Queridos irmãos e irmãs, meu amado rebanho em Cristo,
Estamos testemunhando eventos sem precedentes no nosso país e em todo o mundo. O vírus-novela COVID-19 amedrontou milhões de pessoas pelo mundo todo. Em resposta à crise de saúde, muitos países apresentaram várias medidas a fim de controlar a propagação do COVID-19. Muitas dessas medidas, porém, são tão irracionais e tirânicas que violam tanto a lei do homem quanto os nossos direitos dados por Deus inalienáveis.
Algumas dessas medidas draconianas restringem a liberdade de circulação, a liberdade de reunião, a liberdade de ir e adorar na igreja e a liberdade de se ter empresas abertas, e em muitos países as crianças que “mostram sintomas de COVID-19” são tomadas dos pais e levadas para quarentena sem a permissão dos pais. Em outras palavras: o remédio se tornou mais mortal que a própria doença.
É óbvio que há muitas pessoas poderosas no mundo que estão explorando essa crise a fim de estabelecer o controle global da população mundial absoluto e completo, destruindo a economia mundial, apagando a história e reiniciando todos os aspectos da vida humana em um “novo normal”, o qual, é claro, não será para o benefício da humanidade, mas somente para o ganho pessoal delas.
Infelizmente, a real crise de saúde está sendo politizada, especialmente neste país, em antecipação das eleições presidenciais em novembro. Temos sido submetidos ao bombardeio implacável de informações horripilantes a respeito da taxa de mortalidade todos os dias, 24 horas por dia, 7 dias por semana. Parece que não havia morte e mortalidade antes do COVID-19! Ninguém está divulgando a taxa de sobrevivência ou taxa de recuperação, que é 99,96%. O alarmismo sistemático do movimento socialista militante (MSM) pode ser facilmente classificado como terrorismo psicológico! Não surpreende que a nação inteira está consumida pela histeria do COVID.
Há muitas declarações e recomendações contraditórias dadas por muitos profissionais da saúde, que apenas levam a mais confusão e novas divisões. Uma das maiores controvérsias é usar uma máscara em lugares públicos. Esse tópico é um assunto de grande debate por profissionais da saúde e consultores legais. Como muitos de vocês já sabem, no dia 13 de agosto o Conselho da Cidade e a Prefeita de Omaha (Nebraska) passaram um Decreto de Emergência (um “decreto de máscara facial”) para todos os locais públicos, incluindo locais de culto. O Decreto prevê numerosas exceções ao uso de máscara, como em um bar ou restaurante, mas uma máscara é necessária numa igreja a menos que a pessoa esteja socialmente distanciada a 2 metros de outras (exceto as “domésticas”). O uso de “domésticas” do Decreto não faz sentido. Por exemplo, um filho adulto que não vive mais com os pais, mesmo se forem à igreja juntos ele precisará ou ficar a dois metros de distância do pai e da mãe ou usar uma máscara.
Não sou cientista e não lançarei os prós e os contras científicos nesse tópico. Deixarei essa discussão para os que têm muito mais conhecimento. Porém, como um sacerdote ortodoxo, como um pai espiritual do meu rebanho e, finalmente, como um amante da liberdade e um cidadão que respeita a lei, é meu dever lhes orientar nessa questão a partir de uma perspectiva ortodoxa.
Apesar do Decreto de Emergência de Omaha ser sem sentido e irracional, de acordo com o Governador Pete Rickets e o procurador-geral de Nebraska, está além da autoridade da cidade de Omaha sob sua carta emitir esse decreto. Tanto a Constituição dos Estados Unidos quanto a de Nebraska resguardam o livre exercício da religião. No epicentro disso está a liberdade de culto nas nossas igrejas. Na minha opinião, sob a lei de Deus e as Constituições dos Estados Unidos e de Nebraska, qualquer regulamentação que seja pelas autoridades civis — sejam federais, estaduais ou locais — que regulamentem ou limitem o culto nas nossas igrejas é ilegal e não-vinculativa. E, o que é mais importante, cobrir a face é contra as nossas crenças cristãs ortodoxas.
Imagine você dando a mais chique festa de Ação de Graças para seus parentes e amigos, onde todos são servidos com a melhor comida, usando os seus utensílios e talheres mais caros. Porém, um convidado trouxe o próprio prato, talheres e guardanapo com medo de que você não lhe desse utensílios limpos. Essa demonstração de dúvida na frente dos outros convidados certamente te ofenderia e te constrangeria, e provavelmente você não convidaria aquela pessoa para a sua casa de novo.
Quando vamos à igreja para participar da Divina Liturgia, vamos à Casa de Deus, para participar da Ceia do Senhor que Ele nos dá toda vez com tanta gratuidade. E a palavra grega “Eucaristia” significa literalmente “ação de graças”. Uma vez que cruzamos o limiar da igreja, saímos do mundo e do profano e entramos em outra realidade: no mundo da santidade. Uma vez que ouvimos as palavras “Bendito seja o Reino do Pai e do Filho e do Espírito Santo…”, não estamos mais em Omaha, Chicago ou Nova Iorque, mas estamos na Jerusalém Celestial — na presença do Deus Vivo, na Ceia de Seu Filho Unigênito e na Comunhão do Espírito Santo. O nosso Deus Amoroso nos convidou ao banquete, e se chegarmos à Sua Ceia com medo de que Ele nos infectará com qualquer tipo de doença, e o demonstrarmos usando uma máscara, iremos insultá-Lo perante todos, como aquele convidado germofóbico te insultou na frente dos seus parentes e amigos no jantar de Ação de Graças.
Quando vamos à igreja, somos chamados e comparecer diante de Deus face a face, como “o Senhor falou com Moisés face a face” (Ex 33:11). Depois que Moisés falou com Deus sua face passou a resplandecer, e não foi fácil para as pessoas olhar para o brilho dele. Por isso Moisés usava um véu sobre a face quando falava com as pessoas. “Mas quando Moisés ia para diante do Senhor para falar com Ele, tirava o véu até que saísse” (Ex 34:34).
Essa frase “face a face” é usada com muita frequência nas Sagradas Escrituras e sempre significou franqueza, sinceridade, confiança e aceitação. Ainda hoje quando falamos sobre um encontro importante, decisivo, dizemos: “Nos encontraremos face a face”.
Ao contrário, na Escritura, esconder a face sempre significa vergonha, desconfiança, posição desfavorável, divisão e separação. É por isso que o Profeta Davi nos Salmos clama a Deus para que não esconda dele a Sua face:
“Quando Tu disseste: ‘Buscai a minha face’, meu coração disse a Ti: ‘Tua face, Senhor, buscarei’. Não escondas a Tua face de mim; não rejeites o teu servo com ira” (Sl 27, 9)
“Ouve a minha oração, Senhor, e chegue a Ti o meu clamor. Não escondas a Tua face de mim no dia da angústia” (Sl 102, 1-2).
Quando o Profeta Isaías exorta Israel por causa de sua iniquidade, diz: “Vossas iniquidades fazem separação entre vós e Deus, e vossos pecados escondem a Sua face de vós” (Is 59, 2).
A ênfase na face na Escritura é sempre uma ênfase na personalidade. A nossa face é a característica mais importante da nossa pessoa — de quem nós somos. Somos reconhecidos pela nossa face diante de Deus e diante das pessoas. Somos criados à imagem de Deus e essa imagem deve permanecer inalterada para sermos quem somos. Quando cobrimos a nossa face, somos apenas mais um na multidão (do rebanho submisso) e perdemos a nossa personalidade, o que está em contradição direta com a imagem de Deus à qual fomos criados.
Usar uma máscara compromete gravemente a nossa habilidade de nos comunicarmos com as outras pessoas. A Psicologia diz que as nossas palavras representam apenas 7% da mensagem geral na nossa comunicação face-a-face, o tom de voz 33%, enquanto as expressões faciais e a linguagem corporal representam imensos 55%.
Hoje em dia, através do uso excessivo dos “smartphones” a qualidade do nosso relacionamento com os nossos amados já é roubada, e agora sem apertos de mão, sem encostar e cobrindo a face (o que leva o devido nome sinistro de “distanciamento social”), nos transformaremos em zumbis ambulantes, desprovidos da nossa humanidade. Isso inevitavelmente terá conseqüências negativas graves para a nossa saúde mental e não ajudará a restaurar as pontes na nossa sociedade dividida.
É por isso que o escritor Charles Burris está correto ao observar que as pessoas que sucumbem a essa nova religião do COVID vêem nas outras pessoas uma ameaça — principalmente as que estão aparentemente saudáveis (assintomáticas), evitam as pessoas, e as que se recusam a ser desumanizadas e usar a burca de estilo ocidental no rosto são vistas como hereges perigosos que precisam ser removidos da sociedade ou “queimados na estaca”.
O COVID-19 e a sua “onipresença” tem, de muitas formas, substituído Deus e transformado a nossa sociedade numa Sharia Secular. Essa ligação entre o Islã e os decretos de máscara seculares é assim explicada:
“2.300 anos atrás, muito antes do Islã, os árabes descobriram que forçar as pessoas a cobrir o nariz e a boca quebrava a vontade e a individualidade delas e as despersonalizava. Deixava-as submissas. É por isso que impuseram sobre todas as mulheres o uso obrigatório de um pano no rosto. Depois o Islã o transformou no símbolo da submissão da mulher a Allah, o homem dono do Harém, e o Rei. A psicologia moderna explica: sem uma face não existimos como seres independentes. A criança olha no espelho entre os dois e três anos de idade e se descobre como um ser independente. A máscara é o começo de apagar a individualidade. Aquele que não conhece a sua história está condenado a repeti-la.”
Queridos irmãos e irmãs, nós acabamos de celebrar recentemente a Transfiguração do Senhor, a qual nos ensina que um homem pode ser o comunicante e o receptor das energias divinas incriadas. Um sacerdote é um homem fraco, inclinado a falhas como qualquer outro ser humano. Porém, um sacerdote durante a Divina Liturgia ou em qualquer outro rito sacramental está revestido da graça do sacerdócio e se torna o comunicante das energias divinas incriadas e as transmite através do sacerdócio, não através de sua própria santidade. O Sto. Vladika Nicolau diz: “A eletricidade é transmitida mesmo através do fio enferrujado”.
É claro, se o sacerdote leva uma vida santa, ele tem o dobro da graça. Contudo, quando beijamos a mão de um padre, tornamo-nos comungantes das energias divinas incriadas e recebemos a graça divina à medida da nossa piedade e fé. São Paísios, o Atonita, costumava dizer que o sacerdote que está servindo durante a Divina Liturgia “não tem suas próprias mãos”. Assim, se cremos que o sacerdote pode nos passar uma doença, negamos então a graça do sacerdócio e negamos a graça divina que está sobre ele.
Quando rejeitamos as energias divinas incriadas por meio dos nossos atos de dúvida (usando uma máscara na igreja), negamos Deus e criamos um outro — um falso deus. O mesmo se aplica ao templo de Deus (a igreja). Se duvidamos que há graça divina na igreja, rebaixamo-la então a um mero auditório ou um centro comunitário.
Tudo isso nos leva à pergunta derradeira: acreditamos em Deus? Se acreditamos, que tipo de Deus é Ele? É Ele um Deus criado pela nossa mente a quem reconhecemos ter tanto poder quanto determina a nossa mente? Provavelmente nós nem percebemos que por não entender esse problema (de má vontade) nós blasfemamos contra o Espírito Santo. Somos infectados por um pensamento herético, embora confessemos formalmente a nossa Ortodoxia. Blasfemamos contra o Espírito Santo, e receio que se persistirmos nisso isso não nos será perdoado, segundo as palavras de Cristo: “Mas aquele que blasfemar contra o Espírito Santo nunca tem o perdão, mas é sujeito à condenação eterna” (Mc 3, 29).
Quando temos medo de venerar os santos ícones, venerar a mão de um sacerdote, ou, o pior de tudo, de receber a Santa Comunhão na mesma colher, rejeitamos o poder salvífico e santificante da graça do Espírito Santo. Acreditamos que o Espírito Santo é capaz de, de algum modo, de nos transmitir algo ruim ou impuro, o que é a maior blasfêmia.
O nosso Senhor Jesus Cristo nos garantiu que o nosso Pai Celestial tem tudo sob Seu controle e que nada pode acontecer conosco sem a Sua vontade ou conhecimento:
“Não se vendem dois pardais por uma moeda de cobre? E nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai. Os próprios cabelos da vossa cabeça estão contados. Não temais, pois; mais valeis vós que muitos pardais” (Mt 10, 29-31).
Quase toda litania na Igreja Ortodoxa acaba com esta petição: “Ampara-nos, salva-nos, tem piedade de nós e guarda-nos, ó Deus, pela Tua graça”. Se ainda temos medo de sermos infectados na igreja depois de dizer isso, estamos o negando completamente. Eu sempre me perguntei por que o nosso Salvador disse aquelas palavras: “Mas quando vier o Filho do Homem, achará fé na terra?” (Mt 18, 8). Mas agora vejo que isso não é de modo nenhum um exagero. Milhões de cristãos se renderam ao “novo normal” sem nenhuma luta e demonstram pelo seu comportamento a sua desolação espiritual e lealdade à nova religião do COVID.
E o que é mais triste: muitos dos nossos pastores espirituais — os bispos — têm seguido cegamente as ordens inconstitucionais das autoridades do Estado e fechado igrejas para os crentes, alegando, assim, que ir à igreja e participar dos Santos Sacramentos é “não-essencial”. Que vergonha! Eles não escaparão da justa ira de Deus.
O ensino da Igreja é claro. Não devemos “abandonar a nossa congregação” (Hb 10, 25). O cânone ortodoxo da lei (da igreja) diz que não podemos faltar a mais do que três liturgias de domingo sem uma boa razão (como uma enfermidade severa), e eu como sacerdote sou obrigado a servir a liturgia regularmente e ministrar os sacramentos para os fiéis em dia.
Conheço muitas paróquias ortodoxas aqui e lá fora que se curvaram às medidas sanitárias guiadas pelo COVID-19 e às quarentenas das autoridades civis, mas algumas poucas não se curvaram. Durante o COVID-19 algumas paróquias fecharam completamente, algumas tiveram apenas serviços virtuais “transmitidos ao vivo”, ou exigiram máscaras, distanciamento social, luvas, proibiram que se beijasse ícones, cruzes e afins. Aqueles que assim o fizeram, obedeceram a lei do homem quando entrou em conflito com a lei de Deus (At 4, 19; At 5, 29). Pior ainda são as paróquias que impuseram medidas excedem as das autoridades civis. Nos dois mil anos de história da Igreja Ortodoxa podemos ter tido nosso culto reduzido ou fechado pelas autoridades civis, mas nunca fizemos isso a nós mesmos, nem em tempos de peste.
“Todo aquele, pois, que me confessar diante dos homens, ele confessarei também diante do meu Pai que está nos céus. Mas todo aquele que me negar diante dos homens, ele também negarei diante do meu Pai que está nos céus.” (Mt 10, 32-33)
Na minha opinião, ao comparecermos à igreja fielmente e não nos submetermos às máscaras e outras medidas sanitárias guiadas pelo COVID-19 estamos confessando Cristo, mas ao ficarmos longe da igreja sem uma boa razão ou ao usarmos máscaras na igreja estamos negando a soberania de Deus.
São Paulo nos avisa que nos últimos dias haverá aqueles que “mantêm a forma da religião mas negam-lhe o poder” (2Tm 3, 5), e colocam acima de Cristo a “chamada ciência” (1Tm 6, 20). Embora Cristo tenha nos avisado a não nos arriscarmos desnecessariamente tentando Deus (Mt 4, 7), comparecer fielmente à igreja sem máscaras não é tentar Deus (como fazer uma corrida de arrancada numa rua pública movimentada). É, antes, testemunhar a Providência de Deus seguindo os Seus mandamentos e deixando o destino de cada um de nós em Suas mãos amorosas. Então esperaremos com confiança o nosso Senhor nos dizer um dia: “Fizeste bem, servo bom e fiel” (Mt 25, 23).
Confessemos com as ações aquilo que confessamos com a boca, e creiamos que a Graça Divina existe em nossas igrejas, em nossos ícones e em nossos sacerdotes. A nossa participação nessa graça depende da nossa fé. O quanto cremos é o quanto recebemos. Porém, a existência dessa graça não depende da nossa fé. Deus, “Aquele que era, que é e que há de vir” existirá mesmo se não crermos n’Ele. Encontremo-nos FACE A FACE com Ele toda vez que formos à igreja.
Em Cristo,
Fonte: Russian Faith
Tradução: Fernando Xavier
0 comments