O Dia em que os Cães de Colo Ladram Contra os Leões
Diário de um Católico na Contrarrevolução — Parte 32
Introdução: Quando a fumaça entra até nas janelas do mosteiro
Hoje escrevo com aquele peso bom — o peso da verdade que
incomoda, mas também acorda. Há dias em que a crise na Igreja parece só mais um
capítulo repetido; noutros, ela estala na nossa cara como um trovão que rasga o
céu no meio da madrugada. Ontem foi desses.
O caso Rifan-2025 voltou a assombrar meu coração como um
daqueles sinais que Deus permite justamente para que ninguém finja que não viu.
A cena do “bispo tradicional” sorrindo em Roma, doce como cãozinho de colo,
enquanto agradece o privilégio de continuar existindo… Ah, isso mexe. Não
porque seja novidade — mas porque confirma aquilo que os velhos leões disseram,
rugiram e pagaram para ensinar.
E porque escancara o que o Padre Dave Nix apontou com
desconfortável precisão: as duas tradições, a verdadeira e a decorativa,
continuam vivas. E só uma delas ainda sabe lutar.
Os dois caminhos diante do altar
1. A tentação de ser cão de colo
Eu sei, é fácil julgar de longe. Mas também é fácil perceber
quando um pastor troca sua voz profética por um ronronar de palácio. A história
de Campos, que um dia foi trincheira, hoje soa como advertência escrita em neon:
quando você aceita o pacote conciliar inteiro em troca de um cantinho para
rezar, acaba perdendo até a coragem de nomear o problema.
Lembro-me da primeira vez que li os textos de Dom Antônio de
Castro Mayer. Foi como ouvir um avô que não tem medo de olhar nos seus olhos e
dizer: — Filho, não estão brincando com o evangelho. Estão brincando com tua
alma.
Ele nunca fez concessões.
Nunca sorriu para fotos que pediam silêncio.
Nunca misturou a Missa de Sempre com teorias novas embaladas
como “magistério vivo”.
E o contraste com o clima atual é doloroso. Como não notar a
ironia fina — quase cruel — de ver quem herdou a cátedra de um leão
comportar-se hoje como mascote domesticado?
E não é só Campos. É um movimento inteiro — Trad Inc.,
setores da FSSPX, influenciadores, apologistas de gabinete. Gente que fala de
guerra espiritual como quem fala de filme de ação: sem coragem real de se
ferir.
2. A consciência dividida — Missa antiga, dogma novo
Talvez o ponto mais sombrio dessa crise seja esse: muitos
parecem achar possível que a Missa Tridentina sobreviva em paz dentro de uma
Igreja doutrinalmente incoerente, desde que ninguém fale muito alto da
incoerência. Como se o Rito Romano Tradicional fosse um hobbie estético,
um acessório espiritual que pode conviver com documentos ambíguos e bênçãos
indevidas.
Mas a fé não funciona assim.
A liturgia molda a doutrina tanto quanto a doutrina molda a
liturgia.
E quem tenta viver com duas teologias no peito acaba
perdendo ambas.
O teólogo pró-Vaticano II diz: — Aceite tudo que é novo e
esqueça o velho.
O neotradicionalista “pacificado” diz: — Guarde o velho, mas
finja aceitar o novo.
Só que os santos, meu amigo… os santos escolheram outro
caminho: — Guardem o depósito. E resistam ao que destrói o depósito.
A paz superficial de hoje só é possível porque muitos
pastores aprenderam o truque de sorrir e dizer que “tudo está bem”. Tudo, menos
a fé.
3. Os exemplos que ferem, mas iluminam
• A concelebração de Rifan — primeiro negada, depois
explicada, depois suavizada. Como quem tenta esconder um arranhão no vidro, mas
a rachadura cresce.
• Os elogios a Leão XIV — o papa das entrevistas que
deixam a fé em ruínas, mas que encontra em Campos um afago e não uma
advertência.
• A FSSPX modulando discurso — antes rugido, agora
miado cauteloso. Em nome de quê? De “não estragar o clima para um futuro
acordo”.
• Influencers católicos que falam de política,
estética, latinidade — mas não dizem a palavra proibida: ruptura.
Tudo isso me lembra a história de certos mosteiros medievais
que, para não irritar invasores, escondiam os sinos.
Mas um mosteiro sem sinos não é sinal de prudência. É sinal
de medo.
Exemplos pessoais — A noite em que ouvi um leão rugir
Há anos, numa capela escondida, ouvi um velho padre falar
sobre a crise litúrgica. A voz dele era baixa, nada teatral. Mas cada palavra
batia no chão como martelo.
“Filhos, quando um rito nasce da ruptura, ele carrega a
ruptura dentro. Não adianta disfarçar.”
Aquela missa era celebrada num altar improvisado, paredes
descascadas, quinze fiéis. Mas ali eu entendi: a força da Tradição não depende
de tapetes bonitos, nem de estruturas canônicas, nem de selfies com papas.
Depende da clareza da fé.
E da coragem de pô-la antes de tudo.
Conclusão: Entre o latido e o rugido
Escrever isso não me dá alegria. Dá aquela dor boa, como
quem coloca gelo em ferida: arde, mas cura.
Chegamos a um ponto em que ninguém mais pode se esconder no
meio-termo. Ou você acredita que Cristo confiou à Igreja uma fé clara,
contínua, sem contradições internas — e então resiste ao modernismo como veneno
— ou você aceita o pacote conciliar e aprende a negociar com ele.
Não dá para viver a Missa de Sempre dentro de uma doutrina
fluida.
Não dá para ser missionário quando se teme ofender o
modernismo.
Não dá para ser bispo-leão com alma de cão de colo.
O mundo está em chamas, e a Igreja institucional parece
vender fumaça como incenso. Mas isso não me tira a esperança. Pelo contrário:
quando a fumaça é densa, até uma vela acesa parece farol.
A crise só destrói quem já havia se rendido por dentro.
Os outros — os poucos — continuam firmes. Como aconteceu com
Castro Mayer, Lefebvre, Athanasius Schneider e cada fiel anônimo que prefere a
verdade a um sorriso de aprovação.
A pergunta final é sempre a mesma:
Você vai rugir com os leões que guardam a fé?
Ou vai aceitar o carinho fácil de Roma enquanto o
evangelho se esfarela no silêncio?
Meu coração já escolheu.
E o teu?
Por um Católico consciente e atento ao cenário eclesial
do Brasil e do Mundo.