A radicalização de Bento XVI


“Desde que comecei a vê-lo (o Papa Francisco) em ação, ficou evidente para mim – além do que poderia parecer à primeira vista, ou seja, que ele constituía uma ruptura em relação a Bento XVI, de tão diferentes que são em temperamento e história – que todo o magistério de Francisco representa uma radicalização do de Bento XVI. Francisco levou a termo uma série de intuições do Papa Ratzinger, e graças à sua maneira de se colocar tornou-as acessíveis a todos. No Papa Francisco há o desejo de responder à nova situação que se veio a criar e que ele chama de “mudança de época”. As pessoas simples compreendem muito bem a mensagem dele: com efeito, a modalidade de sua presença, seus gestos e suas palavras imediatamente encontram eco nas necessidades e nas feridas do homem contemporâneo. Essa capacidade de sintonizar-se com o homem, de dialogar com o coração do homem ferido, também caracteriza a alma de Bento. Mas, por sua índole pastoral, por seu temperamento, por sua personalidade de fé, o Papa Bergoglio consegue testemunhar o rosto da misericórdia com uma simplicidade, com um imediatismo, com um abraço ao outro que atinge na hora as pessoas mais diferentes e mais simples ao mesmo tempo. O Papa Francisco representa uma graça para a Igreja no mundo de hoje. A única questão é se nós aceitamos a provocação de seu testemunho, para aprendermos, com seu modo de se colocar, a serem testemunhas como ele. É evidente que um homem não pode fazer tudo ou ir a toda parte: então ele realiza um gesto como o de ir a Lampedusa ou a Lesbos, indicando-nos com isso que é preciso sair, que é preciso abraçar o outro, testemunhando a fé com os mesmos gestos de Jesus. Mas para tudo isso tornar-se nosso, patrimônio de todos, cumpre que a Igreja, ou seja, todos nós sigamos e favoreçamos o testemunho do papa, imitando-o e aplicando as consequências disso na nossa vida. Por isso permito-me dizer: deixemo-nos tocar e provocar por ele!”.

de Julian Carron, “Onde está Deus?”