Entre os Canoeiros e os Cânticos, surgiu Pachamama

Na sala ampla, com o chão em ladrilhos e o silêncio de quem monta um altar, os vasos de plástico em roda fingiam ser sementes. Havia frutas, barcos, penas, cuias, bonecos, tecidos de muitas cores – e no centro, quase escondida sob um manto marrom, ela: a figura da Pachamama.

De relance, parecia só mais um artesanato indígena. Mas um olhar atento, doutrinariamente desperto, vê o que a distração dos tempos modernos prefere ignorar: a Pachamama não é apenas um símbolo cultural. Ela é uma deusa. E deuses pagãos não se assentam com Cristo à mesa.

Não se trata de xenofobia simbólica ou purismo estético, mas de fidelidade teológica. Pois há séculos a Igreja sangra por manter clara a linha que separa o que é tributo à criação e o que é culto à criatura. E ali, naquele círculo pseudo-litúrgico montado em nome da “inculturação”, essa linha foi apagada com pano de cetim.

Querem nos vender que é só arte, que é pedagogia visual para acolher o “grito da Amazônia”. Mas nós, que aprendemos a ver com os olhos dos santos, sabemos: quando o símbolo confunde mais do que ensina, deixa de ser catequese e vira disfarce de idolatria.

E o mais chocante – o mais doloroso! – é que, ao lado da Pachamama, estava também Ela. A Rainha. A Imaculada. Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Pequena imagem negra, coroada, colocada entre frutas, remos e enfeites, como se fosse apenas mais um símbolo entre outros.

Ah, meus irmãos... A Mãe do Verbo Encarnado, aquela que esmaga a cabeça da serpente, reduzida a enfeite sincrético! A Senhora do Brasil, ali colocada no mesmo chão da “mãe terra”, como se houvesse igualdade entre a Mãe de Deus e a mãe das colheitas. Não há. Nunca houve. Nunca haverá.

Aonde estamos indo?

Se é em nome da “Laudato Si” que introduzem figuras estranhas ao altar, estão forçando São Francisco a carregar uma mochila que não é dele. O pobrezinho de Assis amava a criação porque nela via reflexos do Criador – não porque achava Gaia ou Pachamama dignas de culto, oração ou reverência litúrgica.

O discurso de “integração” com os povos indígenas é justo, necessário e belo. Mas só se for Cristo o centro, não a fertilidade da terra nem o ciclo das estações. Quando a teologia se mistura demais com a etnografia, o risco é criar um híbrido sem fé nem cultura, um Frankenstein simbólico que nem evangeliza nem respeita de fato os povos originários.

Afinal, o que é mais digno para um indígena do coração da floresta? Ser acolhido na verdade do Evangelho ou ser mantido numa bolha folclórica, onde sua religiosidade é tratada como peça de museu e sua alma, esquecida?

O futuro começa com clareza

Essa crônica não é contra a Amazônia. É contra a confusão. Contra o verniz ecológico que escamoteia a falta de coragem para evangelizar. Contra o sentimentalismo que beija ídolos por medo de ofender culturas. Contra uma liturgia que, aos poucos, vai se tornando teatro performático onde Cristo é figurante.

E no meio de tudo isso, a imagem de Nossa Senhora Aparecida resiste. Silenciosa, mas real. Ela, que surgiu entre redes e pescadores no rio Paraíba, não precisa ser inculturada. Ela é o próprio milagre da encarnação do Evangelho neste chão. Negra como o povo, pequena como os pobres, gloriosa como o Céu. Não se mistura. Não se iguala. Não compartilha trono com deuses estranhos.

Talvez seja hora de fazer como os antigos profetas: rasgar as vestes, bater no peito e perguntar alto, sem vergonha:

“Senhor, que fizemos do teu culto santo? Como deixamos que a Senhora da Terra tomasse o lugar da Senhora do Céu?”


Fé não se negocia. Evangelho não se adapta a qualquer custo. Missão não é entretenimento. Inculturação sem doutrina é só camuflagem.

Que voltem os santos missionários e os mártires missionários. Que voltem os missionários de batina, que dão catequese, que estejam com o terço na mão, com o olhar fixo na crucificado.

E que Nossa Senhora Aparecida, Rainha do Brasil, nos cubra com seu manto, nos livre do engano da confusão religiosa e nos aponte, como sempre fez, para seu Filho: o único Senhor da história e da criação.

Cristo nos chamou para lançar as redes, não para decorar o barco.

Por seu Irmão Carmelita Secular da Antiga Observância B.


Nota aos apressados, engraçadinhos e comentaristas de rede social:

Calma, meu povo. Respirem fundo. Antes de você correr pros comentários com aquele “ain, mas é só uma expressão cultural”, ou “vocês estão exagerando, é só uma imagem”, deixa eu te lembrar de uma coisinha básica:

Deus não compartilha altar com ídolo, e Maria não divide palanque com deusa pagã. Ponto.

(E sim, isso ainda vale mesmo que você tenha aprendido teologia pelo X, o antigo Twitter.)
Não é xenofobia, é cristologia. Não é eurocentrismo, é dogma. 

Se você se ofendeu, talvez tenha confundido “Fé Católica” com “festival de diversidade espiritual”. Aqui é Igreja Católica Apostólica Romana, irmão. Um católico que ainda prefere a coroa de Maria à coroa de frutas da Pachamama.

Não é sobre desrespeitar cultura indígena. É sobre respeitar o Primeiro Mandamento.

Você que acha que a crítica é “colonialista” já caiu no truque da falsa dicotomia: ou a gente vira o Vaticano da Pachamama ou a Inquisição do século XXI. Aí não dá, né?

E antes que algum iluminado diga que “a imagem de Aparecida também foi sincretizada com Iemanjá, então tá tudo bem misturar com Pachamama”, um lembrete: um erro antigo não é justificativa pra repetir a bobagem com roupagem nova. Aprenda com a história, não passe pano pra ela.

Por fim: essa crônica não é ranço, é zelo. Não é intolerância, é amor à verdade.

Pode postar, pode printar, pode chiar. Só não pode redefinir a fé com base no feed.

Com carinho e coragem,

um católico que ainda prefere a coroa de Maria à coroa de frutas da Pachamama.