Da Cruz de Constantino ao Mau-Olhado: O Festival dos Falsos Deuses em Roma

O “desfile da paz” de Leão XIV traz dançarinos pagãos e imagens ocultistas ao coração do Vaticano.

No Arco de Constantino, Leão XIV acendeu uma vela ao lado de líderes de todas as crenças; no Vaticano, telas brilhavam com a imagem de uma mulher segurando o “mau-olhado”. O simbolismo escrevia seu próprio comentário. A cruz que outrora conquistou a Roma pagã foi substituída por um talismã destinado a afastar o infortúnio; um emblema apropriado para uma Igreja agora aterrorizada em proclamar a verdade exclusiva de Cristo.

O que começou como um “Encontro pela Paz” sob o Arco de Constantino terminou como um festival de pluralismo de uma semana, um jubileu da Nostra Ætate coreografado para provar que a Igreja do diálogo pode superar a Igreja da doutrina. Nesse processo, Roma conseguiu transformar a vitória do In hoc signo vinces no ato final de um espetáculo de religiões mundiais.

O espetáculo não foi um acidente. Foi a sequência lógica da teologia de Nostra Ætate, agora encenada em cores vibrantes: olhos, ídolos e tudo mais.

O “Espírito de Assis”, Recarregado no Arco de Constantino

O Encontro Internacional pela Paz, organizado por Santo Egídio, foi apresentado como oração, testemunho e uma mensagem comum contra a guerra. O discurso de Leão XIV no Coliseu declarou: “a guerra nunca é santa; só a paz é santa”, e fundamentou a noite na Nostra Ætate do Concílio Vaticano II. O simbolismo é intencional. Onde Constantino outrora marchava sob a cruz como sinal do triunfo do verdadeiro Deus sobre os ídolos, o papa agora caminha em procissão com os representantes desses ídolos para acender uma chama comum em prol de uma “reconciliação” generalizada. O local é catequético: a Ponte Mílvia é reinventada como uma passarela inter-religiosa.

A doutrina católica nunca tratou a “paz” como uma divindade autônoma. A paz é a tranquilidade da ordem que emana do reinado de Cristo e da observância da lei de Deus. Quando a Igreja fala de guerra justa, fá-lo precisamente porque a justiça e a verdade, por vezes, exigem a espada para conter males graves. Afirmar que “só a paz é santa” é desconsiderar toda uma tradição teológica, tratar as Cruzadas, a justa defesa e os mártires que resistiram aos cultos pagãos como parentes inconvenientes que já não convidamos para jantar. A santidade está ligada a Deus, ao Seu culto, à Sua lei, à Sua Igreja; não a uma abstração que pode ser igualmente invocada pela da’wah corânica, pelo panteão védico e por um comunicado da ONU.

Além disso, a “oração conjunta” entre religiões não é um terreno neutro. Inevitavelmente, sugere que diversos objetos de culto convergem para um horizonte divino comum. É por isso que o magistério pré-conciliar insistia na singularidade do culto revelado e alertava repetidamente contra o sincretismo e o indiferentismo. A simultaneidade encenada de ritos, cânticos e meditações silenciosas sob arcos romanos não alivia essa tensão; pelo contrário, a intensifica. O público vê uma coisa: todas as religiões são caminhos que levam à mesma montanha, e a Igreja agora se alegra em abrigar o acampamento base.

Observe novamente a imagem: um papa de branco acende uma árvore de lamparinas a óleo enquanto imãs, monges, patriarcas e gurus assistem. Nem mesmo um cenógrafo conseguiria expressar melhor o novo dogma de que a paz é o sacramento e o pluralismo, a liturgia.

Nostra Ætate aos sessenta: De “Nós Acreditamos” a “Nós Somos o Mundo”

A comemoração da Nostra Ætate nem sequer tentou esconder sua tese. A celebração começou com uma procissão pagã pelo corredor central da Sala Paulo VI, com dançarinos carregando discos solares e escudos, e a multidão filmando como se fosse um show de música pop.

Mais tarde, as crianças cantaram “We Are the World” (“Nós somos o mundo”), o hino humanitário de Michael Jackson, enquanto Leão XIV circulava pelo salão cumprimentando descrentes e representantes de outras religiões.

Um vídeo promocional do Vaticano exibiu o amuleto apotropaico azul e branco do “mau-olhado”, um talismã destinado a afastar o mal, como que a Igreja agora reúne os objetos espirituais do mundo em um único museu acolhedor.

Qual o problema nisso? Comecemos pelo óbvio. O culto católico é teocêntrico e sacrificial. Não é uma feira cultural. A Igreja costumava trazer as nações para o seu santuário para adorar o verdadeiro Deus através do único Sacrifício de Cristo. Agora, Roma traz as nações para adorarem seus próprios símbolos sob o seu teto, enquanto ela fornece o palco, as equipes de filmagem e os aplausos. A mensagem transmitida a cada criança católica que assiste é que a religião é, primordialmente, uma aspiração humana compartilhada pela paz, e as diferenças doutrinárias são um mero enfeite.

A própria Nostra Ætate, com todo o bem que incentivou na caridade pessoal e na rejeição do ódio, metastatizou-se em uma teologia prática: a principal tarefa da Igreja na esfera pública é afirmar o senso religioso da humanidade, descobrir “sementes da Palavra” em todos os lugares e encontrar o mundo no meio do caminho, celebrando valores comuns. A evangelização passa para segundo plano; a missão é recodificada como diálogo; o Primeiro Mandamento é reinterpretado como uma proibição à “exclusão”. A foto dos dançarinos na Sala Paulo VI captura essa mudança melhor do que mil notas de rodapé. E a escolha musical expressa a parte silenciosa em voz alta. Não estamos cantando Credo in unum Deum; estamos cantando Nós somos o mundo. O novo credo começa com “nós”.

Traçando “Novos Mapas da Esperança”: Educação sem o Depósito da Fé

A carta apostólica de Leão XIV para o 60º aniversário da Gravissimum educationis é refinada, programática e perigosa. Página após página, ela insta uma “constelação” de escolas e universidades a se tornarem laboratórios de inclusão, diálogo, ecologia e discernimento digital. Newman é nomeado co-patrono com Tomás de Aquino, mas o Newman citado é o humanista abrangente de A Ideia de uma Universidade, não o convertido que sangrou pelo dogma. Em seguida, surge a frase que revela o motor que funciona sob a prosa: em contextos educacionais, não devemos “hastear a bandeira da posse da verdade”. Essa frase é o antítese do programa de estudos da semana.

Se uma universidade católica não ensinar que a Igreja possui a verdade revelada, não como um troféu, mas como um legado, para que serve? “Menos cátedras e mais mesas”, exorta a carta, porque o conhecimento deve ser compartilhado de forma dialógica. Muito bem. Mas os apóstolos não se reuniam com as nações em mesas redondas; eles pregavam, ensinavam, batizavam e organizavam as novas comunidades ao redor do altar. O “Pacto Educacional Global” da carta, seus sete caminhos mais três novas prioridades, e sua insistência em uma “paz desarmada e desarmante” equivalem, em conjunto, a um catecismo horizontalista. O transcendente faz aparições esporádicas, frequentemente em frases piedosas. O fio condutor é antropocêntrico: elevar a pessoa, desmantelar conflitos, coreografar a fraternidade, gerir a tecnologia, proteger o planeta. A evangelização torna-se o braço educacional das ONGs, e a verdade, rebaixada de posse a processo, jamais deve interromper a coreografia.

A identidade católica não se baseia em sentimentos; é a incorporação batismal em Cristo e a adesão às verdades que Ele revelou. Uma escola que teme “erguer a bandeira da posse da verdade” estará, na prática, erguendo o arco-íris da inclusão sobre o tabernáculo do Logos.

“Communicatio in sacris” e o Modelo do Primeiro Milênio

O discurso de Leão XIV a Mar Awa III e à delegação assíria vangloria-se do “reconhecimento mútuo dos sacramentos” e da “permissão” de certas partilhas sacramentais, enquanto as partes trabalham em direção a um modelo de comunhão do primeiro milênio que evite a “absorção” ou a “dominação”. Em termos simples, celebra a normalização da intercomunhão com uma Igreja que está objetivamente fora da unidade visível da Igreja Católica. A retórica da “troca de dons” faz isso soar generoso; a realidade é que a unidade visível da Igreja, uma só fé, uma só ordem sacramental, uma só governança, é tratada como uma estrutura negociável a ser reconstruída a partir de uma leitura seletiva da Antiguidade.

Quando Roma promete “celebrar juntos no mesmo altar”, não como fruto da conversão à unidade na doutrina e na jurisdição, mas como motor que impulsionará uma convergência, ela inverte a ordem da verdade e da caridade. Cálice compartilhado primeiro, fé compartilhada depois. Esse não é o caminho católico.

Uma homilia que transforma a Páscoa em questão de imagem

Até mesmo a homilia eucarística aparentemente inofensiva para estudantes universitários carrega o tema central da semana. A Páscoa se torna “uma jornada”, o Jubileu um lembrete de que precisamos de “uma perspectiva mais ampla”, o estudo uma graça que nos ajuda a “elevar os olhos”. Belas palavras, e quem nega a necessidade de conversão? Mas a Ressurreição não é uma metáfora para horizontes intelectuais; é um fato histórico e corporal pelo qual Cristo venceu o pecado e a morte e fundou Sua Igreja com o mandato de ensinar todas as nações. Quando o foco da homilia se desloca dessa proclamação para um chamado espiritualizado à abertura e a “novas perspectivas”, os estudantes saem com exatamente a formação que esta semana se propõe a oferecer: o cristianismo como perspectiva, não como veredicto.

Por que as fotos são importantes?

No Arco de Constantino, a Cruz já não conquista; ela colabora. Na Sala Paulo VI, as nações já não se curvam diante de Cristo; elas performam diante d’Ele. Na carta apostólica, o depósito da fé já não rege a educação; ele “acompanha” um processo cujas palavras-chave são empatia, escuta e coreografia. E no discurso ecumênico, o altar já não pressupõe a unidade; ele a constrói.

É por isso que os católicos fiéis olham para essas imagens e ouvem esses textos com tristeza, e não com aplausos. A Igreja tem a responsabilidade do Primeiro Mandamento. Ela deve adorar somente a Deus e ensinar todos os povos a fazerem o mesmo. Ela deve amar o seu próximo não afirmando seus ídolos, mas chamando-o — com gentileza, publicamente e com coragem — à adoração do Deus Trino por meio do único Mediador, Jesus Cristo. Paz sem verdade é anestesia. Diálogo sem doutrina é teatro. Educação sem o Credo é assistência social com velas.

A revolução compreende que os ritos catequizam com mais poder do que os ensaios. É por isso que a semana terminou com crianças cantando “Nós Somos o Mundo”. Ensinem-nas a cantar a fraternidade da humanidade enquanto estão sob a cúpula de Pedro e elas nunca mais perceberão a diferença entre esse coro e o Credo. As fotos não são acidentais. Elas são o novo missal.

Conclusão: De volta à Ponte Mílvia

A Igreja outrora pregava no Arco de Constantino que a paz mundial só se concretiza sob o sinal de Cristo. Hoje, Roma prega que as religiões do mundo, juntas, improvisarão a paz se mantiverem as velas acesas. Uma visão converte as nações e as ordena a Deus. A outra inflama as multidões e ordena à Igreja que se dirija às nações. A primeira construiu catedrais; a segunda hasteia bandeiras. Se quisermos a primeira de volta, devemos parar de acender tochas em santuários inter-religiosos e começar a acender faróis de doutrina, adoração e missão. In hoc signo vinces não foi um chamado à construção de comunidade. Foi o julgamento do Senhor sobre os ídolos e a primeira e última esperança do mundo.

Por Chris Jackson

É Escritor e comentarista Católico Tradicional. Sem concessões. Sem quietismo. Defendendo a Fé quando outros se calam.