Castelos por dentro: onde Deus mora e espera
Há um castelo dentro de nós. Não feito de pedra nem de torres pontiagudas, mas de silêncio, de memória, de dores e esperanças. Um castelo invisível e ao mesmo tempo mais real do que tudo o que tocamos. Santa Teresa de Jesus, mulher forte como carvalho e terna como brisa de abril, nos desenha esse castelo com palavras que não envelhecem. Ela não fala a partir da teoria, mas das ruínas e reconstruções de sua própria alma. E ali, no mais íntimo de si, encontrou o Rei. Não num trono de ouro, mas num centro silencioso onde Deus habita e espera.
Eis o ponto: Deus não está longe. Está dentro. Mas
para encontrá-Lo é preciso descer — e não subir. Descer à verdade de quem
somos. Encarar nossas cavernas e fantasmas, nossos autos de fé e nossos
autoenganos. O caminho para dentro não é fácil. Há portas emperradas,
corredores escuros e salas cheias de espelhos partidos. Mas é lá que Ele está.
Santa Teresa não nos vende um caminho florido. Ela nos
mostra que orar é mais do que recitar. É suar. É sangrar o orgulho. É ter
amizade com o Senhor como quem cultiva um jardim: com paciência, esforço e mãos
na terra. A oração, diz ela, é a chave para o castelo. Mas uma chave não serve
de nada se não se gira a fechadura. E há fechaduras que só abrem com lágrimas e
fé.
O mais belo — e mais temido — nesse caminho interior é que
ele exige sinceridade. O autoconhecimento é uma ferida aberta, mas é também um
parto. Quem entra no castelo descobre que o amor não é sentimento, é decisão.
Que a santidade não é uma fuga do mundo, mas um jeito radical de estar nele:
amando, servindo, carregando cruzes, lavando pés.
Teresa, com sua genialidade espiritual, une Marta e Maria. A
contemplação se faz ação. A mística desemboca em obras. O castelo não é refúgio
de fuga, mas quartel de envio. Quem encontra Deus dentro de si, encontra força
para fora de si. Não para dominar, mas para amar como quem já foi amado. Amar
com gestos concretos, amar até doer, amar sem medida. E assim, o Reino vai
sendo construído nos escombros do nosso egoísmo.
Essa é a revolução de Teresa: formar amigos fortes de
Deus. Homens e mulheres que não se deixam enganar pela superficialidade,
que não vivem correndo atrás de aparências, mas que edificam castelos por
dentro. Castelos que, embora invisíveis aos olhos do mundo, sustentam o Céu na
terra.
E você? Já entrou no seu castelo hoje? Já teve coragem de
atravessar a porta da oração? Já ousou olhar Deus nos olhos — dentro de você
mesmo?
Porque o mundo precisa, mais do que nunca, de almas
habitadas. Castelos acesos. Homens e mulheres que fizeram do coração uma morada
para o Altíssimo.
Por seu Irmão Carmelita Secular da Antiga Observância B.
Descrição da imagem:
Vemos Santa Teresa de Jesus conduzindo com firmeza e ternura um jovem cavaleiro — imagem do cristão que inicia sua jornada espiritual rumo à união com Deus. Ela aponta com autoridade para o castelo dourado ao fundo, iluminado por uma luz celestial: é o Castillo Interior, morada da presença divina no mais profundo da alma.
O caminho, embora belo, é sinuoso e repleto de perigos: dragões, serpentes e roedores simbolizam as tentações, os medos e os vícios que tentam desviar o caminhante. Mas o jovem, armado com espada e escudo, representa a alma que, guiada pela oração e pela amizade dos santos, enfrenta os combates interiores com coragem.
Tudo na cena é alegoria: o castelo como meta, a estrada como processo de purificação, Teresa como mestra espiritual e o guerreiro como cada um de nós. É uma imagem que traduz em cor e forma o chamado à santidade interior, à luta pelo amor verdadeiro e à conquista do Reino que começa dentro de nós.