Exibunt angeli, et separabunt malos de medio iustorum –
“Sairão os anjos e separarão os maus do meio dos justos” (Mt 13, 49)
Sumário. Quando todos os homens
estiverem reunidos no vale de Josafá, virão os anjos separar os réprobos dos
escolhidos. Estes ficarão à direita e aqueles serão, para sua confusão,
impelidos para a esquerda. Oh, que triste separação! Meu irmão, de que lado nos
acharemos nesse dia? À direita com os escolhidos, ou à esquerda com os
condenados? Se quisermos estar à direita, deixemos o caminho que conduz à
esquerda.
I. Assim que os homens tiverem ressuscitado,
ser-lhes-á intimado que se dirijam todos ao vale de Josafá, para serem
julgados. Quando todos estiverem ali reunidos, virão os anjos e separarão os
réprobos dos escolhidos: Exibunt angeli, et separabunt malos de medio
iustorum. Os justos ficarão à direita, e os condenados serão impelidos para
a esquerda. — Que mágoa não sentiria quem fosse banido da sociedade ou da
Igreja! Mas que dor muito maior não sentirá, quando se vir expulso da companhia
dos Santos! Unus assumetur, et alter relinquetur (1) — “Um será tomado,
e outro será desprezado”. Diz São Crisóstomo que, se os réprobos não
tivessem outra pena a sofrer, esta confusão já seria para eles um suplício
infernal.
Atualmente no mundo são julgados felizes os príncipes e os
ricos; e são desprezados os santos que vivem na pobreza e humildade. Ó cristãos
fiéis, vós que amais a Deus, não vos aflijais porque neste mundo viveis
desprezados e em tribulações: Tristitia vestra vertetur in gaudium (2)
“A vossa tristeza se há de converter em alegria”. Então se dirá que vós
sois os verdadeiros felizes, e tereis a honra de ser proclamados os cortezãos
da corte de Jesus Cristo.
Que brilhante figura não fará então um São Pedro de
Alcântara, que foi vilipendiado como apóstata! Um São João de Deus, que foi
tratado como insensato! Um São Pedro Celestino, que morreu numa prisão depois
de ter abdicado o papado! Que honra receberão então tantos mártires, cruciados
aqui pelos algozes! Tunc laus erit unicuique a Deo (3) — “Então cada um
terá de Deus o louvor”. Que horrível figura, pelo contrário, não fará um
Herodes, um Pilatos, um Nero, e tantos outros grandes da terra, agora
condenados! — Ó partidários do mundo, espero-vos no vale de Josafá. Aí mudareis
sem dúvida de sentimentos; aí deplorareis a vossa loucura. Infelizes! Por uma
curta aparição no teatro deste mundo, tendes de fazer depois o papel de
condenados na tragédia do juízo final.
II. Os escolhidos serão colocados à direita, ou
antes, segundo o que diz o Apóstolo, para sua maior glória, serão elevados aos
ares sobre as nuvens, para irem com os anjos ao encontro de Jesus Cristo, que
deve vir do céu: Rapiemur cum illis in nubibus, obviam Christo in aera
(4) — “Seremos arrebatados com eles nas nuvens ao encontro de Cristo”. E os
condenados, como um rebanho de cabritos destinados ao matadouro, serão
impelidos para a esquerda, esperando pelo Juiz, que virá pronunciar
publicamente a condenação de todos os seus inimigos. — Meu irmão, de que lado
nos acharemos nós nesse dia? À direita com os escolhidos, ou à esquerda com os
réprobos?
Ó meu amado Redentor, ó Cordeiro de Deus, que viestes ao
mundo, não para castigar, mas para perdoar os pecados: ah! Perdoai-me sem
demora, antes que chegue o dia em que deveis ser meu Juiz. Se eu então viesse a
perder-me, à vossa vista, ó doce Cordeiro, que me tendes aturado com tanta
paciência, a vossa vista seria o inferno do meu inferno. Ah! Perdoai-me,
repito, sem demora. Com o socorro da vossa mão misericordiosa, fazei-me sair do
precipício onde me fizeram cair os meus pecados. Arrependo-me, ó soberano Bem,
de Vos ter ofendido tantas vezes. Amo-Vos, ó meu Juiz, que tanto me haveis
amado.
Suplico-Vos pelos méritos da vossa morte, que me deis uma
graça tão eficaz, que me torne de pecador em santo. Prometestes atender a quem
Vos roga: Clama ad me et exaudiam te (5) — “Clama por mim e Eu te
atenderei”. Não Vos peço bens terrenos; peço-Vos a vossa graça, o vosso
amor e nada mais. Atendei-me, ó meu Jesus, pelo amor que me dedicastes morrendo
por mim na cruz. Meu amado Juiz, sou um culpado, mas um culpado que Vos ama
mais que a si próprio. Tende piedade de mim! — Maria, minha Mãe, vinde depressa
em meu auxílio, agora que me podeis ainda socorrer. Não me abandonastes quando
vivia esquecendo-me de vós e de Deus. Socorrei-me, já que estou resolvido a
servir-vos sempre e a nunca mais ofender a meu Senhor. Ó Maria, vós sois a
minha esperança.
Referências:
(1) Mt 24, 40
(2) Jo 16, 20
(3) 1 Cor 4, 5
(4) 1 Ts 4, 17
(5) Jr 33, 3
(LIGÓRIO, Afonso
Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o
Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa Inclusive. Friburgo: Herder
& Cia, 1921, p. 342-345)
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