Quando Teresa fala, o coração desperta


Ler Santa Teresa hoje é como abrir uma janela antiga em meio ao ruído moderno. Entra uma brisa de outro tempo — mas não uma brisa morta. É ar de eternidade. É o sopro do Espírito que, atravessando séculos, continua acendendo almas que ainda ousam buscar o essencial.

Santa Teresa não escreveu para os curiosos. Escreveu para os que têm fome. Fome de Deus, de verdade, de algo que o mundo não pode dar. Quem se aproxima dela com o olhar seco do analista, perde o tesouro. Mas quem se aproxima com o coração aberto, como quem entra descalço em terra sagrada, percebe o milagre: as palavras dela não envelhecem, porque foram escritas com fogo.

Ela viveu em tempos duros — não muito diferentes dos nossos. Cercada por confusões, barulhos, reformas e contradições, Teresa descobriu que o verdadeiro refúgio não é o silêncio do convento, mas o silêncio interior. Aquele lugar secreto onde Deus fala sem ruído, onde o coração humano volta a ser morada, e não vitrine.

Hoje, quando a pressa é a nova religião e o ruído é o novo incenso, a Santa de Ávila nos provoca. Ela nos diz, com sua franqueza castelhana: “Não busques fora o que te espera dentro.” É um convite que desmonta o cristianismo superficial — aquele que fala de Deus, mas não fala com Deus.

Ler Teresa é reaprender a escutar. É mergulhar em um modo de fé que não negocia com a superficialidade. Ela nos ensina que a oração não é dizer muito, mas deixar-se transformar. Que a santidade não é brilho, é transparência. Que amar a Deus é, em última instância, aprender a ser inteiramente humano.

Cada linha sua é um espelho onde o carmelita, o crente, o homem e a mulher modernos podem se ver. E se forem honestos, verão algo desconfortável: o quanto esquecemos o essencial. Mas, ao mesmo tempo, verão uma esperança: o essencial ainda nos espera.

Ler Santa Teresa não é visitar um museu de santidade; é acender um fogo antigo no meio da noite contemporânea. É permitir que o verbo de uma mulher enamorada por Deus nos recorde o que é ser alma viva.

No fundo, ela continua dizendo a cada um de nós:

“Não temas, alma pequena. Foste feita para o Infinito.”

E talvez — só talvez — seja esse o início da conversão que o nosso tempo mais precisa: voltar ao coração, onde Deus ainda sussurra.

Por seu Irmão Carmelita Secular da Antiga Observância B.