O Deus que não tem Filho
Eles dizem que adoram o mesmo Deus.
Que quando se ajoelham nas mesquitas, com a fronte contra o
chão, ou quando balbuciam orações no Muro das Lamentações, com os olhos fixos
nas pedras do Templo destruído, estão falando com Aquele que os cristãos
invocam no silêncio do Santíssimo Sacramento. Dizem que é o mesmo Deus, apenas
em diferentes estágios de revelação. Dizem que é o mesmo Altíssimo, sob nomes
distintos. O mesmo Deus, sem o Filho.
Mas aqui está o escândalo: não existe Deus sem o Filho.
Porque Deus não é uma ideia. Deus não é uma
abstração monoteísta flutuando nos céus da razão humana. Deus é.
“E o Verbo se fez carne e habitou entre nós.” (Jo
1,14)
Esse é o núcleo, a rocha, o dogma que não se negocia: o
Filho é consubstancial ao Pai.
Eternamente gerado, não criado. Deus de Deus, Luz da Luz.
Negar o Filho é negar o próprio Deus, não parcialmente,
mas na sua substância mesma.
O judeu moderno permanece na Antiga Aliança — mas recusou
o seu cumprimento.
O muçulmano criou uma outra fé, um outro livro, um outro
profeta — e, com isso, outro deus.
A Trindade não é um acessório tardio da fé cristã.
Ela é o próprio nome de Deus.
Antes que houvesse tempo ou espaço, o Pai amava o Filho
no Espírito Santo.
Esse é o mistério eterno da comunhão divina.
Esse é o Deus vivo, que se revelou em Jesus de Nazaré — não
como profeta, mas como Palavra eterna.
Por isso, o Catecismo se contradiz.
Ao dizer que os muçulmanos “conosco adoram o Deus único e
misericordioso” (CIC 841), ele se refere à intenção religiosa natural
de reconhecer um Criador. Mas isso não é o mesmo que reconhecer a face do
Deus verdadeiro, revelado na economia plena da salvação.
Intenção não é comunhão.
Reconhecimento parcial não é adoração verdadeira.
São João é implacável, sem sentimentalismos modernos:
“Todo aquele que nega o Filho, também não tem o Pai.”
(1Jo 2,23)
São Paulo diz que os deuses dos pagãos são demônios
(1Cor 10,20).
E Nosso Senhor, manso e humilde de coração, diz aos
fariseus:
“Vós não conheceis o meu Pai. Se Me conhecêsseis, também
conheceríeis o Pai.” (Jo 8,19)
A lógica é inexorável:
Se você não reconhece o Filho, o seu conceito de Deus
está corrompido na raiz.
E aqui está o drama da história da salvação:
Os judeus conhecem as Escrituras, mas não reconheceram o
Rosto que elas anunciavam.
Os muçulmanos afirmam amar a Deus, mas rejeitam o modo
como Ele escolheu Se dar a conhecer: vulnerável, encarnado, crucificado.
Ambos proclamam a unicidade divina, mas negam a
comunhão trinitária — o mistério que, sozinho, explica o amor.
Porque um deus que é pura unidade, sem relação, não pode
amar eternamente.
Precisa criar para amar.
Mas o Deus cristão é amor em si mesmo, porque é
comunhão eterna entre Pessoas divinas.
Sem Trindade, não há amor eterno.
Só poder.
E então surge a pergunta:
Pode-se adorar verdadeiramente um Deus que não é Amor?
Pode-se render culto autêntico a um deus que não é Pai
por essência, porque não
tem Filho?
A resposta da Tradição é clara. Sem o Filho, não se chega
ao Pai.
Sem o Filho, não se penetra no coração do Deus verdadeiro.
Sem o Filho, não há adoração em espírito e verdade
(Jo 4,24).
Por isso, cristão, não se deixe enganar pelo consenso do diálogo
inter-religioso raso.
- A verdade não é violenta, mas é inflexível.
- A caridade não mente para agradar.
- O dogma não é uma prisão; é a forma do Mistério, a forma da Verdade.
E a Verdade tem um nome: Jesus Cristo, o Filho do Deus
vivo.
Fora d’Ele, toda imagem de Deus é fragmentada, distorcida,
ou — no fim — falsa.
Epílogo
Os judeus esperam um Messias que já veio.
Os muçulmanos reverenciam um profeta que nega o Cordeiro
de Deus.
Ambos se dirigem a um “Deus”, mas não ao Deus que morreu
por nós.
Por seu Irmão Carmelita Secular da Antiga Observância B.
📌 Nota aos comentadores:
Esta reflexão parte da fé católica integral, fundada na
Revelação, na Sagrada Tradição e no Magistério constante da Igreja —
especialmente aquele anterior aos aggiornamenti modernos.
Sabemos que vivemos tempos em que qualquer afirmação
exclusiva soa como intolerância. Mas a verdade, por definição, não negocia
com o erro.
Nosso objetivo aqui não é ofender judeus ou muçulmanos,
mas esclarecer aos próprios cristãos quem é o Deus que adoramos — Pai, Filho
e Espírito Santo — e por que issom nos separa essencialmente de toda
religião que rejeita o Verbo encarnado.
Não se trata de arrogância, mas de fidelidade.
✝️
“Todo aquele que nega o Filho, também não tem o Pai.” (1Jo 2,23)
Se você crê que Jesus Cristo é Deus, então é impossível
afirmar que judeus ou muçulmanos — que O negam — adorem o mesmo Deus.
Esse é o escândalo do cristianismo: não somos apenas uma
religião entre outras.
Somos a religião do Deus que tem um Filho — e isso muda
tudo.
Comentem com caridade. Mas não esperem relativismo.
Aqui, a verdade é dita com clareza — mesmo quando ela fere.