O valor da vocação

A fidelidade à própria vocação é o único caminho seguro para alcançar a verdadeira felicidade
Nos campos de concentração nazistas, onde o ser humano era
reduzido a uma existência deplorável, Viktor Frankl descobriu algo importante:
o homem, quando possui uma razão para sua vida, é capaz de suportar as piores
dores e humilhações. Isso explica o porquê de tantas pessoas, mesmo sob
difíceis condições, entregarem-se a uma vocação, cujos resultados nem sempre
são o dinheiro ou o prazer, mas a chacota e a incompreensão da sociedade.
Quem se dedica a uma vocação — seja ao sacerdócio ou à vida
religiosa, seja ao matrimônio ou ao celibato laical —, dedica-se a um chamado
interior. Não se trata de uma escolha arbitrária, pautada em interesses
econômicos ou sentimentais. É, antes, uma entrega total, uma resposta ao
projeto de Deus para aquele indivíduo. Por isso, no exercício de sua vocação,
ele não procurará tanto o sucesso pessoal — embora isso também possa existir —,
mas a perfeita realização de seu chamado.
O mundo moderno, marcado por uma mentalidade particularmente
materialista, já não crê na vocação e, por esse motivo, escandaliza-se quando
um jovem recém-formado ou uma bela moça decidem abandonar tudo (família,
emprego, namoro etc.) para viverem o sacerdócio ou a vida religiosa. Inúmeros
seminaristas, ao revelarem sua vocação para outras pessoas, tiveram de ouvir
estas perguntas: "Você é assexuado?", "vai apenas estudar e
depois sair, né?", "não gosta de trabalhar?". Na verdade, o que
se esconde por detrás dessas questões é a indignação de quem não consegue
buscar outra coisa, a não ser dinheiro e prazer. Não se concebe que alguém,
sobretudo um jovem, possa renunciar ao sexo e ao bem-estar econômico por um
projeto que, na concepção neopagã, já não tem espaço dentro da civilização. É
justamente o que Bento XVI explicava aos sacerdotes, durante o Ano-Sacerdotal:
"O celibato é um grande escândalo, porque mostra precisamente que Deus é
considerado e vivido como realidade" [1].
O mesmo vale para o matrimônio quando vivenciado segundo o
projeto originário de Deus, isto é, homem, mulher e filhos. Notem: quantos
casais desejam, hoje, gerar muitos filhos, ter relações abertas à vida, lutar
contra o fim da lei do divórcio e outras distorções perniciosas do casamento?
Uma família numerosa gera tanto escândalo quanto um jovem celibatário, porque
apesar de viverem suas vocações em diferentes estados, expressam uma única e
verdadeira adesão vocacional. Ambos deram um "sim" definitivo,
entregando-se de todo coração ao projeto de Deus. O casal, na fidelidade e
vivência indissolúvel do matrimônio; o seminarista, no amor casto e, ao mesmo
tempo, fecundo pela Igreja e Nosso Senhor Jesus Cristo. Por esta razão, ensina
o Catecismo da Igreja Católica, matrimônio e ordem são dois sacramentos de
missão [2]. Importa, em primeiro lugar, salvar as almas dos que estão ao nosso
lado do que alcançar a própria satisfação.
E é nesta doação incondicional de si mesmo que se revela e
se experimenta a graça vocacional. "Porque aquele que quiser salvar a sua
vida, perdê-la-á; mas aquele que tiver sacrificado a sua vida por minha causa,
recobrá-la-á" ( Mt 16, 25). Dinheiro e prazer, os dois
grandes bezerros de ouro de todas as épocas, são incapazes de trazer a
felicidade plena. Ao contrário, aquele que se deixa levar por suas seduções,
torna-se um escravo. Escravo das dívidas, das trapaças, da prostituição,
escravo do pecado e da corrupção. É como naquele diálogo entre Jesus e a
samaritana sobre a água do poço: "Todo aquele que beber desta água tornará
a ter sede" (Jo 4, 13). A pessoa que vive sua vocação, porém,
encontra a face de Cristo em todas as circunstâncias, mesmo que venha a padecer
sofrimentos, "dores de cabeças", perseguições e desprezo — "Mas
o que beber da água que eu lhe der jamais terá sede".
O Concílio Vaticano II, meditando sobre "as alegrias e
as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos
pobres e de todos aqueles que sofrem" [3], foi firme ao afirmar que
"todos na Igreja, quer pertençam à Hierarquia quer por ela sejam pastoreados,
são chamados à santidade" [4]. Trata-se de um chamado universal. A
santidade é, prestem atenção, o horizonte para o qual todos devemos caminhar. É
a nossa verdadeira vocação. Neste sentido, é urgente uma redescoberta do valor
vocacional, a fim de que todos experimentem dessa água que o próprio Cristo tem
a oferecer-nos: "Mas a água que eu lhe der virá a ser nele fonte de água,
que jorrará até a vida eterna" ( Jo 4, 14). Maria é o
melhor modelo de confiança no projeto divino, dizendo o seu fiat.
Diante das provações do mundo, é preciso coragem para
assumir o chamado de Deus. Meditemos sempre nesta exortação de um santo que
muito pregou sobre vocação: "Por que não te entregas a Deus de uma vez...,
de verdade..., agora!?" [5].
Referências
- Bento XVI, Vigília por ocasião do Encontro Internacional de Sacerdotes (10 de junho de 2010).
- Catecismo da Igreja Católica, n. 1534.
- Concílio Vaticano II, Constituição Pastoral Gaudium et spes (7 de dezembro de 1965), n. 1.
- Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática Lumen Gentium, n. 39.
- São Josemaria Escrivá, Caminho, n. 902.
Por Equipe Christo Nihil Praeponere