São Paulo VI e a sua devoção à Santa Teresa do Menino Jesus



“Nasci para a Igreja no dia em que a santa nasceu para o céu”. (Paulo VI)

Durante uma visita ad limina do bispo de Sées, a diocese na qual nasceu Teresa do Menino Jesus, Paulo VI (1963-1978) disse: “Nasci para a Igreja no dia em que a santa nasceu para o céu. Isso lhe mostra que especial vínculo me liga a ela. Minha mãe fez com que eu conhecesse Santa Teresa do Menino Jesus que ela tanto amava. Já li várias vezes a Histoire d’une âme, a primeira vez na minha juventude”. Já em 1938 escrevia às monjas do Carmelo de Lisieux, confessando “acompanhar há muitos anos com grande interesse os progressos do Carmelo de Lisieux” e acrescentava “sou um grande devoto de Santa Teresa, da qual conservo uma pequena relíquia na minha escrivaninha”.

Estas menções seriam suficientes para demonstrar o significado da profunda ligação entre Paulo VI e a pequena Teresa. O Papa interveio várias vezes para falar sobre a figura e sobre a doutrina da pequena santa de Lisieux. Em 1973, por ocasião do centenário do nascimento da santa, escreveu uma carta a Dom Badré, então bispo de Bayeux e Lisieux, condensando em poucas páginas o seu pensamento sobre Teresa. O realismo e a humildade são os dois conceitos mais evidenciados por Paulo VI a propósito de Teresa: “Teresa do Menino Jesus e da Santa Face ensina a não contar com nós mesmos, tanto se tratando de virtude como de limite, mas com o amor misericordioso de Cristo, que é maior do que o nosso coração e nos associa à oferta da sua paixão e ao dinamismo da sua vida”. 

A propósito da vida de Teresa que aceitou o limite humano e cultural do claustro, ela ensina segundo Paulo VI, que “a inserção realista na comunidade cristã, onde se é chamado a viver o instante presente, parece-nos uma graça sumamente desejável para o nosso tempo”. Teresa viveu o seu caminho pessoal de santidade dentro de um ambiente cheio de limites. Todavia, “para começar a agir ela não esperou um modo de vida ideal, um ambiente de convivência mais perfeito; digamos que, ao invés, ela contribuiu para mudá-lo a partir de dentro. A humildade é o espaço do amor. A sua busca do Absoluto e a transcendência da sua caridade permitiram-lhe vencer os obstáculos ou mesmo transfigurar os seus limites”.

Paulo VI já tinha sublinhado o tema da humildade em Teresa em uma audiência de 29 de dezembro de 1971: “Humildade tão mais obrigatória quanto mais a criatura é alguma coisa, porque tudo depende de Deus, e porque o confronto entre qualquer medida nossa e o Infinito obriga a curvar a fronte”. Em Teresa esta humildade não está separada de uma “infância cheia de confiança e de abandono”.

Em um discurso de 16 de fevereiro de 1964 na paróquia de São Pio X, o Papa evidenciava com clareza o quanto Santa Teresa do Menino Jesus tinha praticado e ensinado com relação à confiança que devemos ter na bondade de Deus, abandonando-nos plenamente à sua Providência misericordiosa: “Um escritor moderno muito conhecido conclui um livro seu afirmando: tudo é graça. Mas de quem é esta frase? Não do escritor citado, porque ele tirou-a – e diz isso – de outra fonte. É de Santa Teresa do Menino Jesus. Colocou-a em uma página dos seus diários: ‘Tout est grâce’. Tudo pode se resolver em graça. De resto a santa carmelita repetia sempre uma esplêndida palavra de São Paulo: ‘Diligentibus Deum omnia cooperantur in bonum’. Toda a nossa vida pode se resolver no bem, se amamos o Senhor. E é isso que o Pastor Supremo espera dos que o ouvem”.

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