diante
tudo por Jesus Cristo, assim como ele se sacrificou todo por ti neste inefável
mistério.
Ó meu Jesus, o que é que Vos levou a dar-Vos inteiramente
para nosso sustento? E depois deste dom, que mais Vos resta para nos obrigar a
amar-Vos? Iluminai-nos, Senhor, e fazei-nos conhecer qual foi esse excesso de
amor que Vos levou a transformar-Vos em alimento para Vos unirdes a nós, pobres
pecadores. Mas se Vos dais inteiramente a nós, justo é que inteiramente nos demos
a Vós. — Ó meu Redentor, como é que pude ofender-Vos, a Vós que me haveis amado
tanto, e que não pudestes fazer mais para ganhar o meu amor? Por mim Vos
fizestes homem, por mim morrestes e Vos fizestes meu alimento. Dizei-me, que
Vos restava fazer ainda?
Amo-Vos, Bondade infinita: amo-Vos, Amor infinito; †
Jesus, meu Deus, amo-Vos sobre todas as coisas. Senhor, entrai freqüentes
vezes na minha alma, inflamai-me inteiramente no vosso santo amor e fazei com
que tudo esqueça para só pensar em Vós e não amar senão a Vós.
— Maria Santíssima, rogai por mim. Com a vossa intercessão,
tornai-me digno de receber muitas vezes o vosso Filho sacramentado.
Referências:
(1) Sl 145, 5
(2) Is 12, 4
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias
e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa
Inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 347-349)
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