Fátima, Baal, o monte Carmelo e o escapulário marrom
O Rosário não foi o único instrumento que Nossa Senhora
recomendou aos três pastorinhos de Fátima. Ao se despedir deles, em 13 de
outubro de 1917, ela também apareceu como Virgem do Carmo, trazendo em sua mão
direita o escapulário marrom.
No dia 13 de outubro de 1917, a Virgem Maria apareceu em
Fátima e disse: “Eu sou a Senhora do Rosário”, e instruiu as crianças videntes
mais uma vez a “rezarem o Rosário todos os dias”. Além da devoção dos
cinco primeiros sábados, essa é uma das grandes mensagens de Fátima. Há,
porém, uma devoção associada com Fátima que parece ser menos conhecida:
a do escapulário marrom.
Nessa última aparição, Lúcia viu Maria e Nosso Senhor ao
longo de todos os mistérios do Rosário: ela primeiro os viu como parte dos mistérios
gozosos; depois, dos dolorosos; e, finalmente, dos gloriosos. Especificamente
na última visão destes, Maria foi vista como Rainha do Céu e da terra
sob a forma de Nossa Senhora do Carmo, com o escapulário marrom na mão
direita. De acordo com o padre carmelita Howard Rafferty, numa entrevista de 15
de agosto de 1950, a Irmã Lúcia afirmaria mais tarde o seguinte: “O Rosário
e o escapulário marrom são inseparáveis. Não é possível ter um sem o outro”.
O escapulário é parte integrante da mensagem original. Assim como a Virgem
Maria pede a cada um de nós que reze o Rosário todos os dias, ela também quer,
de acordo com a Irmã Lúcia, que usemos o escapulário marrom. É por isso que
apareceu com ele em mãos, como se estivesse nos pedindo que o tomássemos e vestíssemos.
O que é o escapulário marrom? Até pouco tempo atrás, eu
(talvez como você) sabia relativamente pouco a respeito. Ele se inspira no
hábito dos monges carmelitas, dois panos de lã marrom usados sobre os ombros
para cobrir a parte da frente e as costas. O escapulário marrom é uma miniatura
desse traje. É um sacramental da Igreja. “Escapulário” deriva de “escápula”,
osso das costas localizado na parte de trás do tórax que é coberta pela
vestimenta. Os monges carmelitas usam a peça marrom como uma espécie de
manta, ideia surgida entre eles por volta dos séculos XIII e XIV no monte
Carmelo, em Israel. Segundo a tradição, Maria deu o escapulário marrom pela
primeira a vez a São Simão Stock.
Os carmelitas foram a primeira Ordem
consagrada à Virgem Maria. Por isso, ocupam um
lugar especial no Coração dela. Moldam sua vida pela vida de Nossa Senhora, e
assim com ela “conservava todas essas palavras, meditando-as no seu coração” (Lc 2,
19), também os carmelitas contemplam as coisas celestes e se consagram à Virgem
Maria. Portanto, o manto carmelita é sinônimo de consagração ao
Imaculado Coração. O escapulário marrom é a versão em miniatura dessa veste
carmelita para o mundo secular. A veste grande marrom que cobre o corpo no
mundo ascético se reduz, no mundo leigo, a dois pedacinhos de tecido presos por
cordões. Trata-se da mesma espiritualidade carmelita e devoção mariana,
ampliada para o leigo comum que vive no rebuliço da vida ordinária.
O manto carmelita é sinônimo de
consagração ao Imaculado Coração.
A ideia do manto carmelita remonta ao manto de Elias no
Antigo Testamento. O profeta Elias desafiou os falsos profetas de Baal no monte
Carmelo. Baal era o deus demoníaco dos cananeus, cuja religião exigia adoração
idolátrica, cultos orgiásticos com prostitutas no templo e até oferendas com
sacrifícios de crianças. A religião dos cananeus, em outras palavras, era uma
mistura depravada de idolatria, imoralidade sexual e sacrifícios
humanos. No monte Carmelo, Elias desafiou 450 sacerdotes de Baal a
comprovar qual “deus” consumiria com fogo uma oferenda, numa espécie de disputa
litúrgica. Baal, é claro, não respondeu, e os falsos profetas emudeceram.
Elias, por outro lado, invocou o Deus de Abraão, Isaac e Jacó, e uma chama
vinda do céu consumiu a oferenda. Elias, graças a Javé, derrotou Baal e
os falsos profetas. Esse é o legado do monte Carmelo.
Mais tarde, Elias dividiu o rio Jordão ao tocar as águas com
seu manto (cf. 2Rs 2, 8), reencenando a divisão das águas do
Jordão por Josué e do mar Vermelho por Moisés. Trata-se de uma prefiguração do
Batismo. Naquele momento, Elias foi levado ao Céu — ligando a noção de Batismo
ao Céu. Portanto, a veste marrom, que é o hábito dos monges
carmelitas, é por extensão uma reminiscência do manto de Elias no monte
Carmelo.
Nos tempos modernos, combatemos o mesmo tipo de falsos
profetas de Baal que Elias combateu há muito tempo no monte Carmelo. A
influência mundana do modernismo tenta nos impor várias formas de idolatria,
particularmente o dinheiro, o poder, o materialismo e o politicamente correto
radical. A imoralidade sexual também é desenfreada em nossa sociedade. Até o
sacrifício de bebês tornou-se “direito comum”, com o aborto quase irrestrito
sob demanda. Baal e seu culto estão bem vivos na civilização ocidental.
Mesmo assim, como na época bíblica no monte Carmelo, Deus
vem derrotar Baal novamente. Sob a Nova Aliança do Evangelho, Deus
esmaga a cabeça de Baal por meio da Virgem Maria. À luz disso, Nossa
Senhora do Carmo pede que abracemos essa devoção e consagração especiais ao seu
Imaculado Coração por meio do uso do escapulário marrom.
Conhecemos as condições essenciais da promessa de Fátima:
récita diária do Rosário, confissão e comunhão frequentes, sacrifícios
espirituais e a devoção de reparação ao Imaculado Coração de Maria nos cinco
primeiros sábados. No entanto, Maria também apareceu em Fátima como
Nossa Senhora do Carmo, oferecendo-nos o escapulário marrom. Por meio de
uma simples cerimônia de imposição feita por um sacerdote ou um diácono,
podemos consagrar o nosso escapulário marrom e procurar viver essa consagração
todos os dias. Ele deve ser muito importante, já que Maria fez questão de
apresentá-lo ao mundo outra vez de um modo tão objetivo e dramático como em
Fátima.
Aqui há também um
vínculo com Nossa Senhora de Lourdes, já que a última aparição a Santa
Bernadette ocorreu na festa de Nossa Senhora do Carmo, dia 16 de julho. É muito
fácil usar o escapulário marrom, e é algo que requer pouco esforço. No
entanto, o seu uso é uma forte afirmação e um sinal tangível da nossa
consagração ao Imaculado Coração de Maria. É uma insígnia de nosso desejo
de viver uma vida santa todos os dias sob o manto de sua guia e proteção.
Por Brian Kranick
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