Lutadores de Silêncio
Na trincheira silenciosa da vida interior, onde o barulho do
mundo ecoa como um sussurro distante, estamos nós — soldados em oração,
guerreiros de joelhos. Não empunhamos espadas nem portamos escudos reluzentes.
A nossa batalha se trava no invisível, onde a alma sangra, onde a cruz pesa,
onde a vontade quer fugir, mas a graça insiste em permanecer.
Santa Teresa, essa mulher de fogo e céu, nos chama ao
combate. Mas não qualquer combate. É guerra de resistência, de fidelidade, de determinada
determinação, como ela mesma cunhou. Porque rezar, meu irmão, minha irmã,
não é tarefa de fracos. Rezar é ficar de pé diante do invisível, é amar sem
garantias, é se dobrar diante de um Mistério que nem sempre responde — mas que
nunca abandona.
Na vida de oração, cada lágrima é uma semente. Cada queda é
uma chance de levantar mais perto de Deus. E as virtudes, ah, essas senhoras
discretas! Elas crescem devagar, como plantas miúdas, exigindo o orvalho da
perseverança e o sol da graça. Quem ora de verdade vai mudando por dentro,
mesmo sem perceber — se torna mais paciente, mais humilde, mais forte, ainda
que siga tropeçando nas mesmas pedras.
Teresa nos lembra que, armados com a cruz, não há demônio que
nos vença. Ela fala como quem já viu o campo de batalha, como quem já lutou
corpo a corpo com a aridez, com o tédio, com o medo e com o orgulho disfarçado
de piedade. E venceu. Não porque era forte, mas porque não fugiu.
Por isso, não se trata de sentir — trata-se de não desistir.
A oração não é prêmio de santos; é alimento de soldados. E quem reza, mesmo com
sono, mesmo com secura, mesmo sem vontade, já está vencendo o inferno com cada
Ave-Maria murmurada no escuro.
Cristo é o Capitão. Teresa é companheira de armas. E nós,
tropeçando como sempre, seguimos. Porque entre espinhos há flores, e entre
cruzes há ressurreição.
Então, meu caro: não largue a arma da oração. Não ceda à
tentação de viver na superfície. Afunde no silêncio. Peleje com fé. Porque no
fim das contas, o céu é dos que não fogem da luta.
Sempre em frente. Sem medo. Porque o Reino é dos teimosos que
rezam.
Por seu Irmão Carmelita Secular da Antiga Observância B.