A dor de permanecer: fidelidade sem ruptura



Diário de um Católico na Contrarrevolução — Parte 6

Ser católico hoje exige algo que muitos não estão dispostos a encarar: a cruz da lucidez. Vivemos numa Igreja onde é mais fácil ser promovido por ser ambíguo do que por ser fiel. Onde há padres que são perseguidos por pregar o Evangelho inteiro, enquanto outros são aplaudidos por diluí-lo em sociologismo sentimental. Diante disso, o coração católico sincero sangra. Mas não foge.

Sim, há uma tentação real de simplesmente chutar o balde: de declarar vacante a Sé de Pedro, de renegar toda a hierarquia visível e criar uma “Igreja pura” com nossos iguais. É compreensível. Mas compreensível não é o mesmo que certo. E a História da Igreja nunca canonizou santos que romperam com Pedro. Pelo contrário: os santos verdadeiros sofreram, resistiram, combateram, mas nunca abandonaram a Barca, mesmo quando cheia de Judas.

A verdadeira resistência é como a de Santo Atanásio, que foi exilado, caluniado, marginalizado, mas nunca fundou outra Igreja. Ou como a de Santa Catarina de Sena, que enfrentou o Papa com coragem, sem jamais duvidar de seu munus. Ou ainda como a de Dom Lefebvre, que lutou até o fim pela Tradição, mas morreu rezando pela Igreja e dentro dela, mesmo marginalizado.

Não confundamos firmeza com orgulho. Não confundamos dor com revolta. A resistência verdadeira não se mede pelo nível de indignação, mas pela disposição de sofrer com a Igreja, sem querer substituí-la por um projeto pessoal de pureza idealizada. A fidelidade católica é encarnada, histórica, visível — e profundamente dolorosa.

O modernismo triunfou temporariamente, sim. Mas a Igreja é de Cristo. Ele prometeu que as portas do inferno não prevaleceriam. Isso não significa que não haveria crise, mas que, mesmo na crise, há um resto fiel. É com esse pequeno rebanho que eu sigo. Dentro da Igreja visível. Em agonia, mas em paz. Em sofrimento, mas com esperança.

Porque a cruz da fidelidade é mais frutífera que o conforto da ruptura. Permanecer fiel à Missa de sempre, à Doutrina de sempre, à Igreja de sempre, mesmo quando seus representantes a traem — isso é ser Católico.

E assim seguiremos, como velas acesas na tempestade. Como sentinelas da alvorada. Como católicos na contrarrevolução.

Por um Católico consciente e atento ao cenário eclesial atual no Brasil.