PARA VIVER UMA VIDA CONTEMPLATIVA



O VERDADEIRO CONHECIMENTO DE SI MESMO

Um texto para meditar

O único conhecimento de si mesmo, profundo e energizante, é aquele que nasce do confronto com Deus. Ao mesmo tempo que nos permite encontrar o verdadeiro espelho no qual nos olharmos e o modelo com o qual nos comparamos, esse conhecimento sempre nos comove e nos dá esperança.

É mais um paradoxo, como outros da nossa fé, mas quem quer conhecer-se realmente, quem quer avaliar a sua situação, deve antes de tudo olhar para Deus, deve comparar-se com Cristo. Essa é a intuição de Santo Agostinho: "se eu pudesse te conhecer, eu me conheceria", que se torna um programa e uma tarefa: conhecer a si mesmo, me conhecer... e descobrir o que devo ser. A contemplação de Cristo, valiosa por si mesma, sempre nos levará também ao conhecimento da nossa realidade (e da nossa diferença com Ele), e nos moverá à conversão na verdadeira direção: a nossa transformação n’Ele. Por isso não há transformação sem contemplação, não há conversão sem olhar atento a Cristo e a nós a partir do que Ele é.

Somente quando descobrimos qual é a nossa situação real diante de Deus é que começamos a nos conhecer: qual é o estado da minha relação com Deus para o que Cristo está me chamando? Qual é a minha vocação? Qual é a minha situação real em relação ao objetivo que Ele estabeleceu para mim? Qual é a minha situação diante do meu destino eterno? Qual é o julgamento final que Deus faria de mim neste momento, nesta situação em que me encontro?

Só a luz de Deus e o chamado que nos dirige permitem que nos conheçamos realmente, sem desculpas, sem acomodações ao ambiente. Então nossos olhos se abrem para nossas verdadeiras deficiências, falhas e doenças, Ele nos permite ver a distância entre o que somos e o que deveríamos ser. Automaticamente este conhecimento nos ajuda a encontrar os meios e o caminho para uma verdadeira conversão.

Curiosamente, esse conhecimento só tem uma condição: não é necessária uma inteligência especial, nem mesmo um conhecimento especial sobre Cristo, sobre sua palavra ou sobre a vida espiritual. A única condição para esse conhecimento é estar disposto a se deixar mudar (por isso essa primeira condição que vimos é tão importante). As melhores mentes, os melhores teólogos falham em se conhecer diante de Deus no exato momento em que não querem mudar. Ficam cegos para a luz que é Cristo, como os fariseus, porque não estão dispostos a mudar de vida. Portanto, um coração aberto a essa luz, que é capaz de expor seu pecado; a essa luz, que permite que essa luz lhe mostre a meta distante a que Deus o chama, é capaz de uma conversão espetacular, apesar de tantos pecados, falta de inteligência ou ignorância inicial de Cristo.

"O que quer?" (cf. Atos 22, 8.10). Sua perseguição a Cristo, sua ignorância de Jesus desmoronou diante da sinceridade de suas perguntas.

Não podemos dar um passo em nossa conversão sem essa vontade de mudança e sem esse conhecimento de nós mesmos por parte de Deus. Não é que se deva rezar muito para se converter, é preciso rezar para nos vermos, a nós mesmos, à luz de Cristo e da sua vontade para nós, para descobrir a mudança de que precisamos e acertar o caminho e a ajuda de que precisamos. Às vezes, infelizmente, temos que rezar muito, por causa dos nossos medos e justificativas, até aprendermos a rezar assim.

Não se trata de focar em nós mesmos, nem de alimentar qualquer tipo de curiosidade sobre nós mesmos. Este autoconhecimento de que falamos, de Deus, tem uma motivação precisa e uma meta concreta: por amor de Deus queremos transformar-nos no outro homem, no homem novo à imagem e semelhança de Cristo. É responder à vocação amorosa de Deus que nos chama a transformar-nos, que nos faz olhar para nós mesmos, mas no espelho que é Cristo, com a luz de Deus, e não nos recriar no que somos (nem lamentar, nem para nos justificarmos), mas como primeiro passo para sabermos o que temos de ser e como nos tornarmos.

Por um Religioso Secular

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