Chega a ser impressionante como Bento XVI, sem dizer uma
única palavra, já cansado, ancião, em cadeira de rodas, consegue ofuscar o seu
sucessor! A viagem do pontífice à Alemanha foi um acontecimento retumbante e
provou, mais uma vez, que o pontificado de Francisco não passa de um artificial
fenômeno de mídia.
Bento resolveu sair de casa e visitar seu irmão de 96 anos.
Queria despedir-se e dar-lhe os sacramentos. Em plena crise da pandemia, sem
máscara nem luvas, aquele que enfrentou de peito aberto os piores teólogos do
século XX, não temeu enfrentar o vírus chinês: foi e pronto!
Embora a razão da viagem tenha sido manifesta desde o
início, não faltaram especulações interessantes. O próprio site
ultra-bergogliano Vatican Insider chegou
a reverberar em manchete uma notícia de um jornal alemão que sustentou
a hipótese de que “Ratzinger poderia não voltar para Roma”. Curioso…
O Vatican Insider tem suficientes fontes —
seu outrora editor, Andrea Tornielli, hoje chefia o editorial do Dicastério
para a Comunicação do Vaticano — para não precisar dar um tiro no escuro,
para não fazer um mero chute jornalístico. Desde o início, aliás,
o próprio porta-voz da Santa Sé dizia meio misteriosamente que Bento XVI
“ficaria lá o tempo necessário”.
É um fato notório, porém, que a saída de Bento causou
impacto e chamou muito a atenção. As pessoas queriam vê-lo, desejavam estar com
o Santo Padre, tinham um desejo devoto de saudar o Papa. E talvez o seu
discreto aparecimento tenha incomodado mais do que o previsto…
Para um papa como Francisco, que gosta de chamar a atenção,
que telefona para jornalistas oferecendo-se para ser entrevistado, que ama
jogar frases de efeito para ser reverberado pela imprensa, ser eclipsado por
aquele que Meirelles em sua ficção “Os dois papas” apresentou
como um papa antipático deve ser realmente uma tortura. Mas, seria uma tamanha
vaidade a ponto de fazer um idoso ir e voltar de outro país, em menos de uma
semana, em meio a uma pandemia?
No final das contas, sofrer o antagonismo de Ratzinger seria
um golpe duro para Francisco e, por isso, parece ser bastante interessante
manter um predecessor controlado, silencioso, devidamente trancado em seu
mosteirinho, aquela pequenina Baviera vaticana em que ele resolveu sepultar-se
vivo. É mais conveniente garantir o silêncio de Bento que permitir-lhe falar,
ainda que aos sussurros, que deixar-lhe articular-se, ainda que mansamente.
O estrondo do livro de Bento XVI-Sarah em defesa do celibato
foi enorme e adiou a agenda da ordenação dos viri probati. E tudo
sob aquela velha diplomacia vaticana, em que olhares e sorrisos têm o peso de
um touché. Imaginem o que seria Ratzinger livre…
Francisco disse certa vez que o “Papa emérito” é uma
instituição. Isso quer dizer que, no fundo, o “experimento Bento” está sendo
muito útil para que vejam o quanto pode ser incômodo conviver com um
predecessor resignatário e, pior ainda, o quanto pode ser ruim ser este
predecessor.
No fundo, a resposta para a questão que todos temos na
cabeça – Bento XVI voltou porque quis ou porque foi forçado, digamos, pelas
circunstâncias… – nos será dada pelo próprio Francisco daqui a alguns anos:
terá ele coragem de renunciar ao pontificado e enfrentar o ostracismo da
emeritude? Beberá ele do cálice que fizeram beber Ratzinger? Quem viver, verá!
Por FratresInUnum.com
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