Feridas da Alma — e os Remédios de Cristo: Avareza
Avareza: O Medo Disfarçado de Segurança
Introdução
A avareza é o pecado com cara de esperteza. Ela sussurra:
“se você não guardar só pra você, vai faltar”. É medo vestido de prudência. São
Gregório Magno falava que o avarento confia mais no bolso do que em Deus. E
infelizmente, essa conta nunca fecha.
A avareza não está apenas no cofre trancado. Mora no coração
que se recusa a doar tempo, carinho, atenção, perdão. O apego não precisa de
cifrão: basta a alma colada em qualquer coisa que não seja o Senhor. É a velha
mentira do Éden: “Se você não cuidar de si mesmo, Deus não vai cuidar.”
São Tomás de Aquino diz que a avareza nasce da falsa ideia
de que o dinheiro nos salva. Mas grana não ressuscita ninguém. Santo Agostinho
acrescenta: o avarento é escravo daquilo que possui. Quanto mais segura, mais
teme perder. Quanto mais acumula, mais pobre por dentro fica.
A Igreja nunca odiou riqueza. O problema não é ter — é ser
possuído. Quando o “meu” vira ídolo, o coração se ajoelha diante de coisas que
vão apodrecer. A avareza é idolatria low-profile, mas sempre arranca pedaços da
alma.
Só que Cristo não suporta ver Seus filhos vivendo como
órfãos. Ele bate na porta do cofre e diz: “Sobe pro meu lado. Confia no Pai.”
Porque quem descobre que o Céu é a verdadeira herança… desapega sem medo.
O Ídolo que Alimenta Todos os Outros Vícios
A avareza brota da soberba, porque quem quer ser
autossuficiente usa o dinheiro como muleta. “Eu não preciso de Deus, tenho
minha conta bancária.” Eis o orgulho travestido de planejamento financeiro.
Ela conversa com a inveja: o avarento não suporta ver
alguém prosperar além dele. O sucesso do outro vira ameaça ao seu reinado
material. A comparação se torna ácido que corrói a caridade.
Gera ira: mexeu no que é “meu”, eu viro fera. O apego
transforma bens em armas. Quantas brigas familiares nascem pela disputa de
heranças? O coração que idolatra bens vira bicho quando se sente roubado.
Empurra para a acídia: quando a alma está presa no
material, ela perde o sabor das coisas do Alto. O avarento até trabalha muito,
mas por nada que realmente permaneça. E quanto mais se cansa de ganhar, mais
preguiça tem de amar.
E como toda prisão precisa de anestesia, a avareza abre
portas para gula e luxúria: busca-se prazer rápido para compensar
o vazio. Se o dinheiro é deus, o prazer é o culto.
Conclusão: O Remédio: Desapego, Generosidade e Confiança Filial
Jesus aponta o dedo no Evangelho e diz sem metáfora: “Não
podeis servir a Deus e ao dinheiro.” Sem meias palavras. É escolha de lado.
Quem põe o coração no cofre, fica enterrado com ele.
A cura começa com um ato corajoso: dar. Dar mesmo.
Dar até doer — e depois perceber que não doeu nada. A generosidade é exorcismo
contra o apego. A mão que abre, abre também o peito para a graça entrar.
A caridade não é perda — é investimento eterno. “O que
fizerdes ao menor dos meus irmãos, é a Mim que fazeis.” No céu, o cartão de
crédito se chama obras de amor. E o limite é infinito.
A Confissão purifica a idolatria. A Eucaristia nos reeduca:
recebemos de graça o que não podemos comprar — o próprio Deus. Quem comunga
aprende: o essencial nunca estará à venda.
Não tenha medo. O Pai não falha em quem confia n’Ele. Ele
cuida do pardal, da flor do campo, imagina de você? A alegria que você tanto
procura não está no que você guarda — está no que você entrega.
Carmelita Secular da Antiga Observância