O Carmelo no presente e no futuro

O Carmelita não pode viver preso ao passado, deve viver o presente, visando com a sabedoria de Deus o futuro da Ordem. O carisma sempre será o mesmo, porém, vivido e transmitido por pessoas diferentes em variadas épocas e contextos.

Com mais de 800 anos de história e tradição, o Carmelo viveu e sobreviveu em meio às diversas situações e ameaças, tanto no Oriente (Monte Carmelo) como no Ocidente (Europa), ainda no início da Ordem.

Se hoje, em pleno século XXI, estamos presentes em todo o mundo, vivendo e levando a mística carmelitana, foi por coerência dos nossos antepassados que, em variadas épocas de nossa história como Ordem, souberam interpretar e viver a Regra. Talvez em muitos momentos tenham dito: “a necessidade não tem lei” (RC 12).

Como Carmelitas, somos homens e mulheres contemplativos. Vivemos a contemplação dentro e fora dos claustros, na sociedade e no meio dos irmãos. Como o profeta Eliseu, devemos ter consciência de nossa missão profética, preservando a nossa identidade do passado no presente e dando continuidade ao nosso carisma de dentro para fora, ou seja, dos claustros ao povo de Deus. Assim, nosso carisma jamais será vivido por si mesmo, como um valor episódico ou fato jornalístico, mas como uma norma permanente de vida, destinado, portanto, à plenitude da contemplação; pois, dessa maneira contemplar significará viver a amplitude da vida e agir a partir dela ­– eis a missão profética na fraternidade do Carmelo.

Atualmente, somos chamados a uma espiritualidade flexível e dinâmica, incorporada como contemplação profética no espírito da “igreja em saída”, destacada pelo Papa Francisco. Como disse nosso Senhor Jesus Cristo:

“Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura” (Marcos 16, 15)

Nesse sentido, os sinais dos tempos exigiram uma reorganização da Igreja, para que ela possa parecer melhor com a comunidade de filhos de Deus. Surgiu, por isso, o Concílio Vaticano II, para fazer ver a Igreja, portanto a nós, os religiosos consagrados, a necessidade de auxiliar a massa eclesial nas necessidades do povo, nos níveis humanos, sociais e espirituais. Na Constituição Pastoral “Gaudium et Spes”, um pequeno trecho diz:

“(…) Alguns, porém, esperam unicamente do esforço humano a verdadeira e plena libertação da humanidade, e estão persuadidos de que o futuro domínio do homem sobre a terra dará satisfação a todos os desejos do seu coração…” (GS 9-10)

Atualmente, o Carmelo vivencia essa realidade com o povo de Deus; não só através das diversas pastorais de nossas paróquias, mas também nos centros de espiritualidade, escolas e obras sociais. Se por esse lado o presente da Ordem é vivido assim, por outro lado é essencial também estarmos preparados nos sentidos: intelectuais, humanos e espirituais, três pilares fundamentais que todo religioso deve cultivar.

Viver o passado da Ordem e, ao mesmo tempo, pensar em seu futuro, só será possível através de novas vocações. Para isto é preciso um conjunto de estudos atualizados, estruturas renovadas das casas de formação, estudar a fundo e com seriedade tanto a formação religiosa, quanto a humana, base de qualquer ser humano, seja religioso ou não. Nos dias atuais, o lado humano da pessoa deve ser bem trabalhado: surgindo daí uma grande pergunta: como ser um bom cristão, se não se é um bom ser humano?

É fato, porém, que a Ordem do Carmo vem buscando novos canais de evangelização. Pode-se ver isto nas inúmeras oportunidades que seus membros têm em relação ao âmbito acadêmico. Devemos ser formadores de opinião! Precisamos do lado intelectual para falarmos com maior autoridade sobre os assuntos de hoje, sem esquecer o lado espiritual, cuja sublimidade fala do mais sábio de todos os homens de todos os tempos: Jesus Cristo.

Para o futuro e para o presente do Carmelo é igualmente de grande importância saber quem somos, nossa história, carisma, tradição, com a finalidade de continuar sendo Carmelo no mundo, seja qual for a época. Só se ama aquilo que se conhece diz a sabedoria filosófica. O futuro da Ordem depende de uma boa formação de seus candidatos, da edificação do futuro em cada um de nossos confrades, para que produzam bons frutos… sendo Deus o fim último dessas iniciativas. Sim, irmãos, devemos viver a fraternidade no meio do povo, porém, sem esquecer quem de fato somos e por quem somos enviados.

Ontem, hoje e amanhã, a vocação carmelita sempre será a mística da contemplação, cujo centro, além da Eucaristia é a contemplação, onde nos encontramos com Cristo. Frei Tito Brandsma, carmelita holandês do século passado, martirizado pelos nazistas na segunda guerra mundial em Dachau (Alemanha), assim se expressou a respeito: “É característico dos carmelitas a solidão e a contemplação, como a melhor parte de nossa vida espiritual, embora seja uma Ordem mendicante em meio ao povo”.

Devemos, pois, como discípulos escolhidos, saber que estamos no mundo, mas não somos para o mundo (João 15,19). Servimos a Deus nos irmãos com nossos trabalhos, estudos, pastorais e obras sociais, atentos às exigências da sociedade, porém fiéis à Igreja e principalmente a Deus. Por mais que busquemos os meios eficazes de evangelização, nada poderá impedir a nossa íntima união com o Senhor na oração e na contemplação, pois é deste modo que um autêntico carmelita busca sua missão profética.

Se somos de fato profetas, inspirados pelo profeta Elias, nosso inspirador e pai, somos então chamados a imitá-lo em nossa época, na busca de justiça para o nosso povo e como ele nos deixou Eliseu, deixar sucessores de olhar contemplativo, mirando o futuro.

Como conclusão, podemos dizer que o testemunho carmelita de Jesus Cristo, hoje, é a fraternidade vivida na sociedade. Procurar a glória de Deus em tudo e em todos, com a consciência de que o Carmelo não é uma instituição qualquer, cuja finalidade seja tão somente a de formar homens para a vida como tal (como por exemplo, uma ONG); mas cujos vocacionados são Igreja, ou seja, membros do Corpo Místico de Cristo, cuja missão vai muito além.

E por tudo o que foi dito, a espiritualidade carmelita não fica limitada ao que de melhor fazemos, mas assume toda e qualquer missão que nos seja confiada, assim como ensina nossa Mãe, a Mãe do Salvador:

“Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra (Lucas 1, 38)”.

Eis a missão do Carmelo de hoje e do amanhã!

 Frei Marlom Francis S. Moreira, O.Carm.
Promotor Vocacional

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